A economia brasileira saiu da recessão e deve se estabilizar nos próximos anos, com um crescimento em torno de 3% ao ano, avalia o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria. Há, contudo, um risco para que esse cenário se concretize: a política. Apesar de a delação da JBS ter enfraquecido o governo do presidente Michel Temer, o cenário mais provável, segundo o economista, é de que ele conclua o mandato. Portanto, o maior risco político é saber para quem ele irá passar a faixa presidencial.
“Ainda não se achou esse ator principal. A gente não consegue ver essa peça no cenário eleitoral hoje”, diz. Apesar da incerteza, a Tendências considera como cenário mais provável a eleição de um candidato de centro-direita que mantenha o compromisso com a responsabilidade fiscal e com a política econômica atual.
“Acreditamos que o próximo presidente conseguirá transitar no presidencialismo de coalizão que temos, assim como Temer conseguia no início de seu mandato, e que seja capaz de agregar maiorias significativas no Congresso”, afirma Loyola. A maior probabilidade não é a eleição de um outsider, diz, sem citar nomes.
A Tendências, afirma o economista, acredita ser improvável a eleição de um candidato de esquerda, mas reconhece o risco de uma “dispersão excessiva” dos votos de centro-direita. “Com isso, há um risco de irem para o segundo turno um candidato de esquerda e um de extrema direita”.
Outra questão chave na eleição do ano que vem é a presença ou não do ex-presidente Lula. “Se ele estiver na eleição, estará no segundo turno. Se ele não se candidatar, a eleição fica mais aberta e difícil de prever”, diz Loyola. O mais provável porém, na análise dele, é que Lula “não reúna condições jurídicas para se candidatar”.
Apesar de ver como mais provável o cenário da eleição de um candidato de centro-direita — o que traria, segundo Loyola, maior estabilidade à economia brasileira — ele afirma que se a percepção do mercado, ao longo do processo eleitoral, for a de que o resultado será diferente, 2018 pode ser um ano de grande volatilidade do dólar, o que “traz dificuldades na gestão macroeconômica, investimento menor e PIB menor”.
A Tendências projeta um crescimento de 0,7% na economia brasileira em 2017. A agropecuária deve crescer 12%, a indústria, 0,1%, e o setor de serviços, 0,2%. Em 2018, a expectativa é de crescimento de 2,8% do PIB — 3% na agropecuária, 3,4% na indústria e 2,3% em serviços.
Esse cenário, explicou Loyola, tem muito a ver também com a conjuntura internacional. A economia global, projeta a Tendências, deve voltar a crescer em torno de 3,5%, um avanço sobre os patamares vistos desde a crise de 2008, apesar de ainda estar muito abaixo dos níveis anteriores. “A vantagem é que é homogênea a distribuição do crescimento entre as principais economias globais, ainda que as desenvolvidas estejam crescendo menos do que China e Índia”.
Ainda no cenário internacional, uma vantagem para a economia brasileira é que não há expectativas de que os bancos centrais façam alguma mudança abrupta na política monetária.
Além disso, apesar da desaceleração do crescimento da China, o PIB do país asiático deve ter alta em torno de 6% — “importante para evitar a queda de preço das commodities, o que seria negativo para o Brasil”, diz Loyola. Ele ressaltou também a mudança na composição do PIB chinês, com maior peso para o consumo das famílias, o que sinaliza um maior consumo de proteína animal per capita, o que, novamente, favorece o Brasil. “Estamos tendo sorte de que a crise política acontece em um contexto de liquidez e pouca aversão ao risco”, afirma.
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