Por certo o resultado da Copa do Mundo deste ano não afetará a corrida presidencial, mas seu lugar no calendário serve como divisor de águas dentro do quadro eleitoral. Logo depois do evento, já estaremos diante das convenções, quando os partidos formalizarão as chapas para inscrição em meados de agosto.
O calendário da Copa, por assim dizer, influencia na medida que joga a sucessão para uma discussão secundária nas manchetes dos jornais por exatos 30 dias. Aqueles que souberam crescer antes deste período, entram neste limbo certos de que sairão dele praticamente intactos, com os mesmos números. Os que ainda não decolaram percebem que perderam um tempo precioso que talvez não seja possível ser recuperado.
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Isto porque as convenções partidárias, no final de julho e início de agosto, confundem-se com o final do mundial. Com a política levada a um segundo plano durante este período, fica muito difícil para qualquer pré-candidato mostrar uma reação sensível em apenas duas semanas, entre o final da Copa e as convenções. Isto quer dizer que o quadro desenhado até o momento pode servir de referência para a decisão do lançamento (ou não) das candidaturas ainda em curso.
O raciocínio encontra lógica na decisão dos partidos e no arranjo do quadro nacional. Enquanto o chamado “centro político” tenta se unificar em apenas uma candidatura, outros partidos devem acabar desistindo de lançar nomes a Presidente, acomodando-se em outras chapas e reservando o uso do fundo eleitoral para eleições mais sensíveis. Vale lembrar que o número de deputados federais eleitos baliza o percentual do fundo partidário recebido para os próximos anos.
Assim, faz sentido que aqueles candidatos que ainda não decolaram, se não mostrarem reação, acabem desistindo da corrida e que o centro realmente se una em torno de uma candidatura, que se não for realmente competitiva, possa pelo menos incomodar os líderes nas pesquisas, para assim amarrar acordos no segundo turno. Diante desta lógica, deve haver entendimento no centro para unificar forças, assim como na esquerda, que apresenta algumas candidaturas mais consolidadas.
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Precisamos entender que diante das regras novas, para os partidos políticos torna-se muito importante eleger um número substantivo de deputados federais. Ali está a tônica da eleição diante de regras que colocam em xeque a existência daqueles que não conseguirem votos suficientes para sobreviver. Claro que uma candidatura forte de caráter nacional ajuda a puxar votos para as eleições proporcionais, mas apostar naquelas que apenas marcarão posição, pode tirar o foco da batalha pelo legislativo federal. Diante deste calendário, o esvaziamento das campanhas durante a Copa pode ser fatal para várias pré-candidaturas presidenciais.
Fonte: “O Tempo”, 18/06/2018