A cada ano o FMI, o Banco Mundial e a comunidade financeira mundial aproveitam para realizar em Washington, nos EUA, um encontro (na Primavera/Verão e no Outono/Inverno) colocando o “papo em dia” e tratando de temas variados sobre a atualidade e a economia global. É o momento em que sabemos o que estão pensando os principais formuladores de políticas públicas no mundo e quais as saídas para os principais problemas
No encontro desta primavera, nas cerejeiras do Distrito de Columbia, no final de semana dos dias 20 a 22 de abril, vários temas são discutidos, dentre os quais, os contenciosos comerciais criados pelo presidente norte-americano Donald Trump, visando a China, além da projeção revisada de inúmeros indicadores dos países afiliados a estas instituições. A discussão sobre a geopolítica da guerra civil na Síria também será debatida, mas em intensidade menor, dado que o “ataque pontual” de Trump às instalações de armas químicas em Damasco, na Síria, parece ter sido bem absorvido pela comunidade internacional e pela Rússia, principal aliado de Bassar All-Assad.
Sobre os indicadores econômicos projetados pelo FMI, através do World Economic Outlook, relatório sobre o panorama da economia global, divulgado duas vezes ao ano, algumas considerações devem ser feitas.
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Sobre o Brasil. O FMI e o Banco Mundial melhoraram suas visões sobre a situação econômica do Brasil. O primeiro está revendo as projeções de crescimento do PIB para este ano e o próximo, de 1,9% e 2,1%, respectivamente, para 2,3% e 2,5%. Cabe observar que ainda existe um descolamento sobre as projeções feitas por esta e a Focus. Tanto o FMI, quanto o Banco Mundial estão mais cautelosos. Já nós, continuamos relativamente otimistas, prevendo 2,7% e 3,0% nos citados anos, as mesmas projeções da Focus. O Banco Mundial vai pela mesma toada, projetando 2,4% para este ano e 2,5% para 2019. Na visão do FMI, “depois da recessão de 2014/16, a economia voltou a crescer impulsionada pelos investimentos e o consumo. A médio prazo, o crescimento deve desacelerar a 2,2% devido ao peso do envelhecimento da população e o produtividade estagnada”. O FMI acha que as incertezas neste ano, devido às eleições, devem travar um pouco a retomada. Para eles, “as reformas são essenciais para o crescimento sustentável”. Ou seja, acreditam que o Brasil realizou muitas reformas recentes, mas outras continuam urgentes e inadiáveis.
Sobre a economia global. O FMI segue num otimismo contido sobre o ritmo da economia global, crescendo 3,9% no biênio em análise, mas não descartando crises ou rupturas em função dos conflitos comerciais e da volatilidade no mercado financeiro. A sustentar este crescimento maior, por enquanto, os Estados Unidos, impulsionado pela reforma tributária de Trump, no final do ano passado, os ajustes nos países centrais na Zona do Euro e o bom crescimento da China e do Japão.
Economias avançadas. Continuamos acreditando num “crescimento sincronizado”, mas dois riscos se impõem no horizonte. Um, o acirramento de uma guerra comercial ao redor do mundo, impactando na geração de empregos e na inflação; outro, a piora crescente do regime fiscal norte-americano. Diante dos estímulos crescentes de Trump e a economia em pleno emprego, o risco maior é a inflação se elevando, com a pronta resposta do Fed e a piora fiscal tornando o financiamento da dívida complicado. Como registro, o déficit público nos EUA, de US$ 582 bilhões em dezembro de 2016, deu um salto a US$ 738 bilhões na atual gestão e corre o risco de fechar em US$ 800 bilhões neste ano e passar dos US$ 1 trilhão em 2020. Decorrente disso, inevitável será a aceleração na política monetária do Fed, o que deve derrubar o ritmo de crescimento do País. Para este ano, o FMI está trabalhando com a economia dos EUA crescendo 2,9% e no ano que vem, já desacelerando, a 2,7%.
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Economias emergentes. Sobre estes países, crescendo 4,9% e 5,1% nestes dois anos em análise, destaquemos a China mantendo o ritmo (6,6% e 6,4%) e a Índia (7,4% e 7,8%), como revelação, no melhor desempenho entre os pares. Cabe salientar que este país asiático atravessou um período de profundas reformas na sua estrutura econômica nos últimos anos enquanto que muitos emergentes se fartavam de políticas populistas. Na América Latina, crescendo 2% na média, destaque para o Brasil, no bom rumo das reformas, e outros países que se livraram do “bolivarianismo”, como Argentina, México, Chile, Paraguai e Peru. Importante destacar, pelo lado negativo, o caos na Venezuela, com hiperinflação e economia em depressão brutal. Sobre a eleição marcada para maio, a comunidade latino-americana, através do Fórum das Américas, já se posicionou pela exigência de um pleito limpo e com a participação da oposição. Caso esta não participe, medidas drásticas acabarão inevitáveis, com rompimentos diplomáticos, a expulsão do MERCOSUL e o país de Nicolas Maduro se isolando ainda mais.
Comentários finais. Pela evolução destes indicadores, o que se observa é que entre os avançados seguem os focos de tensão nos EUA, no contencioso comercial com a China e a geopolítica na Síria. Entre os emergentes, observamos uma onda de reformas estruturais, privatizações, políticas pró-mercado, que muito devem servir de modelo para o próximo presidente eleito no Brasil. A Argentina, por estes dias, pela boa governança de Maurício Macri, recebeu permissão para se tornar país-membro da OCDE, ao contrário do Brasil, ainda na fila.