O fechamento de uma das fábricas da L’Oréal Brasil do Rio de Janeiro — anunciado nesta semana pela empresa — é um dos sintomas do esvaziamento econômico do estado, que ficou menos atraente à iniciativa privada no ano passado. Segundo um ranking de competitividade produzido pela Tendências Consultoria, a nota do Rio caiu 14,3% na passagem entre 2015 e 2016, para 57,6 pontos em uma escala que vai de 0 a 100. O tombo é mais que o dobro do desempenho da média dos estados brasileiros, que caiu 6,3% no mesmo período.
O desempenho fez com que o Rio ficasse estagnado na oitava posição da lista, atrás de todos os estados vizinhos. São Paulo (1º), Espírito Santo (6º) e Minas Gerais (7º) aparecem como locais mais interessantes para investir, aponta o levantamento. O Rio sofreu quedas em indicadores como infraestrutura, potencial de mercado e solidez fiscal – alguns dos aspectos usados para compor o índice.
Na avaliação de especialistas, o Rio foi mais penalizado pela recessão, principalmente por fatores como a crise da Petrobras e a queda da arrecadação de royalties.
— (A saída da L’Oréal) É mais um sintoma. O Rio vem de uma trajetória de decadência de décadas. A partir de 2007 e 2008 melhorou, deu uma aproximada da média nacional, algumas empresas vieram para cá, mas não se teve a bonança que alguns falaram. O estado entrou nessa crise a partir de 2015 em uma situação muito mais frágil (do que o restante do país). É um conjunto de problemas, que gera um enorme ciclo vicioso — afirma o economista Mauro Osório, especialista em economia fluminense.
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), acrescenta que o esvaziamento é reflexo de fatores como má gestão dos governantes, obras superfaturadas e a própria crise do Brasil, que afetou setores importantes, como a construção civil.
— Houve uma série de obras nos últimos anos que foram superfaturadas, fruto de corrupção. Deixou-se que os valores pagos fossem muito maiores. Além disso, a atual situação do Brasil atingiu a construção civil, afetando a moradia de uma forma bárbara. Isso traz reflexo na economia e uma carga emocional negativa, de decepção, ao nosso estado.
Em 2015, segundo a Firjan, 738 indústrias encerraram suas operações no estado, um tombo ante a abertura de 1.032 um ano antes. Eduardo Eugênio lembra que o Rio foi muito afetado pela paralisia no setor de petróleo:
— O governo Dilma adiou os leilões de petróleo, e as empresas fornecedoras do setor tiveram um hiato. Ao mesmo tempo, houve piora específica, fruto da má gestão do Estado, que acarretou em uma crise para os funcionários públicos.
A crise mais intensa vivida pelo estado tem feito o Rio destoar da tendência de recuperação gradual do mercado de trabalho, observada no resto do país. Segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados semana passada pelo IBGE, a taxa de desemprego do estado subiu para 15,6% no segundo trimestre. Ao lado de Pernambuco, foi o único estado em que o indicador registrou alta.
Fonte: “O Globo”.
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