Na quarta-feira passada eu fui a um encontro de intelectuais e artistas com o candidato a presidente José Serra. Eu não gosto dessas reuniões. Fui porque vou votar nele e para acompanhar o Gabeira. Saio meio deprimido porque de uns tempos pra cá elas viraram um muro de lamentações e pedidos. É meio constrangedor que não se discuta política, mas apenas reivindicações setoriais. O pessoal de cinema pede, o de teatro pede, o de música pede, o de literatura… A gente não se dá conta de que as políticas culturais são decorrentes de uma concepção de Estado, do valor da liberdade e dos direitos individuais. Sem essa perspectiva pouco importa o candidato, mas o quanto ele estará disposto a irrigar de grana na cultura. E se for muito dinheiro ele poderá até domesticar nossas consciências e adormecer ímpetos criativos, ou até mesmo a indignação contra laivos autoritários.
Eu defendo leis de incentivo, presença do poder público no fomento cultural, principalmente onde o mercado não sustenta a criação, mas diante da crise de valores fundamentais pela qual passamos, o que quero discutir é política. Quero saber o valor da democracia para cada um, das leis, o resguardo da liberdade individual, a importância da meritocracia, a honestidade, coisas assim. A política para a cultura vai resultar disso. Um exemplo: o dinheiro das estatais está aparelhado ou não? Ele vai para os companheiros ou há critério por mérito? O que determina isso é a concepção que o governo tem do Estado, é política, estúpido!
Sou do tempo em que a gente se reunia para lutar por liberdade, em que os intelectuais levantavam a voz contra as ditaduras e a favor dos direitos fundamentais dos povos. Agora muita gente cala diante de Cuba, África e Irã e se derrete em sorrisos em coquetéis de estatais. Nada mais triste do que um bufão domesticado.
(“O Dia”, 18/07/2010)
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