As últimas rodadas das pesquisas Ibope e Datafolha devolveram a Jair Bolsonaro a posição de franco favorito nas eleições do próximo domingo.
De todos os candidatos competitivos, ele foi o único a registrar alta consistente em todos os segmentos do eleitorado, em especial nos tradicionais redutos do lulismo. Conseguiu, com isso, estancar o movimento de ascensão do petista Fernando Haddad.
De acordo com o Datafolha, Bolsonaro conquistou algo como 5,6 milhões de votos desde o último fim de semana, em todos os níveis de escolaridade: 2 milhões no fundamental, 2,3 milhões no médio e 1,3 milhões no superior. Nenhum outro candidato competitivo subiu nessas três camadas.
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Embora Bolsonaro ainda enfrente a maior rejeição – 45%, segundo o Datafolha; 44%, segundo o Ibope –, ela se mantém estagnada. Haddad, ao contrário, passou a ser rejeitado por parcelas mais expressivas do eleitorado em vários segmentos.
Desde 1989, dos candidatos à Presidência em primeiro ou segundo lugar às vésperas do primeiro turno, Haddad passou a ser o segundo mais rejeitado, atrás apenas de Bolsonaro. Sua taxa de rejeição no Datafolha, 41%, superou a de Lula em 1994 (40%) e quase alcança a de Brizola em 1989 (42%).
Tanto Ibope quanto Datafolha revelam o mesmo quadro. No Datafolha, Bolsonaro subiu 4 pontos (de 28% a 32%). No Ibope, também 4 pontos (de 27% a 31%). Haddad estagnou no Ibope em 21% e caiu 1 ponto no Datafolha (de 22% a 21%).
Em todos os redutos cativos do lulismo – mais pobres, menos instruídos e nordestinos – Haddad se manteve estagnado, enquanto Bolsonaro cresceu. No Datafolha, 3 pontos entre quem tem ensino fundamental (de 18% a 21%), 3 pontos entre quem tem renda até 2 salários mínimos (de 18% para 21%) e 4 pontos no Nordeste (de 16% para 20%), onde Haddad caiu de 38% para 36%.
No Ibope, Bolsonaro subiu 2 pontos entre quem tem até quarta série do ensino fundamental (de 17% para 19%) e 6 pontos entre quem tem renda até 1 salário mínimo (de 13% para 19%), fatia em que Haddad caiu de 28% para 26%.
No camadas que caracterizam a “nova classe média”, parcela da sociedade que ascendeu com Lula e sofreu as consequências desastrosas do governo Dilma Rousseff, Bolsonaro disparou na liderança. O Datafolha registrou alta de 5 pontos para renda de 2 a 5 salários mínimos (de 34% para 39%) e de 7 pontos para renda de 5 a 10 (de 44% para 51%). Nesta última faixa, Haddad caiu de 16% a 12%.
Por fim, Haddad perdeu a liderança até entre as mulheres, protagonistas dos protestos contra Bolsonaro no último fim de semana. Caiu de 22% para 20%, enquanto Bolsonaro subiu de 21% a 27%. A rejeição ao capitão da reserva no público feminino ainda é alta, mas encolheu de 52% para 49%, enquanto a rejeição a Haddad foi de 26% a 36%. Entre os homens, onde ambos eram igualmente rejeitados, a recusa a votar em Haddad descolou e foi de 40% a 47%.
Claro que não dá para atribuir a alta de Bolsonaro no público feminino ao repúdio ao movimento #EleNão. Eventos simultâneos não têm necessariamente uma relação de causa e efeito. Mas esse é um tema que merece ser investigado.
Como escrevi anteontem, o motor da campanha de Donald Trump nos Estados Unidos foi a repulsa ao discurso tido como “politicamente correto”, alimentada pela campanha de sua rival Hillary Clinton, concentrada em temas culturais e na defesa de minorias. Não é um absurdo imaginar um fenômeno parecido por aqui, ao menos nas camadas intermediária e superior da sociedade.
A alta rejeição a Haddad se manifesta em especial na fatia intermediária da classe média, aqueles a quem o PT prometeu acesso a bens de consumo, viagens de avião e cursos universitários na Era Lula e não entregou nos anos do governo Dilma. A frustração e o ressentimento contra o PT dispararam nas faixas que representam essa camada.
Na que reúne eleitores com nível médio de escolaridade, a rejeição a Haddad foi de 33% a 42% e quase alcança a de Bolsonaro (44%). Entre aqueles cuja renda familiar vai de 2 a 5 salários mínimos, Haddad agora supera Bolsonaro em rejeição. Entre aqueles com renda de 5 a 10 salários, a distância entre a rejeição de ambos foi multiplicada por dez, de 3 para 30 pontos, como mostram os gráficos:
Mesmo em redutos do lulismo, onde Haddad ainda é líder, subiu a rejeição a ele. No Nordeste, segundo o Datafolha, foi de 21% a 26%, enquanto Bolsonaro registrou queda de 61% para 56%. Na parcela com nível fundamental de instrução, também foi de 21% a 26%. Na com renda até 2 salários mínimos, de 22% a 27%.
No Sudeste, a rejeição a Haddad saltou de 39% a 47%, e ele passou a ser mais rejeitado que Bolsonaro (41%). No Centro-Oeste, onde a rejeição a ambos subiu, Haddad passou a registrar um índice ligeiramente pior (44% a 42%). No Sul, onde já estava um pouco acima, a recusa a votar em Haddad disparou, de 37% a 52% (ante 35% para o rival).
Todos esses indicadores alimentam as esperanças dos partidários de Bolsonaro de vencer já no primeiro turno. Será que essa é mesmo uma possibilidade real? Tudo dependerá de fatores como a mobilização no final da campanha, níveis de abstenção, votos nulos e brancos.
Bolsonaro tem hoje 37% dos votos válidos. Para vencer no primeiro turno, com mais de 50%, as intenções de voto precisariam subir dos atuais 32% para perto de 43,5%. Levando em conta as taxas históricas de abstenção, isso equivaleria a conquistar perto de 12,5 milhões de novos votos até o dia da eleição. Desde o final de agosto, ele conquistou algo como 14,7 milhões (5,6 milhões entre as duas últimas rodadas). Nada é impossível, mas esses números recomendam uma dose de ceticismo.
Fonte: “G1”, 03/10/2018