Os resíduos orgânicos (materiais de origem biológica) correspondem a mais da metade dos resíduos sólidos urbanos originados no Brasil e não devem ser tratados como rejeitos. Muito pelo contrário, seu destino final deve considerar a reciclagem como uma estratégia de gestão de resíduos no âmbito municipal, industrial ou domiciliar, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). Em 2017, porém, um levantamento realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), apontou que o estado da Bahia compreende o maior número de lixões do país, com 300 vazadouros inadequados. Impulsionadas a mudar esse quadro, as baianas Saville Alves e Gabriela Tiemy fundaram a SOLOS, startup voltada a trabalhar com grandes empresas através de tecnologias de aceleração e compostagem na administração de resíduos alimentares. Ouça a entrevista com Saville no player abaixo!
“Jogar o lixo fora é colocar dentro de algum outro lugar”, avalia Saville em conversa com o Instituto Millenium. O projeto teve início em 2016 quando as amigas perceberam os impactos gerados pela má coordenação de resíduos no Brasil, enquanto países como a Alemanha, Noruega e Dinamarca encontram soluções para transformar o lixo em recursos para outras cadeias. Logo em seguida, a startup foi aprovada no edital de pré-aceleração de negócios de impacto da Triggers, em São Paulo, oportunidade que encorajou a abertura da empresa:
“O programa de aceleração durou sete meses e durante esse tempo conseguimos pivotar nosso negócio, definir qual seria a nossa proposta de valor e transformar o que era um sonho em realidade. Contamos com o apoio de uma rede de mentores com um DNA de inovação muito forte como o Spotify, Google e Visa, então sentimos bastante confiança em formalizar a abertura da SOLOS”, conta.
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Infelizmente, o processo de decomposição nos aterros sanitários no Brasil é anaeróbico, quer dizer, um método de compactação sem oxigênio, o que resulta no chorume, contaminando o solo, lençóis freáticos e provocando a emissão dos gases de efeito estufa. Além disso, há muitas pessoas que trabalham ou utilizam esses espaços para buscar alimentos. Saville reforça a dimensão desse cenário e a importância de políticas públicas mais eficientes em prol do ecossistema:
“Precisamos de políticas públicas que sejam mais competentes, que busquem incluir nesse ecossistema os pequenos também, pois hoje nossa gestão de resíduos e do ciclo da matéria orgânica é muito voltado para os grandes. As políticas públicas podem trazer solidez, acesso ao conhecimento e fazer com que pessoas de fora do Brasil queiram investir nisso e trazer suas ideias e empresas para o nosso país. Na Alemanha, por exemplo, menos de 1% do resíduo é levado para aterros sanitários; as pessoas pagam pelo lixo que produzem e fazem uma segregação bem feita ou então são notificados. A princípio, a solução que entendemos é o Estado trabalhar de maneira mais próxima para termos uma gestão de resíduos mais efetiva. Enquanto isso, em casa, não temos justificativa para não fazer o mínimo que é a segregação e diminuição de consumo daquilo que não é necessário”.
Como funciona a startup
A SOLOS realiza consultoria e implementação in loco para tratar os resíduos orgânicos de seus clientes. Segundo a cofundadora, após identificar as empresas que geram resíduos acima de 100 kg por dia – quantidade considerada alta pela legislação brasileira, são feitas propostas de soluções baseadas nos impactos socioambientais positivos. A startup atua também como articuladora, conectando instituições de inovação e tecnologia, pequenos produtores e cooperativas para, juntos, trazerem soluções que englobem a reciclagem como um todo.