Na última segunda-feira (11), a OCDE publicou um relatório sobre políticas públicas para professores. Nele uma ideia se fez muito presente: como o bom professor é o elemento mais importante, entre os fatores dentro da escola, para lograr qualidade no ensino, os sistemas educacionais devem se assegurar de que os mais vulneráveis possam também receber esse benefício.
Há uma tendência de que professores mais experientes e qualificados se concentrem em escolas que atendem a classe média, em bairros de menor dificuldade de acesso, particularmente em sistemas educacionais mais fracos e desiguais.
É aqui que a política pública deve entrar para definir lotações mais equilibradas e fornecer incentivos para que mestres deem aulas em áreas que recebem os alunos mais pobres e em situação de risco.
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Infelizmente, o Brasil não é exceção à tendência mencionada no relatório. Muitas vezes, nos concursos públicos, professores mais bem classificados escolhem a escola em que desejam trabalhar que, na maior parte das vezes, não são as que se situam em favelas ou áreas ribeirinhas, que tipicamente concentram a população mais pobre.
Além disso, quando faltam docentes na rede, é justamente nessas áreas que a carência é mais frequente. Por vezes diretores de escolas reportam que toleram algumas ausências não justificadas por temerem perder um quadro de difícil reposição —afinal quem vai querer trabalhar aqui?
Isso não quer dizer que não existam professores de incrível dedicação e que, em condições desafiadoras, não deixam, em nenhuma circunstância, de dar aulas de excelente qualidade para alunos mais vulneráveis.
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Mas a política educacional pode e deve ajudar: pagando mais a professores que dão aulas nessas áreas; considerando o tempo de aulas em regiões conflagradas ou de vulnerabilidade, um acelerador na carreira; diminuindo o tamanho das turmas; integrando a escola a outras políticas públicas; priorizando nas vagas em creche os mais vulneráveis; e construindo unidades de educação infantil mais próximas ao local de moradia.
E o que fazer com os atuais professores, alguns muito novos, que atuam nas favelas ou bairros pobres? O relatório sugere mentorias e oportunidades de desenvolvimento profissional customizado para equipar os professores com a compreensão do contexto social de seus estudantes e com as competências necessárias para trabalhar em escolas desfavorecidas.
O apoio aos professores é a melhor estratégia para reter mesmo mestres experimentados, mas ajudaria muito se sua formação inicial oferecida pelas licenciaturas contemplasse a prática profissional, inclusive nessas áreas.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 15/06/2018