Em outubro de 2017, um trio de cariocas decidiu criar um movimento destinado a buscar saídas criativas para o Rio, valorizando a vocação da cidade para a inovação. Quatro meses depois, o grupo Juntos pelo Rio reúne mais de 300 pessoas, entre elas profissionais de empresas como IBM, Mongeral, Oi, Furnas, e de instituições como PUC, Parque Tecnológico da UFRJ e Endeavor. O primeiro resultado será visto em julho, com a realização de um grande hackaton — maratona de programação que procura, em equipe, respostas tecnológicas para grandes desafios. Batizado de Hacking.rio, o evento vai durar quatro dias e propor 12 temas aos participantes: segurança, mobilidade urbana, educação, saúde, turismo, jurídico, agronegócio, energia, óleo e gás, economia criativa, sustentabilidade, games, finanças e seguros.
A proposta do Juntos pelo Rio é ir além de apontar problemas, reunindo pessoas ligadas a empresas e instituições que se dispõem a compartilhar expertise e buscar, em conjunto, caminhos para a cidade. Outros exemplos, também de 2017, revelam ações em prol da cidade, como Quero meu Rio de Volta, criado pelo médico Josier Villar, da Câmara Empresarial Rio, e o Rio Vamos Vencer, liderado pelo arquiteto Marcelo Conde, filho do ex-prefeito Luiz Paulo Conde.
O programa Rio de Janeiro a Janeiro propõe um calendário de eventos para incentivar o turismo na cidade e no estado. De acordo com a Fundação Getulio Vargas, um crescimento de 20% no turismo local pode aumentar o PIB em R$ 6 bilhões e gerar 170 mil empregos. O calendário foi uma das propostas dos seminários “Reage, Rio!”, realizados pelos jornais O GLOBO e “Extra” em 2017. No “Sou do Rio”, criado em outubro com apoio de entidades empresariais como Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e Associação dos Supermercados, o foco é valorizar produtos cariocas e fluminenses.
A engenheira Lindalia Reis, fundadora do Juntos pelo Rio com a advogada Natalie Witte e o empresário Leonardo Toco, diz que o compartilhamento de ideias e informações é a chave do movimento. O grupo faz reuniões periódicas e foi dividido em dez temas interdisciplinares, cada um dedicado a um setor específico, e dois que estão incumbidos de sistematizar o que já existe de estudo e informações sobre a cidade.
— Reunimos empresariado, academia, investidor, empreendedor, governo. Esses cinco vértices têm que trabalhar juntos para que os caminhos surjam com mais facilidade — afirma.
Um ponto positivo da mobilização é romper a tradição carioca de priorizar temas nacionais, deixando de lado questões regionais. Na avaliação do economista Mauro Osório, presidente do Instituto Pereira Passos e professor da UFRJ, esse é um cacoete que precisa ser deixado de lado, para que se descubram novas vocações e potenciais da cidade. “É preciso sair do senso comum a fim de encontrar novos rumos para o Rio. Temos muitos equívocos sobre as vocações e as características da cidade”, diz.
Segundo ele, é um erro atribuir à transferência da capital para Brasília a maior parte dos problemas enfrentados até hoje pela cidade.
— O Rio nunca foi só a capital burocrática do país. Foi capital financeira, cultural, econômica. E continua sendo referência mundial quando se trata do Brasil — afirma Osório, recorrendo ao conceito de “cidade-capital”, criado pelo historiador italiano Giulio Argan para designar cidades que passam a representar o que um país considera ter de melhor, de mais belo, inspirador e promissor.
Argan, um dos principais críticos de arte do século XX, foi, nos anos 1970, prefeito de Roma, cidade que acumula os títulos de capital administrativa e cidade-capital da Itália, além de símbolo da civilização ocidental. O exemplo de Roma, assim como o de cidades como Paris e Nova York, mostra que o título de cidade-capital não é algo que oscile ao sabor das conjunturas. Ao contrário. Sua força simbólica é determinante para surperar momentos difíceis e ter capacidade de se reinventar. No Brasil, ninguém duvida: esse título pertence ao Rio de Janeiro.
Empresas com negócios no Rio levam essa característica em conta na hora de programar investimentos. Por isso, embora não neguem a gravidade da situação que a cidade atravessa, continuam a acreditar em dias melhores. José Isaac Peres, presidente do grupo Multliplan, dono do BarraShopping, recorre ao passado para pensar o futuro.
— Já passamos por outras crises, ondas de sequestro, índices altos de violência, e continuamos a investir no Rio. As crises de segurança e econômica vão passar. Se ficássemos esperando os tempos de bonança, nunca teríamos feito nada porque não me lembro de nenhum período no país em que não tenhamos vivido uma crise de cinco em cinco anos — declara Peres.
A região do Porto Maravilha é apontada por Bruno Marques, presidente do Grupo Cataratas, cujos investimentos incluem AquaRio, Hotel das Paineiras e o Zoológico, como um símbolo da capacidade de reinvenção do Rio, com grande investimento em infraestrutura, reurbanização, inauguração do VLT e construção do Museu do Amanhã e do Museu de Arte do Rio. Marques lembra que o AquaRio está localizado em uma região que era deserta e hoje forma, com o Museu do Amanhã, os extremos de um corredor de grande vitalidade.
Sávio Neves, presidente da Esfeco, que tem a concessão da Estrada de Ferro do Corcovado, participa do Juntos pelo Rio, do Rio Vamos Vencer e do Quero meu Rio de Volta. Ele afirma que é preciso pensar num horizonte de pelo menos 20 anos.
— Na estrada de ferro do Corcovado, temos uma espécie de síntese de problemas do Rio: dengue, febre amarela, guerra nos morros. Se fôssemos nos ater a essas questões, não investiríamos R$ 150 milhões em novos trens e nas novas estações do Cosme Velho e das Paineiras — diz Neves, que planeja construir a roda panorâmica Estrela do Rio, inspirada na London Eye, perto do AquaRio.
Fonte: “O Globo”