Os candidatos à Presidência da República neste ano declararam à Justiça Eleitoral valor recorde em patrimônio: R$ 833 milhões, somados os bens dos 13 concorrentes à sucessão do presidente Michel Temer. Na última eleição presidencial, a soma dos bens informados pelos 11 candidatos era de R$ 11 milhões (em valores nominais).
Esta é a primeira eleição geral em que os candidatos estão proibidos de arrecadar dinheiro de empresas para custear as campanhas. Só pessoas físicas podem realizar doações. No entanto, os próprios candidatos foram autorizados a bancar a totalidade de seus gastos, por meio do chamado autofinanciamento, até o limite para cada cargo em disputa. A regra beneficia candidatos ricos. No caso de presidente, o teto é de R$ 70 milhões no primeiro turno, e de R$ 35 milhões no segundo.
O valor do patrimônio dos presidenciáveis chega perto do orçamento de 2018 do Fundo Partidário (R$ 888 milhões), criado para bancar as despesas de funcionamento das siglas, mas que pode ser aplicado nas campanhas. Além disso, a atual eleição será a primeira a contar com outra fonte de recursos públicos, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, criado no ano passado com remanejamento de R$ 1,7 billhão de outros gastos e renúncias da União.
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Dois estreantes na disputa pela Presidência impulsionaram as cifras: o engenheiro João Amoêdo (Novo), dono de R$ 425 milhões, e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), cuja fortuna é de R$ 377 milhões. Amoêdo e Meirelles, ambos com carreira profissional desenvolvida em bancos, representam juntos 96% do total de patrimônio – sendo que mais da metade pertence ao fundador do partido Novo. Ambos já manifestaram que pretender aplicar recursos próprios em suas campanhas.
O candidato do Novo nunca havia feito declaração pública de bens. Amoêdo disse, no Twitter, que suas posses forem conquistadas “com muito estudo, trabalho, dedicação e responsabilidade”. Os bens mais valiosos do presidenciável são aplicações financeiras, imóveis, objetos colecionáveis (obras de arte e joias), embarcações, automóveis e quotas de empresas e ações. Só de aplicação de renda fixa ele diz ter R$ 217 milhões.
Já Meirelles também foi candidato em 2002, quando se elegeu deputado federal pelo PSDB goiano. Ele, porém, renunciou ao cargo. À época, o ex-ministro informou um total de R$ 45 milhões em bens, a maior parte nos Estados Unidos, onde morava até voltar ao País. Agora, o patrimônio de Meirelles é formado, em sua maior parte (R$ 283 milhões) por ações de empresas negociadas em bolsa no Brasil, segundo a campanha do emedebista. O candidato de Temer possui ainda R$ 58 milhões em fundos de investimento e quatro apartamentos avaliados em R$ 21 milhões, além de R$ 6,8 milhões depositados em conta corrente no exterior.
Os bens de nenhum dos candidatos aparecem detalhados na página oficial da Justiça Eleitoral, por causa de uma modificação no sistema do Tribunal Superior Eleitoral, que acelerou o processo de registro de candidatura, mas reduziu a transparência. O tribunal trabalha para retomar, ainda neste ano, uma discriminação dos bens na auto-declaração apresentada pelos candidatos.
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O terceiro candidato com maior patrimônio é João Goulart Filho (PPL), dono de R$ 8,5 milhões, a maior parte em quotas de participação empresarial.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, informou possuir R$ 7,9 milhões, sendo que mais de R$ 6,3 milhões estão aplicados em fundo de previdência privada. Na última eleição disputada pelo petista, quando alcançou a reeleição em 2006, Lula declarou patrimônio de R$ 839 mil.
A quinta maior fortuna pertence a José Maria Eymael, candidato da Democracia Cristã. O dirigente do partido listou bens avaliados em R$ 6,1 milhões, ante R$ 5,1 milhões na eleição de 2014.
O senador paranaense Alvaro Dias, presidenciável do Podemos, é dono de R$ 2,8 milhões, pouco menos que na eleição anterior, quando foi eleito para o atual mandato.
O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) relatou ao todo R$ 2,2 milhões ao registrar sua candidatura à Presidência. O presidenciável possui a maior parte de seu patrimônio investida em imóveis no Rio de Janeiro. Em 2014, Bolsonaro informara um saldo de R$ 2 milhões.
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Candidato do PDT, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, por sua vez, listou bens avaliados em R$ 1,6 milhão, um aumento nominal de quase três vezes em relação aos R$426.840,92 declarados em 2006, quando se elegeu deputado federal. A evolução patrimonial do pedetista se deu, principalmente, pela aquisição de imóveis. Em 2006, Ciro informou ter apenas um apartamento em seu nome, na Praia de Iracema, em Fortaleza, estimado em R$ 259 mil. Neste ano, ele relatou a posse de quatro imóveis (não especificados), sendo três deles avaliados em R$ 300 mil ou mais cada.
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) declarou R$ 1,3 milhão neste ano, ante R$ 1 milhão no pleito passado. A maior parte do patrimônio do tucano é composta por imóveis no Estado e um plano de previdência privada.
Em sua terceira disputa presidencial, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede Sustentabilidade) disse possuir R$ 118 mil, valor inferior aos R$ 135 mil declarados em 2014.
A ativista social e sindical Vera Lúcia Santiago (PSTU) informou a posse de um terreno de R$ 20 mil. Quando disputou a prefeitura de Aracaju (SE), há dois anos, ela não declarou bens.
Guilherme Boulos, presidenciável do PSOL e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), informou possuir um automóvel avaliado em R$15.416 – e nenhum imóvel.
O deputado federal Cabo Daciolo, candidato do Patriota, não informou nenhum bem à Corte Eleitoral. Em 2014, quando o bombeiro militar conseguiu seu primeiro mandato pelo Rio, ele tinha um carro Nissan Versa, avaliado em R$ 40 mil.
O patrimônio real dos candidatos está possivelmente subestimado, porque o valor de imóveis costuma ser declarado, por orientação da Receita, com base no valor venal da data de aquisição, e não é corrigido ao longo dos anos para o preço de mercado, a despeito de variações imobiliárias.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”