O bloco de partidos conhecido por “centrão” ou “blocão” será decisivo para o quadro eleitoral. Formado por DEM, PP, PRB, Solidariedade e novamente PR, ainda hesita entre apoiar Ciro Gomes (PDT) ou Geraldo Alckmin (PSDB).
O “centrão” reúne 164 deputados que negociam juntos seu espaço num futuro governo. Soma, em conjunto, 3min36s no horário eleitoral gratuito, 30% do bloco diário de 12min30 – ante 2min59 da coalizão de Alckmin, 1min35 dos partidos que apoiam Lula e 33s do PDT de Ciro.
A relevância política dos caciques do “centrão” no Congresso – entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e parlamentares como Paulinho da Força, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto – torna o bloco essencial a qualquer negociação de projetos do futuro governo, além de desejável para formar alianças regionais robustas.
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Tal musculatura permite ao “centrão” reivindicar a vice-presidência em qualquer das chapas, na de Ciro ou na de Alckmin. Em decisão tomada ontem à noite, o bloco escolheu indicar para o posto o empresário Josué Alencar, recém-filiado ao PR e filho do ex-vice José Alencar.
Para Ciro, o “centrão” se tornou essencial. É a única forma viável de ele contrabalançar a perda natural e esperada de eleitorado que sofrerá depois do lançamento da candidatura petista. Aliar-se a partidos situados no centro do espectro ideológico representa também um meio de tentar melhorar sua imagem de esquerdista raivoso.
Para Alckmin, a importância do “centrão” tem outra natureza. Ele precisa subir nas pesquisas e demonstrar ser um candidato viável para chegar ao segundo turno. Fica mais difícil sem penetração no Nordeste, sem o apoio de um aliado histórico como o DEM e sem um arco de alianças que englobe a maior quantidade possível de prefeituras. O “centrão” supre parte dessas carências.
O flerte do bloco com Ciro avançava, até a crise gerada pela tentativa de tirar da cadeia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois daquele domingo, ficou claro que o PT insistirá em ter candidato, mesmo que não seja Lula. Qualquer petista será uma ameaça a Ciro. Poderá não ter força para vencer, mas terá para fazer Ciro perder.
Diante dessa realidade, o “centrão” recuou da negociação com Ciro. Políticos experimentados sabem farejar o poder. Querem estar ao lado de quem vencer para, no governo, poder reivindicar seu butim. É esse mesmo princípio que tem impedido o apoio imediato do bloco a Alckmin.
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Se Ciro não cresce na presença de Lula, Alckmin encontrou seu obstáculo em Jair Bolsonaro. O eleitorado antes cativo do PSDB está dividido. Não apenas a classe média, seduzida pelo discurso duro na questão da segurança pública, mas também o empresariado e o mercado financeiro.
Em ambos os setores, antes impermeáveis à retórica belicosa e nacionalista do capitão do Exército, proliferam sinais de que o trabalho de limpeza de imagem conduzido pelo economista Paulo Guedes surtiu efeito. Um eventual governo Bolsonaro, mesmo que não traga ao mercado o nirvana liberal prometido por Guedes, não é visto mais como “fim do mundo” na economia.
Mais um motivo para tornar o “centrão” ainda mais valioso para Alckmin. Se tiver a chancela de quem sabe como o poder funciona, sua perspectiva de poder ganhará corpo e volta a atrairá o apoio em peso dos agentes econômicos. Há aí um paradoxo circular, semelhante ao dilema do ovo e da galinha. O “centrão” só apostará em Alckmin se vi-lo como favorito – e ele só terá chance de ser visto como favorito a partir do momento em que obtiver o apoio do “centrão”.
Os candidatos que disputarão o segundo turno serão provavelmente os vencedores de duas disputas anteriores, em curso desde já nos bastidores: Alckmin versus Bolsonaro; Ciro versus o candidato petista. A decisão do “centrão” será decisiva para o resultado de ambas.
Levará o apoio quem tiver mais a entregar e mais chance de vencer. Não deixa de ser irônico que, depois da razia provocada pela Operação Lava Jato, os políticos tradicionais continuem a jogar suas cartas na velha base do “toma-lá-dá-cá”.
Fonte: “G1”, 19/07/2018