Que a internet e outras tecnologias de comunicação revolucionaram a interação entre as pessoas, isso é fácil de perceber: quando, do nosso computador, podemos fazer uma visita virtual pelo museu do Louvre; ou então daqui do Brasil conseguimos fazer uma vídeo ligação com um amigo do outro lado do mundo no Japão.
Agora, a revolução dessa intensa conectividade chega às relações de consumo, principalmente com a ascensão da geração Y, ou millennials (pessoas nascidas entre 1980 e 1995), que trazem profundas mudanças de hábitos.
Sempre conectados, esses jovens são questionadores, a favor da sustentabilidade e priorizam a liberdade e a experiência em detrimento da posse. E é essa geração que tem instituído um novo jeito de consumir, por meio dos conceitos de economia compartilhada e colaborativa. Plataformas digitais como Airbnb, Couchsurfing, Uber, Wego e BlablaCar, que une facilmente que tem uma demanda por serviço ou produto a quem pode atendê-la, tudo a clique do celular são grandes referências desse novo jeito de consumir.
Mas além dessas ferramentas digitais, outras formas de compartilhar bens e serviços também têm crescido, como por exemplo, a multipropriedade ou fração imobiliária, em que uma unidade imobiliária para lazer ou turismo é vendida em frações ou cotas a vários proprietários e compartilhada entre os mesmos. De acordo com o administrador em hotelaria e diretor comercial da New Time, uma das maiores empresas do Brasil em comercialização de multipropriedades, João Paulo Mansano, há um bom tempo esse modelo vem se tornando uma importante forma de financiamento de grandes empreendimentos turísticos.
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Outra grande atratividade é o fato de que a grande maioria desses empreendimentos está ligada às intercambiadoras de férias, como a RCI, a maior do mundo, e que dá muito mais liberdade às pessoas no que se refere a prática do turismo. “O sucesso desse modelo da multipropriedade está intrinsecamente ligado às intercambiadoras pois, é por meio delas que o sistema de fração imobiliária passa a fazer sentido para a maioria das famílias, pois elimina-se o principal motivo das famílias não querem mais ter uma segunda moradia de férias, que é o fato de ficarem vinculadas a um único destino. E isso ajuda a fomentar e democratizar a prática do turismo”, avalia João Paulo.
Com 17 anos de atuação no ramo de imóveis fracionados, o executivo da New Time reconhece que a mudança de hábitos imposta pelos millennials têm de fato impulsionado esse consumo compartilhado.
“As novas gerações, que priorizam as experiências em detrimento do acúmulo de bens, já perceberam que investir numa casa ou apartamento de férias ou lazer não é algo tão fácil e vantajoso. Por mais que a valorização ao longo do tempo seja algo preponderante na decisão de compra de um imóvel, a grande maioria dos integrantes dessa geração Y não entende como vantajoso se ver às voltas com custos de tributos, manutenção, para uma moradia em que irá ser usada uma ou duas vezes ao ano”, conclui o executivo.
Ainda dentro da lógica das novas gerações que priorizam as experiências e a praticidade João Paulo aponta outras vantagens da multipropriedade. “Para quem compra a fração de um imóvel de lazer é um investimento inteligente, pois tem um valor bem mais acessível, do que se ela fosse construir ou comprar uma casa ou apartamento só para passar férias. Além do mais, ela será dona e terá acesso a um imóvel dentro de um resort luxuoso e exclusivo para desfrutar as férias, mas com baixo investimento”, afirma.
Sustentabilidade
Essa moderna tendência de compartilhamento de bens tem tudo a ver com um outro conceito que vem sendo debatido há um bom tempo e que também está entre os focos de interesse da geração Y: a sustentabilidade.
Num mundo onde os recursos naturais estão perigosamente escassos, compartilhar acaba sendo uma boa saída para uma economia social e ambientalmente responsável. O sistema de bike sharing (bicicletas compartilhadas) é um bom exemplo de solução sustentável para um problema comum nos grandes centros urbanos: a questão da mobilidade.
Modernos empreendimentos imobiliários já contam com esse dispositivo que incentiva uso de um veículo não poluente e ajuda a tirar das ruas um grande número de carros que são usados para pequenos percursos, ou seja, compartilhar, neste caso, melhora o meio ambiente e o trânsito.
Em Goiânia, o recém-entregue Detail Vaca Brava, no setor Bueno, é um bom exemplo de como a cultura do compartilhamento de bens veio para ficar. O residencial de alto padrão possui quatro bicicletas que podem ser usadas pelos condôminos no sistema bike sharing. “A ideia surgiu para acompanhar essa tendência do compartilhar e da busca por uma vida saudável. Como na região do empreendimento, temos ciclovias, ciclofaixas, parques pela região, os moradores podem usufruir desses benefícios sem precisar comprar uma bicicleta”, conta Patrícia Garrote diretora da Dinâmica Engenharia, responsável pelo projeto e construção do residencial.
O recém-lançado Horizonte Flamboyant, no Jardim Goiás, é outro empreendimento alto padrão que busca atender a essa tendência de compartilhamento e sustentabilidade. O projeto do residencial, que traz vários diferenciais de sustentabilidade, como captação de energia solar e sistema de reutilização de água residuais para limpeza da área comum e jardinagem, prevê também o sistema de bike sharing.
Na Praça Horizonte, área de lazer construída para a população no terreno do empreendimento até o início de suas obras em março de 2019, possui bikes compartilhadas que podem ser usadas gratuitamente por qualquer pessoa, bastando deixar um documento pessoal com foto no estande de vendas o residencial. Cada usuário pode ficar com o equipamento por até três horas. Os horários de uso são de 8 às 20h de segunda à sexta-feira e de 8 às 18H aos sábados, domingos e feriados.
As bicicletas disponibilizadas na Praça Horizonte não deixam de ser uma contribuição para o serviço público de bicicletas compartilhadas, oferecido pela prefeitura da capital e que conta com 16 estações de bike sharing . Em Goiânia, de acordo com dados da prefeitura, existem 16 estações de bicicletas públicas compartilhadas espalhadas pela cidade e que oferecem mais de 160 bikes.
Permutas
Dentro do conceito de economia compartilhada e colaborativa, uma prática que volta com tudo nos dias de hoje e de forma bem mais organizada, graças às novas tecnologias de comunicação, é a permuta, ou a velha troca.
Empresas da área de turismo estão entre as que mais participam dessa forma sustentável de consumo de serviços. “Por meio da permuta você pode pagar sua viagem ou hospedagem em um lugar bem bacana, e com isso ter mais dinheiro para conhecer o destino onde está, ir a passeios, restaurantes, conhecendo pontos turísticos famosos, ou seja, curtir o destino sem preocupar com a hospedagem, que na forma convencional de se fazer turismo, costuma ser uma das coisas mais caras numa viagem”, argumenta Rafael Barbosa, especialista em economia compartilhada e fundador plataforma de permutas multilaterais XporY.com.
Criada há quatro anos, o serviço de permutas possui mais de 3.300 associados, entre profissionais autônomos e empresas que oferecem os mais variados serviços e produtos em troca de outros, ou melhor, em troca de X$, moeda virtual usada na plataforma. “O associado estipula quantos X$ vale seu serviço ou produto e quando alguém usufrui do que ele oferece, essa pessoa ou empresa acumula X$ que podem ser trocados por outros serviços e produtos”, explica Rafael.
Para o especialista, a permuta é o exemplo mais antigo de economia compartilhada e que vem ganhando força com os novos hábitos de consumo. “A troca atende ao principal preceito da economia compartilhada que é agregar valor a bens ou serviços ociosos, ocasionando assim uma forma mais consciente de se consumir”, explica.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”