Certa vez, uma inteligência superior advertiu que insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Deitada a premissa, é possível afirmar que o Brasil não deixa de ser um manicômio político. Nosso enredo é sabido e ressabido: após alguns anos de crescimentos episódicos, a economia mergulha em um vale de instabilidade recessiva, inflação, contas públicas estouradas e câmbio descontrolado. Sim, a ordem dos fatores não altera o produto, pois o resultado é invariavelmente o mesmo: um povo ludibriado por uma classe política sem vergonha na cara e alheia aos ditames de responsabilidade na gestão pública.
Infelizmente, estamos vendo mais um capítulo da tragicomédia brasileira.
Após liberar fortunas em emendas parlamentares em sua luta por permanecer no poder, o ilustre presidente da República apresentou a fatura, brindando a sociedade brasileira com um expressivo aumento tributário de repercussão direta no custo do combustível. O efeito cascata será explosivo, tendo, por exemplo, imediata ressonância no valor do transporte público, o que poderá iniciar todo um ciclo de pressão inflacionária. Mas, segundo o otimista olhar presidencial, “a população brasileira irá compreender” a malsinada majoração fiscal.
SACRIFICAR O AJUSTE FISCAL… POR INTERESSE PESSOAL?
Vamos lá, senhor presidente, sejamos sinceros: a população brasileira não entende e não entenderá. O motivo é simples: não há mais espaço para o aumento de tributos. Não adianta recorrer à retórica vazia; palavras ao vento não justificam o injustificável. Ora, por melhor que seja a lábia presidencial, ela não consegue transformar o quadrado no redondo nem tornar o triângulo num retângulo. Aliás, antes de falar, o presidente deveria fazer o que é certo.
Por que, então, em vez de ferrar os contribuintes, o governo não enxugou a máquina pública, cortou ministérios e seus generosos cabides de emprego? Por que o governo não demitiu funcionários ineficientes e mandou para casa este bando de chupins, fantasiados em cargos de confiança? Por que faltam recursos na segurança, escolas e hospitais públicos, mas jamais para emendas parlamentares casuísticas ou oportunistas? Por que, senhor presidente?
Enquanto as respostas não chegam, exsurge no horizonte uma única conclusão: o aumento de impostos é o preço da incompetência governamental.
VÍTOR WILHER: “AUMENTAR CARGA TRIBUTÁRIA PODE SER ‘TIRO NO PÉ'”
Não há outra explicação. Uma sociedade que aceita ser governada por impostores está condenada a pagar uma conta crescente. Enquanto a ganância governamental fizer da lei tributária um instrumento de açoite ao contribuinte, a chamada “justiça fiscal” será um sonho constitucional distante. A história tem a sua ironia, pois, em uma época democrática, estamos a viver os tons de um autêntico despotismo presidencial. Tão déspota que resolve majorar tributos por decreto, enaltecendo as piores lembranças autoritárias.
Um povo acomodado e omisso está condenado a ser governado por canalhas abusados. É hora de abandonarmos a letargia que nos imobiliza e ir atrás do Brasil que sonhamos. É o agir decidido e determinado de uma sociedade civil vibrante e combativa que colocará a política brasileira em um patamar mínimo de decência e responsabilidade. Quando o povo quer, os palácios tremem. Sempre foi assim, e assim, sempre será.
Fonte: “Estado de Minas”, 02/08/2017
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