O nível da política anda tão baixo que até aqueles que são medianamente articulados conseguem se sobressair. Entretanto, existem aqueles políticos experientes que sabem articular, abrir e reencaminhar acordos e tendências. Estes sabem fazer a diferença porque conhecem os atalhos no parlamento, o caminho da vitória nas urnas e sabem lidar com a imprensa e com os meandros do poder como ninguém.
Nesta casta experiente de políticos encontra-se o presidente Michel Temer. Ele não chegou ao Planalto por acaso, mas por ser um destes políticos que sabe ler o cenário, fazer as apostas certas e lidar com o Parlamento como poucos. Aqui não se trata de avaliar sua popularidade, mas sua capacidade de articulação dentro da política, um talento que ele tem de sobra.
Suas reformas teriam sido aprovadas com folga no Congresso Nacional não fosse o ímpeto de um Rodrigo Janot em tentar derrubá-lo a qualquer preço. O custo da armação será pago ainda por muito brasileiros, uma vez que o esforço para formar a maioria que aprovaria a Reforma da Previdência, por exemplo, acabou sendo usado para barrar as denúncias que poderiam derrubar o governo na Câmara dos Deputados.
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A agenda ficou comprometida, mas não o legado das reformas deste governo. Isto porque o vencedor do pleito nacional de 2018 terá que perseguir a mesma agenda, reformista, agindo como se fosse um segundo mandato de Temer, para recuperar a economia e a credibilidade do país no cenário internacional. A Reforma da Previdência, por exemplo, não foi barrada, apenas adiada.
Diante deste impasse sobre a continuidade das reformas, o governo optou por um lance ousado, ou seja, a intervenção na segurança do Rio de Janeiro. Um movimento que, bem calculado, pode recuperar a imagem de um governo marcado por medidas impopulares, porém necessárias. Não se iludam, Temer, que foi procurador e secretário de Segurança de São Paulo entende profundamente do tema e não teria envolvido seu governo nesta seara se não tivesse certeza dos seus dividendos políticos, afinal, além de tudo, foi presidente da Câmara dos Deputados por três vezes.
Fala-se inclusive na possibilidade de uma candidatura que miraria na reeleição. É um movimento difícil. Entretanto, possível e até provável é que seu apoio seja decisivo na construção do palanque presidencial vitorioso do ano que se inicia. Se isto se concretizar, a estratégia está sendo correta. Temer busca um fiador das reformas, centrista, alguém com apelo popular e visto como um nome novo na política. Uma espécie de Macron dos trópicos, um candidato apoiado pelo governo, mas que não seja do governo. Alguém comprometido com uma agenda reformista e que seja capaz de tornar-se a ponte para uma nova política, mas também salvação do establishment. As cartas começam a ser colocadas na mesa. Não subestimem o mago, pois poucos conhecem os caminhos da política e do poder como ele.
Fonte: “O Tempo”, 26/02/2018