Violência na cidade é um dos motivos para a queda na procura
O aprofundamento da crise econômica do Rio de Janeiro já impacta as duas principais festas do calendário carioca. As reservas na hotelaria para este réveillon e o carnaval 2018 estão 50% abaixo do registrado em igual período de 2016. Para o Ano Novo, a ocupação média dos hotéis está em 37%, com um pico de 43% na noite da virada, segundo dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ). Esse retrato é resultado do choque entre a expansão do número de quartos na cidade, que dobrou para 62 mil para atender à Copa do Mundo e à Olimpíada, e a recessão. No pacote de adversidades que ajudam a derrubar o turismo estão a falta de um calendário de eventos, a crise no setor de óleo e gás, a fraca promoção do destino no Brasil e no exterior, além da violência urbana, apontam profissionais do setor.
— A situação do Estado do Rio e do país piorou muito desde a Olimpíada. E não houve divulgação alguma da cidade após o evento. A segurança pesa, claro. Mas a percepção hoje é pior que a realidade. O grande esforço que estamos buscando é porque tivemos um enorme legado com a Olimpíada, que colocou o Rio em exposição lá fora. Vamos perder isso — argumenta Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ.
A baixa procura pelas grandes datas festivas da cidade na hotelaria foi discutida em reunião realizada na última quarta-feira com a Riotur, com participação da ABIH-RJ e de empresários do turismo. Mesmo considerando a expansão da oferta de quartos, a taxa de ocupação dos hotéis vem encolhendo ano a ano. Despencou de 79% em média em 2011 para 58% no ano passado. Na Barra da Tijuca, endereço do Parque Olímpico e do maior crescimento hoteleiro, a taxa ficou em 43%, com meses em que baixou a 30%.
NA BARRA, HOTÉIS COM 3% DE OCUPAÇÃO
Com a superoferta, há hotéis na Barra que amargam taxas de ocupação de 3%. Na Região Portuária, para reduzir os custos, o Novotel está recebendo os hóspedes do Ibis, que fica ao lado e mantém os 255 quartos vazios. Ambos foram erguidos para a Olimpíada. Outros registram perdas de receita que ultrapassam a casa de R$ 2 milhões ao mês, dizem fontes de mercado. Em abril, último dado disponível, não se chegou a 50% de aproveitamento nos hotéis do Rio, ante 64% em janeiro e 58% em fevereiro, meses tradicionalmente de alta temporada, com verão e carnaval.
Lopes explica que a crise fez com que o maior número de visitantes seja de brasileiros. Como os turistas nacionais costumam planejar suas viagens com pouca antecedência, ele espera que a procura pelo réveillon e carnaval fique perto da registrada nas festas passadas. Na virada para 2017 e no último carnaval, os hotéis cariocas tiveram 78% de ocupação.
— Existem hotéis na Barra com 70% de reserva para essas datas e, em Copacabana, com 90%. Essa baixa intenção, quando as datas chegarem, não vai se confirmar — afirma Lopes.
O presidente da ABIH-RJ acredita que no carnaval 2018 haverá uma fatia de 20% de estrangeiros entre os turistas que ocuparão os hotéis da cidade nos dias de folia, ante uma média de até 40% anteriormente. Lopes credita essa mudança às poucas ações para promover o Rio e o Brasil no exterior. A Embratur, responsável pela promoção de campanhas internacionais para a atração de turistas estrangeiros ao país, reconhece que o contingenciamento de recursos determinado pelo governo federal impede o trabalho. O orçamento da autarquia para este ano está bloqueado.
— A Embratur tem US$ 15 milhões para ações promocionais de divulgação do Brasil e de seus destinos no exterior, mas esse valor não está liberado. Em 2011, a verba disponível representava US$ 110 milhões, que é o valor investido atualmente pela Colômbia — explica Vinicius Lummertz, presidente da Embratur.
Lummertz defende, também, a importância de um projeto em discussão no Congresso para transformar a Embratur em agência, com recursos independentes. Se aprovado, diz, haverá melhora na disponibilidade orçamentária:
— Teremos força para enfrentar Argentina, Chile e Colômbia, que crescem mais que a gente. O México gasta US$ 400 milhões por ano em imagem internacional.
O plano de divulgação do Brasil no exterior para este segundo semestre só será executado se o orçamento de 2017 for liberado.
— Se não for, o ano está acabado. O Rio tem que parar de pensar a curto prazo. Precisamos de mudanças radicais de caráter permanente. Uma campanha só não funciona.
Nas contas de Cristina Fritsch, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens do Rio (Abav-Rio), a situação é ainda mais grave. Segundo ela, a procura por pacotes para réveillon e carnaval neste momento equivale a pouco mais de um terço do volume de igual período do último ano.
— O Rio vem sofrendo com a crise fiscal, a recessão e os efeitos da crise política. Falta encarar o turismo como uma indústria de grande força econômica, geradora de emprego e renda. Se o carnaval de 2017 movimentou R$ 3 bilhões, como afirma a Riotur, a prefeitura não está se comunicando com seus órgãos e secretarias. Ou não anunciaria um corte R$ 26 milhões em recursos para o carnaval — argumenta.
De acordo com levantamento do Sindicato dos Hotéis do Município do Rio de Janeiro, houve arrecadação de R$ 130 milhões em ISS (Imposto Sobre Serviços) com a hotelaria em 2016 — o equivalente a 2,4% da arrecadação total da cidade com o imposto no ano —, alta de R$ 5 milhões na receita em relação ao ano anterior. Hoje, o setor ocupa a sexta posição em geração de ISS para o município.
EVENTOS E PROMOÇÕES CONTRA A CRISE
O Rio concentra 857 estabelecimentos de hospedagem. São 269 hotéis, 63 flats ou apart-hotéis e 98 motéis. Há, também, 42 pousadas, 126 pensões, 99 albergues e 160 estabelecimentos de outros tipos. Para contornar a baixa ocupação, a rede hoteleira concentra esforços em uma robusta oferta de eventos como festas na cobertura, shows, gastronomia e ações promocionais, como clubes de benefícios e descontos. Os hotéis da Barra da Tijuca se vestem como destino de fim de semana para quem mora em outras regiões da cidade, com tarifas reduzidas.
A baixa ocupação derrubou o valor das diárias, o que, sob a ótica do segmento de eventos, pode ser um gatilho para melhorar resultados.
— Mesmo com todos os problemas, o Rio é o cartão-postal do Brasil. Tem hotelaria de qualidade, preços atraentes e boas conexões aéreas. É chamariz para eventos — pondera Gervásio Tanabe, diretor da Associação Brasileira de Viagens Corporativas (Abracorp).
Os novos hotéis, principalmente os inaugurados na Barra, contam com espaços para congressos e convenções, destaca Lopes. Ele cita ainda festivais como o Rock in Rio, que será realizado em setembro, como esperança do setor.
— Nos hotéis da Barra e do entorno do Parque Olímpico, a ocupação para os dois fins de semana de Rock in Rio já alcança 85%. Acredito que chegará perto de 90% — diz o presidente da ABIH-RJ.
O Ministério do Turismo participa de um grupo de trabalho, em parceria com outras pastas, como Cultura e Esporte, para estruturar um calendário de eventos para atrair mais turistas à cidade. O réveillon será o marco inicial do projeto Rio de Janeiro a Janeiro, com aproximadamente 150 eventos previstos para acontecer até dezembro de 2018.
Fonte: “O Globo”
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