Nunca houve algo parecido: a corrida presidencial de 2018 começa com um candidato preso e inelegível liderando as pesquisas, seguido por dois representantes de partidos nanicos. A pesquisa Ibope é o retrato da indefinição que domina a disputa deste ano, na qual ao menos cinco nomes parecem ter chances de estar no segundo turno.
Embora não possa ser feita uma comparação direta entre a pesquisa divulgada ontem e as que a antecederam, já que antes havia outros pré-candidatos, o cenário pouco se alterou. A intensa negociação de alianças, os dois primeiros debates televisivos, o lançamento das candidaturas, as diversas entrevistas concedidas… Aparentemente, nada impactou o eleitor.
A resistência do lulismo, no entanto, chama atenção. Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, preso em Curitiba e inelegível, o ex-presidente Lula é o preferido de 37% dos eleitores. Mais importante que esse número, no entanto, é a constatação de que, ainda que de forma tênue, o ex-presidente pode ter começado a transferir votos para aquele que será o verdadeiro candidato do partido, o ex-prefeito Fernando Haddad.
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Sem uma propaganda televisiva sequer, o petista chegou a 4%, se posicionando numericamente à frente de Álvaro Dias. A partir do dia 31, Haddad terá o segundo maior tempo de televisão e rádio para se associar a seu padrinho político.
Para conter a tensão de seus muitos aliados, Geraldo Alckmin repetiu seu bordão: que as pesquisas só se alterarão quando a campanha de TV começar — e, nela, sua vantagem é enorme. Contra o tucano, no entanto, está o fato de Jair Bolsonaro, com quem ele disputa os votos que historicamente iam para PSDB, aparecer em uma sólida primeira colocação no cenário sem Lula, com 20% das intenções de voto — três pontos a mais do que alcançara em junho.
Ciro Gomes e Marina Silva têm contra eles o fantasma lulista. A saída do ex-presidente da disputa leva a candidata da Rede a dobrar suas intenções de voto, de 6% para 12%, e tira Ciro de um empate numérico com Alckmin, ambos com 5%, para a terceira posição, com 9% — enquanto o tucano vai a 7%.
O problema de Ciro e Marina é que as pesquisas mostram uma enorme disposição do eleitor lulista de votar em quem o ex-presidente apontar. Quando indagados sobre o que farão se Lula for impedido de disputar a eleição e apoiar Haddad, 13% dos entrevistados dizem que “com certeza” votarão no ex-prefeito e outros 14%, que “poderiam” votar nele. Mas nem tudo são flores para o PT. Apesar de os lulistas se mostrarem determinados a tentar acender um novo “poste”, 60% dos entrevistados dizem que não votarão “de jeito nenhum” em Haddad caso Lula o apoie.
Fonte: “O Globo”