O candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, apareceu em entrevista no livro “A Crise das Esquerdas” (Civilização Brasileira, 2017). Sergio Fausto, diretor-executivo da Fundação FHC, fez uma crítica contundente da entrevista em artigo no Estadão de sábado.
Fausto começa a crítica com o elogio de Boulos às experiências bolivarianas, que teriam promovido grandes avanços para as massas. O desastre da Venezuela teria decorrido não da gestão de Hugo Chávez e Nicolau Maduro, mas da falta de condição política para “o país avançar na trilha das expropriações de propriedade privada e controle total da economia pelo Estado.” Ou seja, a implantação de um regime comunista.
A entrevista de Boulos é de uma pessoa conectada nas ideias da velha esquerda latino-americana, defendendo propostas da época da guerra fria e de antes da queda do Muro de Berlim, que acelerou o fracasso e o colapso da União Soviética.
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Talvez por falta de espaço, o articulista não expandiu a proposta maluca de fazer a auditoria da dívida pública. Boulos faz supor que o endividamento público teria nascido de um conluio entre o governo e o mercado financeiro. Por isso, a dívida não deveria ser paga. Ele parece imaginar, como a velha esquerda nos anos 1980, que a dívida estaria nas mãos dos bancos. Ninguém minimamente preparado subscreveria essa bobagem.
Dados sobre a dívida pública federal, divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional, mostram que em janeiro último as instituições financeiras respondiam por apenas 12,50% do total. A maior parcela, 35,83%, era de instituições de previdência privada (fundos de pensão e similares), que administram as contribuições de milhões de brasileiros.
Os fundos de investimento, que gerenciam poupanças de outros milhões, respondiam por 10,31% (não seria surpresa se Boulos aplicasse suas poupanças nesses fundos). Os estrangeiros explicam 2,23% do total; as seguradoras, 10,94%. Os restantes 28,19% estão distribuídos entre governos e outros, nestes incluídos os milhares de brasileiros que investem em títulos públicos através do Tesouro Direto.
Se Boulos ganhasse as eleições presidenciais e decretasse um calote na dívida pública, prejudicaria milhões de brasileiros que poupam com sacrifício e aplicam seus recursos direta ou indiretamente em títulos públicos. Inviabilizaria a aposentadoria de milhões que investem em previdência complementar. Quebraria os bancos, pois os recursos que eles aplicam na dívida pública vem de pessoas físicas e jurídicas que neles depositam. O decorrente aumento da inflação prejudicaria os pobres, que Boulos pensa proteger.
Felizmente, o Brasil está livre dessa catástrofe, pois Boulos tem escassas chances de ganhar as eleições presidenciais. Ele faria bem a si mesmo se buscasse aprender um pouco sobre economia e finanças e abandonasse o arcaico discurso radical.
Fonte: “Veja”, 26/03/2018