Passados quase sete meses deste ano de 2010 é importante um balanço de como se encontram as economias do mundo rico e os emergentes, destacando o Brasil.
Neste caso, observa-se que o primeiro trimestre foi o pico de crescimento da economia, com o PIB chegando a 9%, agora ocorrendo uma desaceleração. Na Europa, as expectativas se voltam agora para o resultado do teste de stress a ser divulgado neste dia 23 e os ganhos de confiança do mercado depois dos vários pacotes fiscais anunciados. As políticas bens sucedidas de rolagem de dívidas recentes são um indicativo neste sentido. Nos EUA, o arsenal de balanços corporativos no segundo trimestre mostram as empresas produtivas se recuperando, mas alguns bancos ainda muito frágeis. Além disto, os indicadores contraditórios da atividade e sobre o mercado imobiliário são sinais inequívocos de que a economia norte-americana ainda patina numa retomada errática.
Desaceleração pontual no Brasil. É consenso que o primeiro trimestre deste ano foi o pico do crescimento do PIB brasileiro nos últimos anos. O PIB cresceu 2,7% contra o trimestre anterior, 9% contra o mesmo do ano passado e 2,4% em quatro trimestres. Este forte crescimento pontual ocorreu em função das políticas de estímulo fiscal anunciadas, que acabaram turbinando as indústrias automobilística, linha branca e de construção civil, além dos ganhos de renda recentes e um melhor cenário para as empresas, o que as estimulou a investir mais. Na verdade, este movimento de alta se deu no mundo inteiro em função das políticas de estímulo fiscal e monetário, anunciadas na pós-crise.
Agora, observa-se certa ressaca. Por aqui, o receio é inflacionário, já que a meta central deste ano de 4,5% já parece superada para o IPCA. Mesmo assim, com a atividade econômica mais fraca neste segundo trimestre, a tendência é que o BACEN acabe dando uma afrouxada na sua política de aperto monetário. A trajetória da curva de juro futuro corrobora, já perdendo fôlego, assim como as pesquisa Focus, com o juro tendo recuando de 12,13% para 12% na mais recente. A produção industrial, por exemplo, mensalmente, recuou 0,7% em abril contra março, se manteve estável em maio contra abril e recuou 0,2% agora em junho contra maio. Junto a isto, o Indicador de Atividade Econômica do BACEN se mostrou estável em maio contra abril. Com isto, o PIB que chegou a crescer 2,7% no primeiro trimestre contra o anterior, deve recuar a 0,8% nos próximos três trimestres na mesma base de comparação, fazendo com que a economia cresça neste ano algo em torno de 7%.
Já a política de juros deve vir sem surpresas agora em junho (dias 21 e 22), com elevação de 0,75 ponto percentual, de 10,25% para 11%, mas depois haverá desaceleração nos ajustes, não descartando a substituição por possíveis elevações de compulsório. Ao fim do ano continuamos prevendo uma taxa de juros em torno de 11,75%.
Sobre a política fiscal e o saldo em conta corrente, o risco maior pode acontecer mais à frente. Na primeira, a crítica a ser feita diz respeito à qualidade das despesas, na sua maioria concentradas em pessoal e encargos, com os investimentos ainda fracos, não passando de 1% do PIB. Na segunda, com o nível de reservas cambiais em US$ 250 bilhões e a dívida externa equacionada, este passivo não preocupa tanto neste momento, mas passando de 3,5% do PIB deve começar a causar apreensão.
Resumo: a economia brasileira desacelera no restante do ano, para crescer num ritmo mais sustentável em torno de 7%. A retirada dos estímulos fiscais, a crise da dívida na Europa e o menor crescimento nos EUA e nos outros países ricos, assim como na China, devem impactar no nosso fluxo de comércio. A Lopes Filho projeta crescimento de 6,8% para este ano.
Situação das dívidas soberanas na Europa. O desafio da zona do euro é realizar os ajustes fiscais necessários sem maiores impactos recessivos, obtendo ganhos de credibilidade dos mercados. Além disto, com os bancos carregados de títulos públicos, por serem os principais demandantes destes ativos, o receio é de fortes perdas por parte dos bancos, em função deste quadro de deterioração fiscal. O teste de stress de 91 bancos, a ser divulgado agora no dia 23, é um importante divisor neste sentido. Parece inevitável que alguns destes bancos mostrem vulnerabilidade, como as cajas na Espanha e em Portugal e os gregos. Os espanhóis, por exemplo, possuem um volume de dívidas em torno de € 126 bilhões e será inevitável algum aporte por parte do BCE, no seu pacote de estabilização financeira. O problema é que com esta crise, as famílias, muito endividadas e perdendo emprego, não se atrevem em voltar às compras, o que tende a segurar ainda mais a retomada da economia europeia. A região, que cresceu 0,2% no primeiro trimestre, deve se manter “de lado”, estagnada, por um bom tempo, não devendo avançar mais de 0,6% neste ano.
Resumo: problemas bancários, dívida soberana explosiva e alto desemprego impactam a zona do euro. Já será positivo se o teste de stress do dia 23 não gerar grandes transtornos nos mercados. A maioria dos países da zona do euro, que anunciaram pacotes fiscais, vem conseguindo rolar suas dívidas, mesmo a custos mais altos. Única incógnita continua sendo a Grécia.
Crescimento errático dos EUA. Uma agenda carregada, com a aprovação do pacote de reforma financeira no Congresso e a ata do Fomc, não afastando o fato de que a economia norte-americana não engata um ritmo de crescimento sustentável. Pesquisas recentes revisaram o crescimento para este ano, passando de 3,5% para 3,2% ou menos, mas grande parte deste impulso foi possível em função dos estímulos fiscais e monetários adotados. Dados contraditórios de atividade econômica, desemprego e mercado imobiliário ainda não permitem dizer que a economia já esteja fora de perigo. Por enquanto, a dívida e o déficit fiscal são tão altos como na Europa, mas sendo o dólar uma reserva internacional a demanda por títulos não parece ter sido tão afetada. Isto leva alguns observadores a defender novas medidas de estímulo fiscal para impulsionar mais a economia neste ano. Mas e depois, no ano seguinte? Balanços corporativos recentes mostram uma economia produtiva reagindo, mesmo que lentamente, mas um sistema bancário ainda fragilizado.
Resumo: a economia norte-americana deve crescer neste ano 3% em função das medidas de estímulo, mas e depois? Desemprego em torno de 10% da PEA, grande endividamento das famílias e situação precária no setor imobiliário são obstáculos para esta travessia.
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