A política volta seus olhos para Porto Alegre. A decisão que conheceremos esta semana terá certamente reflexos na campanha presidencial. O pré-candidato Lula, condenado ou absolvido, usará o julgamento como uma carta importante no jogo da sucessão.
A estratégia está em curso. As recentes declarações de senadores petistas incitando o confronto foram além do razoável. Uma eventual derrota ou vitória servirá de mote para o lançamento da candidatura de Lula. Mesmo condenado e enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ainda restarão recursos que podem ser interpostos, assim como medidas cautelares assegurando sua presença no pleito. Portanto, o julgamento de Porto Alegre serve neste momento para trazer os holofotes para a candidatura petista.
Veja mais de Márcio Coimbra:
Gestão na política
Olhar para o futuro
Ano da virada
Para esta campanha, o petismo tomou tons mais vermelhos. O discurso não é o mesmo do passado vitorioso, tampouco as companhias e apoios. A estratégia usada está apontada para uma visão mais radical e enfática dos valores socialistas, como a regulação dos meios de comunicação. O caminho escolhido por Lula foi o da polarização, acomodado nos braços de uma esquerda que precisou ser camuflada do eleitor em eleições anteriores.
Na falta de um candidato de centro, a estratégia pode funcionar. Em um eventual segundo turno, a depender do adversário, o petista possui chances reais de vitória, uma vez que a classe política envolvida na Lava Jato enxergará em Lula a possibilidade de acomodação de seus interesses. Já existe um movimento destes nomes defendendo a sua candidatura. A sobrevivência política, neste caso, fala mais alto. Neste sentido, Lula poderia se transformar na única saída para sobrevivência do sistema. Ele aposta nisso.
Porém, as chances de uma candidatura de centro são cada vez mais reais. Alckmin busca se credenciar como este nome. A incerteza no ninho tucano, entretanto, ainda é enorme. Na mesma raia tenta se credenciar Henrique Meirelles. Pela centro-direita, surge o economista Paulo Rabello de Castro. Todos são nomes que devem ganhar densidade ao longo deste ano, com chances reais de desequilibrar a disputa no segundo turno.
Cabe lembrar que o processo enfrentado por Lula é apenas o primeiro. As acusações vão muito além do caso do triplex. Lula já foi denunciado nove vezes pelo Ministério Público Federal (MPF), sendo réu em sete processos. As acusações são de 246 episódios de lavagem de dinheiro, 21 de corrupção passiva, três de formação de organização criminosa, quatro de tráfico de influência e duas por obstrução da justiça.
Lula enxerga a eleição presidencial como uma espécie de mecanismo de defesa. Por isso, a polarização. Se a saída pela esquerda lhe entregar o foro privilegiado por meio da vitória nas eleições, sua eventual condenação e cumprimento de pena se tornará algo improvável. Esta é sua jogada. Talvez a mais ousada e incerta de sua vida. Infelizmente, no caso de Lula, a democracia está sendo usada como simples ferramenta na estratégia de sua defesa pessoal.
Fonte: “O Tempo”
No Comment! Be the first one.