A ideia de diminuir os custos e ainda poder compartilhar espaços, experiências e informações com outras pessoas foram fatores que motivaram a designer de moda Ana Luisa Fernandes, de 22 anos, a trabalhar em um espaço de coworking. Principalmente por se tratar de um local voltado apenas para o universo da moda.
Espaços compartilhados especializados em um segmento, como o Lab Fashion, são cada vez mais comuns em São Paulo, e oferecem instalações específicas para as necessidades dos coworkers, como são chamados os usuários desse tipo de espaço. Locais que estão se espalhando pelo Brasil.
De 2016 para 2017, o número de escritórios compartilhados mais que dobrou: passou de 378 para 810, um crescimento de 114%, segundo o Censo Coworking Brasil. Do total, 40% estão localizados no Estado de São Paulo. Na avaliação do consultor do Sebrae-SP Luís Cláudio de Sousa Pereira, a economia pouco aquecida contribuiu com esse cenário. “Surgiu muita oferta no mercado freelancer e muitos profissionais foram buscar nesse tipo de espaço redução de custos”, destaca.
O consultor destaca que o coworking está inserido na chamada economia criativa. “É uma tendência trabalhar de forma colaborativa, compartilhar espaços e desenvolver essa inteligência coletiva”, diz.
Para quem pensa em trabalhar em um coworking, o consultor pondera que o profissional precisa ter uma mente aberta. “É uma grande oportunidade para fazer networking, mas se a pessoa não tiver iniciativa, um comportamento empreendedor, fica mais difícil trabalhar nesse espaço, onde as pessoas buscam conhecimento, experiência e fazer negócios”, destaca.
A designer Ana Luisa está satisfeita com seu local de trabalho. Além da parte financeira, ela cita o espaço organizado, as palestras, as relações interpessoais com a possibilidade de conseguir indicações e informações como benefícios. “É um lugar de compartilhar conhecimento, onde estamos para crescer juntos. É perfeito para marcas novas”, afirma.
O Lab Fashion foi criado em São Paulo pelos sócios Fabio Hiroshi Uehara e Diogo Toshio Hayashi com a proposta de juntar empreendedores e ser um negócio social na área de moda. Criado há dois anos, o negócio tem como bandeira apoiar os novos estilistas e buscar uma moda mais ética e sustentável.
“O coworking já estava em franco desenvolvimento e alinhava a experiência que tínhamos com locação de imóveis, empreendedorismo e moda. Ao mesmo tempo víamos cada vez mais coworkings segmentados por área de atuação e acreditamos neste modelo”, conta Hayashi.
Entre as pessoas que procuram o Lab Fashion, a maioria é de profissionais liberais e empreendedores. A gama de clientes ainda inclui empresas de todos os portes para a realização de cursos e utilização do espaço para eventos corporativos, como reuniões internas, treinamentos e palestras. A diária do local custa a partir de R$ 60 e a mensalidade no plano semestral é de R$ 483,20.
Para o empreendedor, o coworking é um modelo que veio para ficar porque traz benefícios para os clientes, como economia, networking e estrutura adequada. “Acreditamos que os coworkings que conseguem criar uma comunidade ao seu redor ganham mais destaque”, diz Hayashi.
Cozinha profissional
Foi justamente o contato com a comunidade ligada à gastronomia que motivou os sócios Diris Petribú e Emmanuel Viana de Melo a criar o Hub Food Service, em São Paulo. Há mais de 20 anos, a arquiteta Diris é diretora do StudioIno, empresa de design e arquitetura para produtos e estabelecimentos de food service.
Era comum clientes e conhecidos com a intenção de começar um negócio, mas a montagem de uma cozinha industrial exigia investimento alto. “Resolvemos montar uma área para esses clientes. Primeiro montamos uma cozinha bem equipada, um espaço onde as pessoas podiam testar os produtos”, explica.
A empresária conta que pensou o espaço como um hub para ligar as pessoas das áreas de alimentação, marketing, operações, projetos e fabricantes. Isso porque além de empreendedores que alugam a cozinha, o Hub Food Service tem uma área de eventos para as marcas testarem produtos, fazer apresentações, degustações, aulas, treinamentos e eventos variados.
No local, o aluguel custa, em média, R$ 100 a hora, mas o valor pode ser negociado dependendo do número de horas contratado. “Temos bastante procura e ampliamos o espaço com três cozinhas com resfriador, forno combinado, com toda a estrutura”, destaca Diris. Entre os usuários do Hub Food Service estão os criadores da VeganJá, empresa que faz um serviço de entrega de pacotes semanais e mensais de refeições congeladas com zero produto de origem animal, preparadas com ingredientes preferencialmente orgânicos.
O negócio começou com um investimento de R$ 30 mil de três colegas. A decisão de alugar uma cozinha para o preparo das refeições foi tomada porque a empresa precisava de um espaço com todos os equipamentos para produção em escala, com qualidade e seguindo as normas da Anvisa.
“Para construir uma cozinha dessa o investimento em equipamentos é altíssimo, então tomamos a decisão de alugar um espaço que nos oferecesse toda a estrutura que precisamos”, conta Jônatas Mesquita, sócio da empresa. É na cozinha do Hub que são preparados pratos como a paella negra de cogumelos, o tutu mineiro de feijão preto e a moqueca de pupunha.
“O Hub é um lugar onde conhecemos uma série de pessoas do ramo que de alguma forma tiveram algum impacto positivo em nosso negócio. Lá, conhecemos nossa nutricionista, consultores, prestadores de serviço, e clientes também”, destaca Mesquita. Trabalhando na cozinha compartilhada desde 2016, os sócios têm planos de expansão e mudança para uma cozinha própria ainda no primeiro semestre.
“O Hub cumpriu sua função como lugar que possibilita o pequeno empreendedor tirar sua ideia do papel, partir para a execução e ganhar tração até ser capaz de caminhar com as próprias pernas, além de minimizar o risco de investimento e possibilitar formas mais criativas de alocar o capital”, afirma Mesquita.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”