Educação de qualidade custa caro. Há que atrair alunos de ensino médio para cursarem licenciaturas —o que envolve um salário adequado e respeitabilidade para a carreira—, fazer com que professores queiram permanecer na profissão e contar com um mestre em cada sala de aula, para cada tempo escolar, com tempo e condições de se desenvolverem e se atualizarem como profissionais.
É importante também contar com um ambiente escolar pronto para atender os estudantes e assegurar-lhes o que precisam para aprender no século 21: uma biblioteca ou sala de leitura com acervo atualizado e computadores, sala de aula com um número razoável de alunos que permita uma atenção mais personalizada a diferentes necessidades de aprendizagem, quadra para prática de educação física, laboratório de ciências, entre outras demandas, dependendo do nível de ensino.
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Evidentemente, há que haver gestão adequada dos recursos. Há em educação, assim como em outras políticas públicas, desperdícios de recursos na forma de absenteísmo de profissionais, deslocamento de professores para atuar em outras áreas e investimento em atividades não vinculadas à aprendizagem dos alunos.
O tempo de aula efetivamente usado para aprendizagem é reduzido no Brasil, como mostrou o livro “Excelentes Professores”, de Barbara Bruns, com muita dispersão de preciosos minutos para pedir disciplina ou até por ausência do professor da escola ou da sala.
Mesmo assim, só a boa gestão não resolve o problema de falta de fundos para assegurar que todos aprendam.
É nesse sentido que foi criada em 2015 a Comissão Internacional sobre o Financiamento da Educação Global, liderada pela primeira-ministra da Noruega, com o mandato de definir como financiar o novo Objetivo do Desenvolvimento Sustentável da Educação que preconiza que crianças e jovens não apenas concluam a educação primária e secundária, mas, de fato, aprendam.
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Afinal, são um quarto de bilhão de crianças e jovens no mundo fora da escola e outros 330 milhões que, apesar de matriculados, não aprendem.
A meta da comissão é ambiciosa: obter recursos para que, com recursos adicionais e boa gestão, seja esta a primeira geração em que todos frequentem a escola e aprendam — “Learning Generation” (uma geração que aprende), o título da publicação que sintetiza suas conclusões.
Ora, isso é possível ser feito no Brasil, mesmo em contexto de crise fiscal. Há que se priorizar de verdade a educação, assegurar que não faltem professores, que sua formação inicial e continuada seja adequada ao exercício da profissão e sequenciar e priorizar investimentos, como fizeram países com bons sistemas.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 27/04/2018