Em um dia a dia com grande circulação de informações das mais diferentes fontes, seria possível imaginar certa irrelevância do debate eleitoral para a definição de voto do eleitores. Mas o contexto da disputa deste ano traz fatores que vão além das mudanças nas formas de comunicação.
Com o tempo e orçamento de campanha mais curtos, candidatos precisam aproveitar toda brecha de exposição midiática, explicam especialistas. Além disso, os efeitos da crise econômica estimulam a oferta de soluções muito distintas.
O cientista político e professor da UnB Leonardo Barreto explica que o contexto atual passa por uma “questão clássica de teoria política”:
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— O candidato costuma direcionar seu discurso ao eleitor médio, ou seja, aquele que reúne as principais características do eleitorado. Mas hoje não há uma identificação muito clara do que o eleitor quer, não há consenso entre as campanhas — diz Barreto, que usou como exemplo um cartaz que encontrou de Alckmin, em 2006, que dizia: “É o que está sendo feito, mas com honestidade e eficiência”.
— Ou seja, apesar de ser oposição, ele ia dar alguma continuidade no programa de governo, porque era o que o eleitorado queria. Mas agora você tem soluções muito diferentes, desde a economia à condição do país e percepções da Lava-Jato.
Diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino acredita que o debate desta quinta-feira será o marco para que o “eleitor perceba que estamos no período eleitoral”.
— A depender do calor do debate, pode se tornar algo que tenha repercussão continuada. Mesmo com o sentimento antipolítica, o eleitor vai se envolver porque sabe que esta eleição pode melhorar ou piorar a situação — analisa.
Desde a redemocratização, poucos foram os casos em que o presidente eleito participou de todos os debates. Isso só ocorreu com Lula, em 2002, e Dilma, em 2014. Em todas as outras campanhas, o candidato vencedor faltou a, no mínimo, duas das datas.
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Desta vez, Bolsonaro ameaçou não participar de sabatinas ou debates, mas reviu a sua decisão.
Normalmente, os candidatos que se davam ao luxo de não participar dos encontros estavam em busca da reeleição. Já neste ano, não há um candidato forte da situação ou um franco favorito nas urnas.
Na opinião de Barreto, esta é a eleição mais dramática desde 1989, e o eleitorado está tendo essa noção, o que também aumenta o interesse na sociedade. Para ele, a ameaça de Bolsonaro em não participar dos debates servia para reforçar seu discurso contra o sistema e a mídia.
O tempo curto de campanha e o orçamento menor também explicam a importância do debate para os candidatos. A diretora do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, diz que não existe um padrão sobre a influência ou não do resultado do debate para a opinião do eleitor. Mas ela destaca as novas regras eleitorais, que limitam a propaganda, para reforçar a relevância dos momentos de exposição na televisão.
Fonte: “O Globo”