A cada minuto que passa, as eleições de 2018 estão mais presentes nos cálculos de nossos políticos. O mesmo deve se dar no âmbito da Operação Lava Jato, cujos propósitos extrajudiciais são inequívocos. Entre os mais esclarecidos, poucos têm dúvidas de que os objetivos da força-tarefa vão muito além da punição de criminosos.
Atos e declarações visam a limpar práticas inaceitáveis do mundo político. Assim, caminhamos para um grande conflito em 2018, cujos limites vão além da disputa eleitoral. O que vai estar em jogo em 2018? Basicamente, duas concepções de política. A política de sempre, contaminada por relações espúrias entre governo, sindicatos, burocracia e empresariado; e a política voltada para a cidadania, sem corrupção e clientelismo, com resultados positivos na administração pública e eficiência nos gastos.
Do lado conservador estão quase todos os partidos, independentemente da coloração ideológica, pois, no raso, mesmo com discursos diferentes, quase todos foram mais do que iguais na prática de malfeitos. Até mesmo os partidos que posam de radicais de direita e de esquerda não passam de representantes do que há de mais arcaico no pensamento humano. Assim, a rigor, Bolsonaro e o PSOL transitam no mesmo paradoxo.
O novíssimo ainda não se expressou. Nossa intelligentsia, afinal de contas, não é tão inteligente assim. Adora uma “boca” estatal e verbas públicas. Não consegue produzir o novo. Ainda aguardamos um Dom Sebastião que possa encarnar as esperanças do novo. Em algum momento do futuro próximo, podemos assistir a multidões indo à casa do juiz Sergio Moro para implorar que ele se candidate a presidente.
Para o bem e para o mal, Moro é o limite do nosso novo. O que, cá entre nós, comprova que estamos desidratados em matéria de criatividade. Como Moro candidato é uma incerteza — ele enfrentaria muitas dificuldades pelas barreiras que os partidos tradicionais impõem às novas práticas —, o novo ainda não se apresentou.
Em que pese parte da mídia que deseja criar uma primavera árabe tupiniquim, nada acontece. Isso me lembra a situação vivida por Carlos Lacerda, narrada no magistral livro de Rodrigo Lacerda (“República das abelhas”). Desejoso de fazer uma greve de fome para protestar por sua prisão durante o regime militar, Carlos comunicou sua intenção ao irmão, Sergio Lacerda. Ele respondeu dizendo que não o fizesse, afinal estava fazendo um lindo dia e ia dar praia no fim de semana. Ninguém ia ligar para sua greve de fome e para o inútil protesto.
Parece que, mesmo as pesquisas de opinião apontando o desejo pelo novo e pela renovação, o “vai dar praia” no fim de semana paralisa as intenções. Continuaremos a ser um país de muitas iniciativas e poucas “acabativas”?
Fonte: “Isto é”, 04/08/2017.
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