A valorização do dólar é um fenômeno global e, por isso, é difícil prever por quanto tempo vai se estender. Contudo, entre as moedas de países da América Latina que têm eleições presidenciais este ano, o real pode ter a maior depreciação. A avaliação é de João Pedro Ribeiro, estrategista de América Latina na Nomura Securities, que acredita também que o Banco Central (BC) deverá ser mais ativo com a proximidade do pleito, intensificando a emissão de swaps cambiais, operação que equivale à venda de moeda no mercado futuro.
O Globo – O que está por trás da escalada do dólar nas últimas semanas?
João Pedro Ribeiro – Não há dúvidas de que esse é um movimento global. Temos um cenário de aumento dos juros nos Estados Unidos, fruto do aquecimento da economia americana. Nesse cenário, as moedas de emergentes, que não tinham sofrido nos últimos meses, começam a enfrentar desvalorização mais forte. O real está entre elas.
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O Globo – É uma alta causada só por fatores externos?
João Pedro Ribeiro – Há componentes domésticos e externos nesse movimento, mas é difícil determinar o peso de cada componente nas diferentes moedas. Com bastante segurança, no caso do real, dá para dizer que o menor diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ajuda na apreciação do dólar. E existe um debate se já há um contágio das eleições e de quanto é essa influência. Se no processo eleitoral houver a ideia de que uma correção fiscal não irá acontecer, a desvalorização do real vai ser ainda maior.
O Globo – A situação de países como Argentina e Turquia pode agravar a volatilidade?
João Pedro Ribeiro – Sobre Argentina e Turquia, é difícil determinar se há alguma contaminação. Mas a eleição será um momento difícil. É provável que o real tenha um desempenho pior que as moedas de México e Colômbia, que também têm eleições este ano. Vamos ver uma piora na cotação, mas não dá para saber até quanto o dólar vai subir.
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O Globo – O Banco Central tem agido de forma correta em relação ao dólar?
João Pedro Ribeiro – A capacidade do BC em conter esses elementos pode ser muito pequena. O BC já avisou que só quer garantir o funcionamento pleno do mercado e suavizar os movimentos de volatilidade. Nesse sentido, vai ter de ofertar mais swaps cambiais, principalmente se o cenário eleitoral ficar mais complicado. Mas não vejo que o BC queira, ou que deva, defender uma taxa de câmbio.
Fonte: “O Globo”