Andreas Moser é um cidadão alemão que foi preso no Irã em 25 de junho do ano passado. Como turista, ele visitou o Irã em dezembro e janeiro, antes da fraude eleitoral acontecer em junho. A visita turística de Andreas acabou criando uma espécie de elo com o Irã e seu povo hospitaleiro. Quando os protestos erupcionaram em junho deste ano, ele decidiu voltar ao Irã e ver o que estava acontecendo de perto.
O primeiro grande tumulto que ele encontrou foi do lado de fora da praça Baharestan, outro tradicional ponto de estouro de protestos em Teerã, onde fica o parlamento. Isto foi dois dias depois de Neda ser assassinada, o clima estava tenso e o medo começava a prevalecer de novo.
Andreas descreveu como uma multidão de cerca de 5000 pessoas subitamente se formou do nada. Andreas já tinha participado em várias manifestações na Alemanha por várias questões, mas descreveu a turba em Baharestan como os manifestantes mais pacíficos que ele já tinha visto. Mesmo assim, a resposta das Unidades Especiais foi brutal, indiscriminada e exagerada. O próprio Andreas se tornou uma vítima das Unidades Especiais de capacete e armadura e seus golpes de bastão indiscriminados. Contudo, a dor dos golpes de cassetete logo deram lugar a um profundo sentimento de raiva e ressentimento. “Por quê?” era a pergunta que não calava. “Esta foi a manifestação mais pacífica que já vi. Não havia motivo para violência”, Andreas me conta. E mesmo assim, se alguém conseguisse justificar a violência contra os manifestantes, o que Andreas nunca conseguiria entender seria a violência contra transeuntes comuns que nem faziam parte da manifestação.
“Nem mulheres carregando sacolas de compras e segurando a mão de seus filhos foram poupadas”, acrescenta Andreas Moser. “E é essa violência indiscriminada que está unindo todos os iranianos na luta. Mesmo as pessoas que votaram em Ahmadinejad agora se voltaram contra o regime, exatamente por esse motivo.”
Andreas teve sorte em não ser preso durante os protestos em Baharestan. Na Alemanha, por pura coincidência num trem, ele conheceu um advogado iraniano de Direitos Humanos, Mohammad Mostafaei, e eles trocaram contatos. Andreas prometeu contatar Mostafaei se voltasse algum dia ao Irã. Um dia depois do protesto em Bahrestan, Andreas Moser se encontrou com Mostafaei pela segunda vez, desta vez em Teerã. Mostafaei convidou Andreas para ir a um restaurante. Andreas estava sentado no banco frontal de passageiro do carro de Mostafei, enquanto a esposa de Mostafei e sua filha de seis anos ocupavam o banco traseiro.. Andreas tentava conversar e brincar com a criança. O clima era jovial e divertido, até que uma moto os fechou e parou na frente do veículo de Mostafaei. O motociclista tinha um rádio-transmissor. Ele se aproximou de Mostafaei e pediu-lhe que confirmasse sua identidade, e depois falou no rádio-transmissor e duas viaturas Nissan apareceram do nada. Mostafaei foi levado num dos veículos, na frente de sua filha que gritava e sua esposa, que parecia preocupada. Andreas foi vendado e levado no outro veículo. Lá se fora o jantar e a conversa de que iam desfrutar juntos.
Andreas foi levado para a prisão de Evin. Ele recebeu pijamas de prisão, um cobertor, uma barra de sabão e uma escova de dentes, e foi posto em confinamento solitário num quarto de 3x3m, sem cama. Sua cela tinha um teto alto e uma janelinha fora de alcance. Sua única função era possibilitar dizer se era dia ou noite. Ele conseguia ouvir que a prisão estava lotada de detentos manifestantes. Alguns estavam sendo mantidos e interrogados nos corredores. O pior de tudo era quando Andreas ouvia os outros prisioneiros gritarem e chorarem. Seus gritos o atravessavam, e ele se sentiu mais próximo que nunca da dor e tristeza pelas quais passavam o povo iraniano.
E aí os interrogatórios intermináveis começaram. Andreas era interrogado três vezes ao dia. Sempre vendado durante os interrogatórios, e nunca via o intérprete, mas quem quer que tenha sido, falava alemão muito bem, até entendia as referências coloquiais que Andreas usava. “É melhor você começar a nos contar tudo, ou você vai ficar aqui por muito tempo, meu amigo”, era o que seu interrogador lhe dizia. Depois de seis dias, perceberam que nada tinham contra Andreas.
Andreas foi chamado à frente de um juiz, que lhe disse “Você será solto. Como você pode ver, não foi maltratado. Espero que você não diga nada de mau quando voltar para a Alemanha”. E então o juiz encerrou com a afirmação mais divertida de todas na tentativa de conquistar Andreas “Afinal, somos os dois Arianos” 🙂
Foi um prazer conhecer Andreas. Cada frase que ele me contou sobre sua saga ficou ecoando em minha cabeça. Talvez a mais comovente tenha sido: “É a pura brutalidade indiscriminada lançada contra todos que está unindo o povo do Irã”. Algo que os expatriados iranianos deveriam perceber em relação a suas invejinhas irracionais e demonstrações de mentes pequenas. No aniversário de Neda, em 23 de janeiro, esperamos poder mostrar eventos comemorativos dignos em sua homenagem no mundo todo. Neda foi assassinada, mas sua morte deu vida à nossa nação.
Publicado no blog de Potkin Azarmehr
Tradução: Anna Lim (annixvds@gmail.com)
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