A ascensão de partidos de direita ao redor do mundo deixou perplexa parte da imprensa, que abriu fogo contra a vertente ideológica. Estes movimentos surgiram basicamente como uma reação ao predomínio da esquerda por décadas em diversos países. Assim, estes grupos que chegam ao poder embalados por esta onda eleitoral, tendem a gerar aos poucos, mudanças sensíveis nas políticas públicas e no modo de agir dos governos.
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Entretanto, identificada com a esquerda, grande parte da mídia entende que vivemos um período de pós-modernidade, onde podem existir linhas diferentes de apenas um viés político. Surge neste momento a perplexidade com o movimento mostrado pelo eleitorado, que insiste em apostar em candidatos de direita, mesmo com forte oposição dos meios de comunicação.
Esta realidade deixa evidente que a estratégia da direita passa ao largo dos modelos de comunicação tradicionais. O uso das redes sociais, podcasts, vídeos e sites tem sido fundamental para alavancar agendas e mobilizar o eleitorado, que tem respondido de forma positiva nas urnas. Este movimento estratégico, que começou a ser usado na Europa e Estados Unidos, acabou chegando ao Brasil e em breve mostrará seu resultado.
A nova direita ainda está se definindo, mas encontramos basicamente duas vertentes. A primeira de corte conservador, ligada aos costumes e tradições, que aceita as mudanças de forma gradual, e outra de corte liberal, que enxerga a liberdade econômica como o sustentáculo de uma agenda que passa também por ampla liberdade individual, de caráter libertário. Em alguns partidos, ambas se fundem em muitos pontos.
A ascensão da direita já é uma realidade na Europa há tempos. Hungria e Polônia, por exemplo, são países governados pela direita. Portugal e Espanha implementaram uma agenda de reformas também passando pelo mesmo caminho. Os conservadores governam o Reino Unido. O Brexit, por exemplo, foi a resposta dos britânicos ao excesso de regulação e burocracia emanado de Bruxelas. O crescimento da AfD na Alemanha e do FPÖ na Áustria também surfam em uma reação contra o poder da União Europeia.
É preciso lembrar que o jogo democrático comporta diversas vertentes ideológicas e nada mais justo do que a direita ocupar seu lugar no jogo político. O grande erro é associar a direita à agenda de xenofobia e isolacionismo, até porque diante desta simplificação infantil seria fácil associar qualquer partido de esquerda aos horrores perpetrados pelo socialismo: fome, xenofobia, extermínio e perseguição. É preciso avaliar a política, seus partidos e grupos com honestidade. Em breve veremos a resposta do eleitorado a um movimento de direita, seja conservador ou liberal, que vem se formando no Brasil. Entretanto, algo está claro: quanto mais a direita é atacada, mais cresce. Precisamos de menos torcida e mais análise de qualidade para entender este movimento do eleitor.
Fonte: “O Tempo”, 30/10/2017
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