Depois de uma temporada de crises e fatos inéditos para a história do país, 2018 se aproxima com a promessa de, por ser um ano eleitoral, tornar-se um ponto de virada para a maneira como se faz política no Brasil.
Faltando apenas um ano para esse momento crucial, ainda há uma série de pontos em aberto que podem definir os rumos da nação — a começar pelos nomes que irão participar das eleições e do próprio destino do governo de Michel Temer.
Segundo especialistas consultados por EXAME, alguns dos eixos que devem dar o tom das disputas políticas e da economia em 2018 já estão traçados. Nesta segunda-feira, as expectativas para o próximo ano irão nortear os debates do EXAME Fórum, que acontece em São Paulo. A edição deste ano do evento é parte das comemorações dos 50 anos da revista EXAME.
Como aperitivo, apresentamos aqui algumas das tendências que devem modelar a vida política e econômica do Brasil em 2018.
Eleições 2018: AS TAXAS DE REJEIÇÃO
Líder nas pesquisas de intenção de voto até agora, mas com sérias pendências na Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva termina, nesta semana, sua pré-campanha pelo Nordeste sem ter certeza se será ou não candidato em 2018. Entre os analistas políticos, há quem veja isso como o principal ponto de atenção para a disputa presidencial do próximo ano.
O economista Eduardo Gianetti da Fonseca faz parte desse grupo. Durante o último Encontro EXAME de CEOs, no início de agosto, ele afirmou que, se Lula for candidato à presidência, a tendência é de uma disputa polarizada entre esquerda e direita — a exemplo do que aconteceu nas eleições de 2014. Sem Lula, o que deve acontecer, na visão dele, é uma campanha pulverizada, mais parecida com a de 1989.
No entanto, para Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria Eurasia, o futuro jurídico de Lula é o que menos importa — já que, na opinião dele, a condenação em segunda instância do ex-presidente é quase certa. De acordo com o especialista, o fator que será decisivo para o tom da corrida eleitoral de 2018 é a elevada taxa de rejeição que pesa não só contra o petista, mas contra praticamente toda a classe política.
“O grande marco nessas eleições vai ser uma raiva profunda do eleitorado contra a classe política. O grau de revolta contra o establishment no Brasil está mais alto do que estava antes da eleição do Donald Trump nos Estados Unidos ou do referendo do Brexit no Reino Unido”, afirma Garman a EXAME.
Com isso, na visão do diretor da Eurasia, “a grande variável não é se o Lula vai concorrer, mas é quem vai sair candidato pelo PSDB e se o Brasil vai ter uma candidatura reformista com roupagem anti-establishment ou não”.
Isso significa que poderemos presenciar no Brasil um fenômeno de renovação semelhante à eleição de Emannuel Macron e seu partido na França? Para Ricardo Sennes, sócio-diretor da consultoria Prospectiva e colunista do site EXAME, a resposta é não.
“O Brasil não tem espaço, clima, tempo, estrutura ou dinâmica para uma renovação total a la Macron. Teremos uma renovação dos nomes, mas não necessariamente do perfil”, diz o especialista, que estará presente nesta segunda-feira no EXAME Fórum.
O teor da reforma política em curso hoje no Congresso pode agravar essa tendência caso seja aprovado, por exemplo, o sistema eleitoral conhecido como distritão — que, segundo especialistas, tende a favorecer a reeleição de candidatos que já estão no poder ou de celebridades, dificultando a renovação do Congresso.
Futuro de Temer: A COESÃO DA BASE
Outro ponto de atenção para o próximo ano (que deve impactar as eleições e a economia) é se Michel Temer vai terminar seu mandato em dezembro de 2018. Os movimentos da base aliada são cruciais para avaliar isso.
Desde que chegou ao comando do Palácio do Planalto há um ano, o peemedebista tenta manter a coesão de sua base parlamentar no topo de suas prioridades estratégicas.
No último 2 de agosto, data da votação da primeira denúncia contra ele na Câmara dos Deputados, o esforço surtiu efeito (apesar do elevado custo). E, exceto se houver alguma mudança drástica nos fatos, a tendência é que o resultado se repita no caso de nova denúncia contra Temer.
“Esse é um governo parlamentar, o que significa que o governo está no mesmo barco que o Congresso. É um equilíbrio muito fino e a economia é o fiel dessa balança”, afirma Wagner Parente, diretor superintendente da Barral M Jorge. “Só denúncias mais graves poderiam desestabilizar esse equilíbrio”.
Garman, da Eurasia, lembra que a proibição da doação empresarial para campanhas políticas torna os parlamentares mais dependentes dos recursos e cargos oferecidos pelo Planalto. “Essa é uma arma do Executivo para poder tocar parte de sua agenda”, diz.
Economia: ESTRUTURA E REFORMAS
Depois da pior recessão em décadas, os últimos indicadores econômicos mostram indícios de uma recuperação: o PIB teve sua segunda alta trimestral consecutiva; o desemprego diminuiu; a inflação está abaixo da meta; os juros estão baixos para o padrão brasileiro – com a Selic em 9,25%.
Mesmo assim, as incertezas sobre a aprovação das reformas econômicas são um ponto sensível no radar dos analistas para as próximas eleições.
“Se não fizermos as reformas, o impacto vai deixar os mercados muito preocupados com a velocidade e o tamanho da dívida pública. Esse mau humor de hoje deve arrefecer se o Brasil retomar o caminho da normalidade”, afirma Luiz Felipe D’Ávila, presidente do Centro de Liderança Pública.
André Perfeito, da Gradual Investimentos, vê com ceticismo a aposta do mercado de que as reformas serão aprovadas. “O problema do Brasil não é econômico. É político”, diz. Para ele, a definição de quem levará as eleições é fundamental para a continuidade das mudanças estruturais para a economia.
Até o segundo semestre do ano que vem, quando começa a corrida eleitoral, a expectativa de Parente, da Barral M Jorge, é de que a retomada da economia siga estável desde que três fatores não se alterem: a liquidez internacional, o nível das reservas monetárias do país e a permanência de Henrique Meirelles no comando do Ministério da Fazenda.
Quanto às reformas, a expectativa de Garman, da Eurasia, é que o Congresso aprove até o fim do mandato do Temer, no máximo, uma reforma da Previdência “mais aguada” — o que deve legar para o governo eleito em 2018 a necessidade de fazer a maior parte do ajustes a partir de 2019.
Daí vem a necessidade de uma candidatura reformista com credenciais anti-establishment. “Se não tivermos isso, a eleição vai gerar solavancos na forma de expectativas perante agentes do mercado”, diz Garman.
Fonte: “Exame”
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