O otimismo em relação à recuperação da economia vem perdendo força conforme o avançar dos meses. No final de 2017, havia a expectativa de que 2018 seria o ano da retomada econômica. Passado o primeiro trimestre, o que se vê é desemprego elevado e fraco desempenho da indústria e comércio. Esse cenário fez com que bancos e consultorias revisassem para baixo suas expectativas para o crescimento do produto interno bruto (PIB) em 2018.
“Ainda existe uma perspectiva positiva para este ano, mas os dados do primeiro trimestre decepcionaram”, avalia o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. O Fibra revisou a perspectiva de crescimento do PIB de alta de 4,1% para 2,8%. “Adiamos para 2019 nossa projeção de 4%, pois acreditamos que os pilares estão presentes na economia”, diz o economista.
Para ele, a eleição deste ano é um fator que está inibindo o consumo e, principalmente, os investimentos. “A questão eleitoral cria um horizonte macroeconômico nebuloso, porque não se sabe qual vai ser a política fiscal adotada e isso tem impacto em todo o arcabouço macroeconômico”, explica Oliveira.
Veja também:
“Lucro é bom e pode ser um aliado para fazer o bem”
Roberto Troster lança “O bê-à-bá da política econômica no Brasil em 2018”
Julio Hegedus: “Algumas ponderações sobre o câmbio”
O economista do Itaú Unibanco, Artur Passos, também considera que o crescimento está mais fraco do que o esperado. “Havia uma expectativa que a expansão seria alta, mas diminuiu e agora já falamos em um PIB de 3% com viés de baixa”, calcula o Passos.
Engrossando o coro dos que revisaram para baixo a previsão de expansão da economia para este ano está a consultoria MB Associados. “Tínhamos uma perspectiva de alta de 3,5%, revisamos para 3% e não me surpreenderia se ficar em 2,5%”, diz o economista Sérgio Vale, da MB Associados. “Apesar da queda nas projeções, ainda teremos uma elevação bem melhor do que no ano passado, quando o PIB subiu 1%.”
Thaís Zara, economista-chefe da consultoria Rosenberg Associados, diz que os dados do primeiro trimestre vieram piores do que o mercado imaginava. “O ritmo de expansão está mais fraco do que o observado no fim do ano, mas continuamos em recuperação”, avalia. A Rosenberg Associados reduziu a projeção de crescimento do PIB do primeiro trimestre de 1% para 0,6%. “Para o ano, por enquanto, mantivemos a previsão de aumento de 2,8%”, diz Thais.
O Santander ainda mantém a projeção de crescimento do PIB de 2018 em 3,2%. “Não embarcamos no otimismo do início do ano, mas por enquanto não fizemos revisão. Estamos esperando os dados do primeiro semestre para decidir se faremos ou não uma revisão”, diz a economista sênior do Santander, Tatiana Pinheiro.
De acordo com ela, os dados dos primeiros três ou quatro meses do ano dão pistas falsas sobre os resultados. “Esses meses costumam ser muito voláteis devido aos feriados móveis. Temos que esperar um pouco mais”, diz. “O que temos de concreto hoje é que a taxa de juros está caindo e isso estimula a atividade econômica. A expectativa é que a esse estímulo se intensifique ao longo dos próximos meses”, complementa a economista.
Para analistas, a queda na produção industrial, a alta taxa de desemprego e a retração no comércio formam a conjunção de fatores que levam à perda de fôlego da retomada brasileira. “Nem mesmo os juros e inflação em baixa estão conseguindo movimentar a economia”, pondera o sócio líder da área de auditoria e consultoria da Grant Thornton, Daniel Maranhão.
+ Armando Castelar: “Ferrovias, oportunidade para avançar”
Um dos motivos para essa diminuição no crescimento é o cenário político. As incertezas em relação às eleições presidenciais e o fato de o governo não ter aprovado projetos como a reforma da Previdência ou a privatização da Eletrobras, principais bandeiras do presidente Michel Temer, levam investidores a postergarem aportes no país. Aliado a isso, o quadro externo traz um ingrediente a mais para esse já conturbado panorama, especialmente os ligados aos Estados Unidos, como a disputa com a China.
“Toda a queda que estamos vendo agora, como no caso da indústria, reflete o processo de estagnação pelo qual a economia vem passando neste início de ano”, considera o professor de Economia e Finanças do Ibmec-RJ, Ricardo Macedo.
Em queda
A fabricação de produtos apresentou queda de 0,1% em março na comparação com fevereiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa do mercado era de que a produção tivesse alta de 0,5% no período. Além disso, o resultado de fevereiro foi reduzido para 0,1%, menor que dado divulgado anteriormente, de 0,2%.
Na comparação com março do ano passado, houve aumento de 1,3%, acumulando onze taxas positivas consecutivas. No entanto, foi o menor resultado desde junho de 2017 (0,8%). No acumulado deste ano, o setor apresenta elevação de 3,1%.
“O investidor industrial continua com a intenção de aplicar recursos no país, mas está em compasso de espera. Este cenário de incertezas políticas e instabilidade em relação aos candidatos retraem os aportes estrangeiros, que esperam por mais clareza em relação à gestão da economia”, considera Maranhão.
+ Adriano Pires: “Pobre Brasil”
Estudo realizado pela consultoria mostra que os empresários brasileiros demonstram cautela com relação ao otimismo para a retomada econômica e melhora do ambiente de negócios para os próximos 12 meses. O indicador ficou em 26%, queda de 5 pontos porcentuais em relação ao trimestre anterior. O levantamento avalia a expectativa de 2.300 líderes de mercado em 34 países.
O Brasil está bem abaixo da média global (61%), mas em sintonia com a média dos países pesquisados da América Latina (25%), que apresentou uma queda ainda maior, 10 pontos.
O reflexo de toda essa insegurança se reflete no mercado de trabalho. Dados do IBGE mostram que a taxa de desocupação subiu para 13,1% no primeiro trimestre contra 11,8% nos meses de outubro a dezembro. Com isso, o desemprego atingiu 13,7 milhões de pessoas. Na comparação com o primeiro trimestre de 2017, quando tinham 14,2 milhões de desocupados, houve uma melhora, mas ainda está longe de deixar o trabalhador confiante para ir às compras.
“Em 2017, tivemos uma forte safra agrícola, queda da inflação e a injeção de recursos com a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) das contas inativas. Foram componentes que ajudaram no ano passado e com os quais não podemos contar neste ano”, comenta o economista do Itaú Unibanco. Só o FGTS foi responsável por colocar 41,8 bilhões de reais na economia em 2017.
“As estratégias adotadas pelo governo ano passado para reaquecer a economia, como o FGTS inativo, chegaram ao seu limite”, considera o professor Macedo. Para ele, nem mesmo a Copa do Mundo, que costuma aquecer a venda de televisores, será capaz de reverter o quadro de retração no comércio.
A expectativa para este ano, segundo os analistas, é de crescimento moderado. “Vemos que a concessão de crédito tem sido forte, com reflexo, por exemplo, na venda de veículos e no setor de serviços, mas é preciso que haja uma retomada das reformas e um ajuste fiscal capaz de ajudar na retomada da economia”, diz Passos, do Itaú Unibanco.
Para o professor Ricardo Macedo, 2018 ficará estagnado. “Este ano, vamos patinar. Ano que vem, o novo governo terá que olhar para as contas públicas. Acredito que a retomada ocorrerá só a partir de 2020”, finaliza o professor.
Fonte: “Veja”