A poupança é o investimento mais popular do Brasil, mas aqueles que têm alguns milhões na conta passam longe da caderneta e deixam o dinheiro aplicado em diferentes produtos financeiros. Esses milionários ainda contam com acesso a investimentos que não estão disponíveis ao público em geral. Mas, mesmo sem ter ao menos R$ 1 milhão para investir, consultores financeiros afirmam que é possível aprender algumas lições com esse seleto grupo de endinheirados.
O Brasil conta com 116.195 pessoas no chamado segmento private banking, que são aquelas com ao menos R$ 1 milhão para investir. Cada uma delas tem, em média, R$ 8,2 milhões em aplicações financeiras — sendo apenas 0,3% do total em poupança, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Já os mais de 63 milhões de investidores do varejo têm, em média, R$ 14 mil investidos, com uma parcela de 61,6% na tradicional caderneta.
Carlos Eduardo Freitas Costa, consultor de educação financeira do banco Mercantil do Brasil, lembra que esses milionários possuem uma assessoria financeira para aconselhá-los, mas que, ao analisar a distribuição dos seus investimentos, é possível tirar algumas lições.
— A diversificação é um conceito básico que remete ao ditado de não colocar todos os ovos no mesmo cesto. Se uma aplicação vai mal, não vai afetar todo o seu dinheiro. Os clientes desse segmento private também têm objetivos estabelecidos e, por isso, optam por investimentos que são condizentes com essas metas — explica.
Se o objetivo é ter uma reserva de emergência, não faz sentido deixar o dinheiro em uma aplicação que tenha um alto retorno, mas não permite o resgate imediato dos recursos. Por outro lado, é possível abrir mão dessa liquidez se o que se quer é juntar dinheiro para algum plano de mais longo prazo.
MIGRAÇÃO PARA A BOLSA
Os ovos, no entanto, estão mudando de cesto com o processo de queda de juros. A Selic está em 7,25%, mas já foi de mais de 14% há dois anos. Luiz Severiano, diretor do Itaú Private Bank, explica que muito de seus clientes fizeram aplicações prefixadas naquela época, que agora começam a vencer. A renovação, em um cenário de taxas mais baixas, vai exigir uma mudança de comportamento: para se ter um retorno mais elevado, será necessário correr mais risco ou abrir mão da liquidez (ou ambos).
— Nossos clientes estão reduzindo a exposição ao CDI (que acompanha a Selic) e aumentando as aplicações em juros reais (corrigidos pela inflação ou taxas prefixadas) e fundos multimercado. A migração para a Bolsa só começou de outubro para cá — diz Severiano.
Outro movimento recente dos investidores do private é optar pela economia real, ou seja, aplicar em fundos que compram participações em empresas, os private equity, ou em fundos imobiliários que compram imóveis.
— Começamos a ver esse movimento, e isso deve ser uma tendência daqui para a frente. A influência é mais pela queda dos juros do que pela retomada do Produto Interno Bruto (PIB) — explica Severiano, afirmando que emissões com benefício fiscal, como debêntures de infraestrutura, também atraem esse público.
Julio Vezzaro, responsável pela unidade de private banking do Banco do Brasil, afirma que o mais importante, ao atender esse grupo de milionários, é entender quais são seus objetivos e as mudanças de tendências:
— Ainda é um movimento tímido de troca de aplicações. À medida que os juros mais baixos se materializem nos rendimentos, esses investidores vão aceitar tomar mais risco.
Outro investimento oferecido cada vez mais a esse público é o crédito privado, ou seja, títulos emitidos por empresas, que fornecem um retorno maior ao investidor e que servem como opção na substituição dos títulos públicos.
— Ainda não há uma demanda grande dos investidores por migração, mas temos que nos antecipar e oferecer. A exposição ao crédito privado vai ser maior, mas as empresas estão melhorando seu desempenho — explica Samuel Oliveira, da Azimut Brasil Wealth Management.
Ariane Tavares, superintendente de private banking do Santander, confirma que a migração para os investimentos em ações ainda é lenta.
— É um movimento ainda tímido. É percebido com mais força quando analisado pela ótica da alocação dos fundos exclusivos dos clientes — explica.
Fonte: “O Globo”
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