As notícias falsas podem influenciar o resultado das eleições, afirmaram 85% dos eleitores fluminenses entrevistados pelo Ibope entre os dias 7 e 9 de setembro. A pesquisa de intenção de voto para governo e Senado no Estado, divulgada na segunda-feira pelo instituto, incluiu, a pedido do GLOBO, três perguntas sobre o comportamento das pessoas diante da disseminação das “fake news” e sua relação com as eleições. Apenas 10% afirmaram acreditar que conteúdos falsos não têm capacidade para influir no voto, enquanto 5% não responderam.
O Ibope perguntou ainda com que frequência os eleitores se deparam com notícias falsas. Os que responderam que recebem esse tipo de conteúdo “sempre” (33%) ou “quase sempre” (22%) foi majoritário, somando 55%, enquanto uma minoria respondeu que “nunca” (16%) ou “raramente” (10%) se sentem expostos às “fake news”.
Embora os números mostrem que esse é um assunto que desperta muita atenção do eleitorado no Rio, ainda é minoritária a parcela da população que sempre procura verificar a veracidade das informações a que tem acesso. Essa foi a resposta dada por 40% dos entrevistados. A maior parte declarou que “às vezes” (25%), “raramente” (12%) ou “nunca” (21%) tenta checar se o conteúdo recebido é verdadeiro.
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Para especialistas que estudam a influência das “fake news” nas eleições, os números mostram uma preocupação bastante grande das pessoas com o tema, embora elas evitem admitir que compartilhem notícias falsas.
— Ainda temos poucos estudos, principalmente no Brasil, sobre a efetiva influência das “fake news” em eleições, mas é um assunto a que as pessoas estão dando muita importância. Há um barulho grande sobre isso. É interessante notar que a enorme maioria acredita que as notícias falsas influenciam, mas um grande número diz estar imune a isso por checar todo conteúdo que recebe. É o que chamamos de fenômeno da terceira pessoa. O influenciado é sempre o outro — avalia Marcelo Alves, doutorando em Comunicação pela UFF e diretor da startup Vértice Inteligência. — Mas com o volume de informação que circula, é impossível para qualquer um checar tudo que recebe.
Na análise do perfil dos entrevistados nas respostas sobre o tema, a pesquisa mostra uma relação entre escolaridade e a percepção sobre a disseminação e a influência das “fake news”. A crença na influência das notícias falsas sobre o voto atingiu índices mais altos entre os eleitores de escolaridade de nível superior (94%) e Ensino Médio (88%). Entre os que estudaram apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental é mais baixo (67%).
Na faixa mais escolarizada dos entrevistados, somam 64% os que se dizem expostos “sempre” (39%) ou “quase sempre” (25%) a esse tipo de conteúdo. Entre os menos escolarizados, esta soma fica em 42%.
Para Fernando Neisser, autor do livro “Crime e Mentira na Política”, é preciso lembrar que há uma diferença entre informações que as pessoas acham que são falsas e as que efetivamente não correspondem à realidade.
— A pesquisa mostra que quem tem mais escolaridade aparenta ter mais capacidade de identificar conteúdo falso. Ou que elas acreditam ser falso. Ao serem abordadas por uma pesquisas, as pessoas tendem a querer passar uma boa imagem de si mesmo. Então é possível que o número real de pessoas que se preocupam efetivamente em checar a veracidade do que lê seja menor. Mal comparando, num exemplo mais extremo, é como nas perguntas sobre corrupção. As pessoas acham que está totalmente alastrada no país, mas ninguém vai admitir que comete esse tipo de prática — afirma.
O Ibope também fez o cruzamento por região do Estado e pelo candidato de preferência. A incidência das pessoas que acreditam que as “fake news” influenciam o resultado da eleição é maior na capital (87%) do que no interior (82%).
Entre os eleitores dos candidatos mais bem colocados na disputa pelo Palácio Guanabara, 57% dos que declaram intenção de voto em Eduardo Paes (DEM) afirmaram que “sempre” ou “quase sempre” se deparam com notícias falsas, índice igual entre os eleitores de Romário (Podemos). Este número cai para 44% entre os fluminense que afirmam votar em Anthony Garotinho (PRP).
Em dois outros recortes permitidos pela pesquisa, por idade e gênero, os resultados não mostraram diferenças significativas a ponto de mostrar qualquer tendência. A variação entre o número de homens e mulheres que admitem receber “fake news” ou que acreditam na sua influência na eleição ficou dentro da margem de erro — ou próxima a ela. O mesmo ocorreu na comparação entre as diferentes faixas etárias.
— Num ambiente de debate acirrado e de crescente envolvimento das pessoas com as discussões política, as “fake news” prosperam mais. Estudos recentes nos EUA mostram que quanto maior o envolvimento ideológico das pessoas mais ela está propensa a consumir notícias falsas, mesmo não as reconhecendo — completa Marcelo Alves.
Fonte: “O Globo”