Eleição no Brasil agora, só com ficha limpa. Já organização de Copa do Mundo no país, só com ficha suja. O que cheirar bem demais fica fora.
A exclusão do Morumbi, um dos estádios mais importantes da história do futebol mundial, da Copa de 2014 deixa uma certeza: o futebol será só um detalhe dessa grande negociata.
Vamos explicar de um jeito simples, para não cansar a beleza do leitor: o principal critério para habilitação de estádios à Copa é o tamanho do derrame de dinheiro.
Senão, vejamos: o Maracanã passou no vestibular da FIFA com um projeto de quase 800 milhões de reais em obras. É o caso de repetir, para não parecer erro de digitação: o traje do Maracanã para a grande festa custará quase 800 milhões de reais – ou seja, o suficiente para botá-lo abaixo e construir um novo. Vem aí o Maracanã 2.
Faz todo o sentido, num país que não agüenta mais dar dinheiro para pobre de barriga cheia.
O projeto do Morumbi previu investimentos de “apenas” 260 milhões de reais, e foi ceifado. Em seu lugar, pela bagatela de 600 milhões de reais, projeta-se a construção da Arena de Pirituba.
Uma Copa do Mundo no Brasil com a Arena de Pirituba em lugar do Morumbi terá, realmente, um impacto histórico, esportivo e cultural sem precedentes.
O próximo passo pode ser barrar Pelé na festa de 2014. É um símbolo antiquado, que nunca mais fez um gol, e que não aceitará entrar em obras – que por uns poucos milhões poderiam deixá-lo com a fachada de um Josué, ou de um Felipe Mello, enfim, muito mais moderno.
Não se sabe ao certo por que o Brasil assiste a essa trampolinagem calado. Talvez seja o efeito Dunga, com sua lei do silêncio contagiosa. Júlio César, o maior goleiro do mundo, chega a uma entrevista coletiva dizendo que, por ele, nem falava com jornalistas: “Mas manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Nessa pátria de chuteiras em lugar do cérebro, de Pirituba em lugar do Morumbi, em se plantando negociatas tudo dá – menos juízo e vergonha na cara.
Publicado no blog de Guilherme Fiuza
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