O Podcast Rio Bravo conversa com Frederico Lohmann, superintendente da Sociedade Cultura Artística, que, fundada em 1912, é a instituição cultural privada mais antiga na América Latina. Na entrevista, Lohmann comenta o processo de reconstrução do Teatro Cultura Artística, que, há dez anos, teve sua estrutura destruída após um incêndio. O executivo fala sobre os muitos esforços que têm sido empregados para oferecer à cidade um equipamento cultural não somente alinhado à identidade do projeto original, mas, principalmente, que se destaque pelo novo perfil de espetáculo que a casa pretende proporcionar ao seu público. Nas palavras de Lohmann: “São Paulo hoje tem inúmeras manifestações culturais. Nesse sentido, repensar esse prédio do Cultura Artística é também reavaliar qual é o papel da instituição 100 anos depois de sua fundação”.
Rio Bravo: Pra gente começar, enquanto os nossos ouvintes podem perceber um pouco dos ruídos da construção aqui do Cultura Artística, quais são os principais desafios na realização de um projeto como o da reconstrução de um equipamento como o Cultura Artística?
Frederico Lohmann: Para nós, eu diria que o principal desafio foi a própria reflexão sobre o que é um projeto como esse nos dias de hoje. Se a gente voltar um pouquinho no tempo, o Cultura Artística foi fundado em 1912. É a instituição cultural privada mais antiga na América Latina. Na época, São Paulo tinha 500 mil habitantes, não tinha nem uma formação musical estável, não tinha um quarteto, e a Cultura Artística tinha um papel fundamental na promoção de cultura na cidade de São Paulo. Hoje, a gente vive num ambiente muito diferente. Hoje, a gente vive numa cidade com inúmeras manifestações culturais, então o processo de repensar esse prédio que foi destruído pelo incêndio em 2008 passou também por repensar qual que é o papel dessa instituição mais de cem anos depois da sua fundação. Para nós, esse foi um processo muito rico, foi um processo longo até, em parte em função dos próprios desafios econômicos que eu vou comentar com você também, mas foi um processo muito importante. Essa reflexão toda serviu para amadurecer que caminho a gente quer levar a instituição para os próximos cem anos.
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Rio Bravo: Do ponto de vista da captação dos recursos ou, melhor dizendo, dos desafios econômicos, houve alguma dificuldade em especial?
Frederico Lohmann: Houve sim. A gente, obviamente, há dez anos atrás, em 2008, não esperava uma tragédia dessas e logo depois do incêndio o presidente na época, que era o Dr. José Mindlin, ele aproveitou a comoção para lançar já uma campanha de captação de recursos, então a gente também se beneficiou de uma situação econômica mais favorável, principalmente levando em conta que uma parte dos recursos foi captada através de incentivos fiscais da Lei Rouanet. A gente lançou essa campanha ainda em 2008, 2009, foi quando a maior parte dos recursos foram captados, e a partir daí começou a desenvolver o projeto. Na época, nós captamos o equivalente a R$ 30 milhões, incluindo aí também recursos do seguro, e a gente não tinha uma expectativa que o projeto fosse custar mais que isso, fosse custar várias dezenas de milhões, mas primeiro precisou ter o projeto todo desenvolvido e passou por essa reflexão que eu comentei com você. Também não é uma coisa que se faz com muita frequência, porque a gente está falando de um tipo de projeto muito específico, então são poucos os teatros com esse nível de excelência que são construídos no Brasil, então para nós foi fundamental contar com consultores internacionais também. Nós trouxemos uma equipe de cerca de 80 consultores. Foram 12 equipes diferentes envolvidas. Uma delas foram consultores especializados em salas de espetáculo, uma empresa inglesa chamada Theatre Projects Consultants, que já fez mais de 1,2 mil salas de espetáculo no mundo inteiro e ela ajudou bastante nessa reflexão. Por exemplo, a gente não se dá conta que não existe sala de espetáculo boa para tudo. Uma sala de espetáculo boa para ballet não necessariamente é boa para concertos. No ballet você quer ver o pé da bailarina, portanto é preciso uma plateia inclinada e a inclinação da plateia é ruim para a música. Do ponto de vista acústico, não é ideal. Esse amadurecimento foi importante pra gente chegar nessa solução final, que é uma sala de recital que permite a preservação de boa parte das áreas remanescentes do teatro, porque o que realmente foi destruído foram as duas salas. As altas temperaturas do incêndio fundiram a estrutura metálica toda e o teto caiu em cima das duas salas. Agora, felizmente, toda a parte da frente, inclusive o painel do Di Cavalcanti e os foyers foram completamente preservados, então tudo isso foi possível preservar e o próprio acervo histórico da Cultura Artística, que tem mais de cem anos, então a gente tem todos os programas de concerto de tudo que foi apresentado pela Cultura Artística nesse tempo todo. Tudo isso foi preservado e essa nova sala vai ser uma sala dedicada a recitais. Vai ser um equipamento que não existe ainda na cidade de São Paulo. É uma sala com capacidade de um pouco mais de 750 lugares, metade da Sala São Paulo, e que vai apresentar todo tipo de manifestação musical. A gente tinha a Sala São Paulo para grandes orquestras, a nossa sala vai ser focada em grupos menores de até 60 músicos, mas não só música clássica, também jazz, música popular. Como eu falei, várias manifestações musicais.
Rio Bravo: Essa expertise que veio de fora, que vocês buscaram reflexão e, de certa forma, consultoria, ela também ajudou nesse processo de pensar um novo perfil de sala de espetáculo? No caso, de recital, como você mencionou.
Frederico Lohmann: Ajudou muito. No fundo, foram alguns fatores que nos levaram a essa decisão, muito com auxílio desses consultores. O primeiro deles foi pensar qual é a principal atividade da Cultura Artística. Se a gente for olhar na nossa história, as peças de teatro, que eram uma das coisas muito conhecidas do antigo Cultura Artística, elas eram na verdade uma atividade de aluguel. A Cultura Artística promovia os concertos e alugava a sala ao longo do ano — era uma fonte de receita — para as peças de teatro. Isso dito, hoje na cidade tem centenas de salas de teatro e a gente se deu conta que não faria sentido mais uma, ainda mais pensando no uso de aluguel e pensando também que o uso como teatro conflita com o uso de música. O fato de você ter uma boca de cena, o som escapa, enfim, tem uma série de fatores técnicos que são conflitantes. Então, primeira decisão. 80% do que a cultura artística produziu ela mesma nesses cem anos foi música de câmara. As orquestras são uma exceção, você trazer uma orquestra para o Brasil é sempre um esforço enorme. A gente sempre trouxe duas, três orquestras, no máximo, por ano e para isso já existe a Sala São Paulo, que é uma das melhores do mundo. Ao mesmo tempo, São Paulo não tinha uma sala de música de câmara, então ao mesmo tempo a gente pensa a Cultura Artística de uma forma integrada, oferecendo um tipo de equipamento que não existe ainda na cidade. Em terceiro lugar, quando a gente olha o próprio prédio, é um pouco o que acontece com estádio de futebol e cinema, que a cada reforma vai encolhendo. O Teatro Cultura Artística quando foi construído tinha capacidade para 1,5 mil lugares na sala maior e 400 na menor. Ele sofreu uma grande reforma nos anos 80 e a capacidade foi reduzida para 1,1 mil lugares na sala maior e 300 lugares na sala menor, e agora novamente a capacidade é reduzida para 750 na sala maior e 200 na sala menor. Com isso, aqueles antigos foyers que ainda estão lá passam a atender de uma forma muito mais confortável o público, porque as necessidades de hoje são diferentes do que eram naquela época. Hoje, todo mundo espera em um espetáculo poder sentar confortavelmente, ter bares confortáveis e tudo isso vai ser oferecido no novo projeto, com banheiros, enfim. A mesma coisa com relação aos próprios artistas, toda a retaguarda de palco foi pensada para oferecer as mais modernas condições para os artistas.
Rio Bravo: Essa redução do público ou da capacidade do público tem a ver com questões de segurança ou do próprio perfil do Cultura Artística, do novo Cultura Artística, que vai estar disponível pra audiência?
Frederico Lohmann: Ela tem a ver com duas coisas, principalmente. A primeira é: para a música de câmara, é muito mais simpático você assistir um espetáculo de câmara numa sala intimista, então é muito mais simpático você assistir um quarteto de cordas numa sala menor. Isso, acho que é um primeiro ponto importante. E o segundo ponto tem a ver com essa questão que eu falei de você oferecer mais metros quadrados por frequentador do teatro, então ao invés de você ter 1,5 mil pessoas espremidas em 400 metros quadrados de foyer, que mal conseguiam levantar dos seus lugares, agora você passa a ter uma área muito mais generosa. E, aliado a isso, que também é uma tendência internacional, pensar também um espaço desses como um provedor de serviços de uma forma mais abrangente, porque, da mesma forma, quem vai num espetáculo hoje espera poder encontrar uma livraria, um restaurante, um café, então isso também foi resgatado do projeto original. O projeto do Rino Levi previa lojas no térreo, até como uma forma de você manter aquele quarteirão vivo para a cidade, não ser um quarteirão esterilizado durante o dia que só funciona à noite, então ele previa duas lojas do lado direito e do lado esquerdo da fachada. Com o tempo, essas lojas viraram escritórios e agora no novo Cultura Artística isso é restaurado, sendo uma livraria de um lado e um café do outro. No primeiro andar, nós vamos ter um restaurante, que vai funcionar durante o dia e na hora do espetáculo vai ser um apoio ao bar, e também o novo prédio vai sediar um novo instituto que a Cultura Artística está desenvolvendo para sediar todas as atividades educativas, que também foi uma questão que fez parte dessa reflexão nossa nesses dez anos. Nós nos demos conta que seria importante que a Cultura Artística fosse mais atuante nesse lado educativo, seguindo tendência de várias instituições parecidas no exterior. Um dos exemplos que eu gosto de citar bastante é o Carnegie Hall. O Carnegie Hall, há alguns anos atrás, desalojou os escritórios todos de aluguel que eles tinham nos últimos andares do prédio em Nova Iorque e transformaram aquilo num instituto educativo. Conversando com o diretor do Carnegie Hall como é que eles fizeram isso e quão difícil foi aprovar isso com o board, porque afinal de contas ele está transformando uma das fontes de receita dele em uma fonte de custo importante, que é um instituto educativo, ele foi muito enfático. Ele falou: “Olha, isso é o único caminho pra gente criar uma conexão maior com a sociedade, então ser, além de um provedor de espetáculo, ser um provedor de cultura de uma forma mais abrangente”. A Cultura Artística também decidiu seguir esse mesmo caminho. Um dos passos importantes para isso foi assumir a Fundação Magda Tagliaferro, que tinha sido criada pela pianista ainda nos anos 40, então desde 2015 a Cultura Artística tem uma parceria com a Fundação Magda Tagliaferro, passa a manter a fundação e a partir desse ano a fundação deixa de existir e todas as atividades foram transferidas para a Cultura Artística. Com isso, a gente passou a ter um programa de bolsas de estudo para jovens músicos de talento. Hoje, são 12 jovens músicos que se beneficiam das bolsas de estudo com professores particulares, aulas de idioma, ajudas de custo para participar de festivais internacionais ou de audições, orientação profissional também, enfim. Isso no novo prédio também ganha uma nova dimensão, porque os alunos vão ter um espaço para estudar, vão ter uma área de convivência, de novo, mantendo o prédio vivo também, então a gente vai ter no térreo os frequentadores das lojas, comprando ingressos, no primeiro andar o restaurante e nos andares de cima o instituto da Cultura Artística.
Rio Bravo: Quão importante foi o apoio que a sociedade civil ofereceu para o Cultura Artística para que todos esses projetos fossem colocados em funcionamento?
Frederico Lohmann: Essa é uma pergunta muito importante. A Cultura Artística é um caso raro aqui no Brasil de uma organização da sociedade civil que não está ligada a nenhum grupo econômico. Ela foi criada em 1912 como uma sociedade de amigos e uma sociedade múltipla. Ela tinha sócios das mais diversas origens. Já em 1912 a gente tinha famílias tradicionais e tinha famílias de imigrantes judeus, árabes, de todas as nacionalidades, todos com uma coisa em comum, todos amantes da cultura. É interessante que um dos nossos primeiros diretores foi Mário de Andrade, então a Cultura Artística teve uma participação importante na Semana de 22. Mais tarde, a gente criou a primeira orquestra da cidade de São Paulo. A Dona Esther Mesquita, que foi também responsável pela construção do Teatro Cultura Artística em 1950, cria a Orquestra Municipal de São Paulo no comecinho da década de 30, mais tarde a gente transfere essa orquestra para o Theatro Municipal. É a orquestra que existe até hoje, com o mesmo nome. Em 1950, a gente inaugura o teatro com um grande concerto dirigido por Villa-Lobos e Camargo Guarnieri, inclusive com obras compostas para a inauguração do Teatro Cultura Artística, e tudo isso como uma sociedade criada pela sociedade civil. Hoje, quando a gente fala que arrecadou desde o início do esforço de reconstrução do teatro algo ao redor de R$ 45 milhões, isso vem de 400 doadores diferentes. A gente tem doações desde R$ 600 até R$ 4 milhões. Ou seja, bastante pulverizado e isso para nós é fundamental. Então, por que a Cultura Artística não deixou de existir depois do incêndio? Em função dos sócios. A Cultura Artística é esses sócios no fundo. São dois mil sócios que mantêm a Cultura Artística, que assistem os concertos e uma boa parte destes também faz doações através de leis de incentivo para manter a entidade viva. Agora, o esforço de captação ainda que a gente vai fazer é muito baseado em cima disso também. É baseado em cima de doações de pessoas físicas e de patrocínios de empresas.
Rio Bravo: Nesse sentido, o Cultura Artística também é, de certa forma, vulnerável às oscilações econômicas do país, mesmo sendo sustentado pela sociedade civil.
Frederico Lohmann: Sem dúvida. Sem dúvida, a gente está sujeito a oscilações da economia, até porque uma boa parte dos recursos da Cultura Artística vem de patrocínios com incentivos fiscais ou doações com incentivos fiscais, e se não existe lucro, não existe Imposto de Renda devido, então a gente sente isso de uma maneira importante, mesmo em relação aos concertos. Numa situação de crise, as pessoas consomem menos cultura, então a gente no fundo fica feliz de nos últimos anos ter mantido o mesmo número de assinantes e ter conseguido manter um fluxo de receitas importante, mesmo num contexto econômico mais difícil. Isso aumenta um pouco a nossa lição de casa, de onde você buscar novas fontes de recurso num ambiente que é cada vez mais competitivo. Isso também é muito diferente de 1912. A gente hoje tem uma sociedade muito mais bem estruturada, existem inúmeras instituições culturais e a gente tem que competir por recursos. Acho que a melhor forma, no fundo, e é nisso que a gente tem focado nos últimos anos, é a excelência. Isso é o foco principal da Cultura Artística, então a gente sempre focou em ter uma programação de excelência. A gente foca também em ter uma governança de excelência, então a gente percebeu, por exemplo, nesses últimos anos, com todas essas discussões que aconteceram em torno da Lei Rouanet e escândalos em torno da Lei Rouanet, que a gente continuou tendo um fluxo importante de doações em função da nossa governança. A gente tem um balanço auditado que é distribuído para todos os doadores. Esse balanço já é auditado há mais de cinco anos. Acho que são poucas as instituições que publicam isso e a gente tem bastante orgulho. E como eu costumo dizer também, não é o fato de as pessoas fazerem mau uso da Lei Rouanet que desqualifica a lei, que é fundamental para a manutenção da cultura do Brasil hoje.
Rio Bravo: Parece existir já um público sedimentado no tocante à audiência que frequenta as casas de concerto em São Paulo, e as suas respostas trataram disso ainda há pouco. Como é que vocês pensam essa questão da formação do público daqui para frente?
Frederico Lohmann: A questão do público é muito interessante. Quando eu comecei a trabalhar na Cultura Artística em 2011, antes eu era assinante. Fui assinante durante muitos anos e eu substituí o antigo responsável, que tinha ficado na minha posição mais de 30 anos. Foi a primeira pergunta que eu fiz pra ele. Perguntei se ele não ficava preocupado com a renovação do público, porque a gente via muita gente mais velha. E ele foi um pouco sarcástico e me disse que, no fundo, os velhos se renovam. Mas acho que não é exatamente isso. Depois de sete anos à frente da Cultura Artística, eu percebo que cada vez mais existe um público jovem interessado e cada vez mais esse público jovem vem das mais diversas origens sociais. Hoje, pouca gente se dá conta que uma parte da formação de música em São Paulo é feita pelas igrejas evangélicas e pelos projetos sociais em periferia. A gente hoje tem um percentual grande do nosso público que vem das igrejas evangélicas e que vem de projetos sociais. Não é necessariamente esse o público que assina e que vai se comprometer com um pacote de concertos ao longo do ano inteiro. É um público bastante exigente também e que vai escolher quais são as atrações que ele quer assistir durante aquele ano. Isso para nós é um desafio, isso já é uma tendência que acontece a nível mundial. Cada vez mais as pessoas querem ter liberdade de poder escolher o que elas vão consumir como cultura e a gente tem que estar pronto para dialogar com esse público, então cada vez mais é importante estar presente nas mídias sociais e ter um conteúdo também que seja atrativo para esse novo público.
Rio Bravo: Você tocou nesse ponto que eu vou perguntar agora algumas respostas para trás. Quais são as características desse projeto relacionado à formação dos jovens músicos? Qual é o ponto que vocês pretendem alcançar com isso?
Frederico Lohmann: O nosso é um dos pouquíssimos projetos em São Paulo focados em excelência. Existem, como eu mencionei, inúmeros projetos de inclusão social através da música. Isso é uma coisa que eu, pessoalmente, acredito bastante também, mas poucos projetos focados na formação dos jovens músicos de excelência e hoje, infelizmente, também as oportunidades profissionais no Brasil são limitadas e, fatalmente, a formação desses jovens acaba passando também por uma experiência no exterior. Hoje, esse nosso projeto, como eu comentei, tem 12 jovens bolsistas. Eles recebem uma formação de excelência. Boa parte deles acaba indo para fora para completar a formação deles no exterior. O objetivo do nosso projeto é exatamente esse. O objetivo do nosso projeto é dar oportunidade a jovens de muito talento que talvez passem um tempo no exterior, mas que na maior parte dos casos querem voltar para o Brasil e querem também retribuir o que eles receberam. Isso é importantíssimo. No novo teatro também, um dos projetos que nós estamos desenvolvendo é dar oportunidade para esses jovens se apresentarem. Isso é uma coisa comum na Europa e aqui a gente tem poucas oportunidades para jovens músicos de talento se apresentarem, então a gente está bolando também algumas séries específicas para esse público e que também vão servir para formação musical de novos públicos. A ponta do nosso projeto é a formação de excelência e isso se deriva na formação e na democratização de acesso, então a gente tem inúmeros programas para democratizar o acesso aos nossos concertos. A gente tem programas de masterclass. Hoje, praticamente todas as atrações que são apresentadas pela Cultura Artística desenvolvem algum tipo de atividade socioeducativa, seja ela um concerto gratuito… A gente tem feito vários concertos em parceria com o Auditório Ibirapuera no Parque do Ibirapuera, sejam elas masterclasses, como eu falei, sejam elas ensaios abertos, concertos nos céus. Enfim, isso tudo pensado de uma maneira integrada, o concerto e as atividades educativas.
Rio Bravo: Uma última pergunta. A gente passou ao longo dessa entrevista com as obras aqui em frente, exatamente no Teatro Cultura Artística. Qual é a sua expectativa em relação ao cumprimento do cronograma? É boa ou não é tão boa assim?
Frederico Lohmann: Eu sou otimista e acho que todo mundo que trabalha com cultura no Brasil tem que ser um pouco otimista. Eu queria lembrar que quando a gente iniciou o processo de captação de recursos, em 2009, o projeto estava enquadrado num artigo da Lei Rouanet que não dava 100% de isenção fiscal, dava entre 30% e 80%, e mesmo assim a gente foi capaz de arrecadar os valores que eu mencionei. Hoje, na segunda fase de reconstrução, ele está enquadrado no artigo 18 da Lei Rouanet, que dá 100% de isenção fiscal. A gente tem um projeto desenvolvido com excelência, vai ser a primeira sala de espetáculo na América Latina com certificação LEED, a gente tem uma governança de primeira linha, então eu só posso crer que, se lá atrás, a gente recebeu esse voto de confiança tão grande ainda sem ter um projeto em mãos, em cima do que representa a história da Cultura Artística, hoje, com o projeto já amadurecido e com as propostas amadurecidas de tudo que a gente pretende fazer nesse novo espaço, só posso ser otimista e imaginar que a gente vai levantar esses 60% de recursos que ainda faltam nos próximos três anos. A campanha está sendo lançada agora, na verdade, então a gente ainda não tem o resultado de como vai ser essa segunda fase de arrecadação de recursos, mas eu sou otimista sim. E, se for necessário, a gente já previu no contrato com a construtora uma extensão do prazo, então se for necessário a gente faz uma pequena interrupção entre a primeira e a segunda fase para ganhar um pouquinho mais de fôlego. Então, o cronograma, dando tudo certo, em 2021 está pronto. No pior dos casos, a gente atrasa um aninho e em 2022 está pronto.
Rio Bravo: O valor total orçado, você sabe qual que é?
Frederico Lohmann: O valor total ficou perto de R$ 106 milhões e isso inclui já uma pequena sobra para um fundo patrimonial, um endowment que a Cultura Artística criou que vai permitir que a instituição tenha uma independência financeira nos próximos anos.
Fonte: “Podcast Rio Bravo”