No dia 28 de outubro, o Brasil escolheu Jair Bolsonaro (PSL) como o próximo presidente da República, cuja agenda terá como desafio o urgente compromisso com as reformas, com o ajuste fiscal, a abertura da economia e tantos outros obstáculos de ordem política e econômica que dificultam, encarecem e intervêm demasiadamente na vida do cidadão brasileiro.
Na última semana, especialistas e convidados do Instituto Millenium responderam neste espaço a seguinte pergunta: “O que você espera do próximo governo?“.
Nesta segunda-feira, foi a vez de Murilo Medeiros. Leia:
Murilo Medeiros: “Passada a eleição, as forças políticas precisarão firmar um pacto de responsabilidade para tornar o país administrável, pelo menos em bases mínimas. O momento exige menos histeria e mais seriedade.
O novo presidente da República terá que conduzir o Brasil a uma nova fase de prosperidade. Deve ser capaz de convencer a opinião pública da urgência de medidas amargas para debelar o profundo desequilíbrio fiscal do país. É preciso visão, firmeza e humildade para unir a nação e buscar consensos mínimos em torno de reformas absolutamente inadiáveis, como a da previdência e a tributária. O desejo dos brasileiros por transformações ficou expresso nas urnas. É hora de romper o círculo vicioso do populismo e reconectar a economia nacional ao resto do mundo, para que volte a gerar riqueza, renda e empregos. Reconquistar a paz que a criminalidade roubou dos cidadãos de bem, modernizar a educação e reformular o Estado. Combater privilégios, desburocratizar e abrir maior espaço para o empreendedorismo. Por um Brasil que ofereça dignidade e igualdade de oportunidades para todos. Por um Brasil mais livre, justo e próspero.” – Cientista político e assessor legislativo no Senado Federal.
Márcio Coimbra: “O novo governo eleito tende a ser uma mudança de fundo operada pela sociedade. Defendo a tese de que a população brasileira busca mudanças profundas a cada 30 anos, renovando o sistema político e terminando com o ciclo anterior. Foi assim no processo levou Collor ao poder, também como foi o significado da eleição de Jânio Quadros, a chegada ao poder de Getúlio Vargas ou mesmo o fim do Império com a proclamação da República. O período que iremos começar agora é o início de um novo ciclo que deve se estender por 30 anos na política brasileira, uma guinada de cunho conservador e esperamos, liberal na economia, reposicionando o Brasil inclusive internacionalmente. Uma mudança muito mais densa do que se especula está em curso na sociedade brasileira. Viveremos nos próximos 4 anos um ciclo intenso de reformas, tanto de cunho moral e nos costumes, como na economia.” – Estrategista político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos.
Sérvulo Dias: “Na esfera institucional, o que se espera do novo presidente eleito é um total compromisso com o bom funcionamento das instituições democráticas e com o pleno equilíbrio e independência entre os três poderes. Na relação com a imprensa, deve garantir a pluralidade das opiniões e uma imprensa independente e sem limitações à sua atuação. Por fim, no plano econômico, o novo governante deve prezar pelo livre mercado e pela segurança jurídica no ambiente de negócios, além de comprometer-se com a execução das reformas que são tão necessárias para o nosso país. O Brasil é uma locomotiva grande, pesada e praticamente desgovernada nesse momento. O novo ‘maquinista’ terá de rapidamente assumir o comando e recolocar o país nos trilhos do crescimento econômico e buscando fazer com que o estado seja menos pesado e mais eficiente.” – Economista formado pela FEA/USP, administrador de empresas, empreendedor e palestrante.
Lilianne Borges: “Tendo sido a eleição marcada pela sociedade civil reagindo aos vícios que, contínua e crescentemente, impediram o desenvolvimento do país, o novo governo deverá experimentar a evolução desse aumento de interesse e participação da população e a ampliação do movimento que foi fortemente baseado na exposição e massivo compartilhamento de fatos e contradições. Assim, nos próximos quatro anos, acredito que testemunharemos maior cobrança por, e entrega de, transparência, responsabilidade, prestação de contas e equidade, além de maior protagonismo dos indivíduos.” – Especialista em governança corporativa, finanças corporativas e mercado de capitais.
Luciana Yeung: “A tarefa do novo presidente e do governo não será nada fácil. Em primeiro lugar, se isso é possível, ele precisará unir o país que saiu extremamente dividido e polarizado nestes últimos anos. Ao invés de insistir no discurso do “nós contra eles” (e nós pode ser direita, esquerda, elite, “povão”, etc.) é preciso que liderar um processo de construir o projeto de um “Brasil nosso”. Este é a tarefa número um, sobre o qual depende todo o resto. Depois, em termos de pautas de ações, a lista é bem longa também. Retomar as pautas das reformas previdenciária, tributária – para que ambos sistemas se tornem minimamente viáveis e sustentáveis; medidas para melhorar o ambiente de investimento e empreendedorismo (as chamadas reformas microeconômicas); avançar na privatização de alguns setores e empresas cruciais; repensar o papel do Brasil no comércio internacional (no sentido de aumentar o nível histórico pífio na área); discutir profundamente como melhorar a qualidade do ensino fundamental e médio; etc. Finalmente, abrir uma ampla discussão, inclusive com os outros Poderes sobre a regras políticas, discutir em que medida cabe, e quais seriam essas medidas, uma discussão de uma eventual reforma política. Quatro anos de trabalho intenso, diálogo intenso (com os outros poderes e com a sociedade) serão muito pouco para fazer qualquer diferença. Mas precisa começar…” – Professora de Economia e coordenadora no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
Joel P. da Fonseca: “O próximo presidente terá diante de si, antes de tudo, a tarefa do ajuste fiscal. Ele exigirá uma reforma da previdência assim como corte de gastos. Ela exigirá um trabalho árduo, inglório e impopular. Esse corte terá que ser feito sem sacrifica o gasto social com a base da pirâmide social brasileira. Paralelo a esse desafio, o Brasil tem necessidade urgente de uma agenda de competitividade e abertura comercial para que se possa gerar valor com eficiência – gerando também empregos – e auferir os ganhos de se integrar à economia global. Encaminhadas essas duas prioridades, será o momento de encarar de frente uma lacuna gritante em nosso desenvolvimento: a educação básica. Isso é o que eu gostaria de ver num bom presidente. Infelizmente, não creio que nenhum dos finalistas de nossa corrida presidencial esteja à altura desse chamado.” – Filósofo e colunista de “Exame” e “Folha de S. Paulo”.
Patricia Blanco: “Espero que o novo presidente tenha uma atitude responsável e trabalhe pela unificação do país. Que atue fortemente para frear a onda de intolerância e ódio que tomou conta do debate nos últimos tempos. Que respeite a Constituição, principalmente nos artigos que garantem as liberdades individuais, de manifestação, de imprensa e de expressão. E que entenda que as liberdades de expressão e de imprensa vieram para ficar, além de serem indissociáveis da democracia. Um valor constitucional, patrimônio de todos os brasileiros, que paira acima de partidos e ideologias e que precisa ser respeitado por todos, a começar pelo próprio presidente eleito.” – Presidente do Instituto Palavra Aberta.
Raul Velloso: “Na economia, são grandes os desafios do governo que assumirá na segunda. O principal é como equacionar o gigantesco problema fiscal que herdará da fase anterior, e que deverá requerer, além do mais, uma complexa costura política.” – Consultor econômico, Ph.D em economia pela Universidade de Yale, nos EUA.
Sebastião Ventura: “O futuro presidente do Brasil deverá unir os brasileiros e não criar tensões e divórcios em nossa sociedade. Vencido o pleito, haverá de surgir o homem de Estado, o líder de visão superior que, através do diálogo integrador e com coragem para as decisões urgentes, recoloque nosso país na rota do desenvolvimento e do progresso social. O Brasil é um país pobre e somente geração de riqueza será capaz de superar a pobreza existencial. Nesse contexto desafiador, é preciso instaurar um capitalismo autêntico em nosso país; um sistema econômico que – ao invés de ajudar os amigos do rei com empréstimos subsidiados – garanta a paridade de armas no livre mercado concorrencial. Adicionalmente, temos que reinserir o Brasil nas melhores rotas do comércio internacional, garantindo segurança jurídica e cumprimento dos contratos como pressuposto do resgate de nossa credibilidade política. Por fim, temos que abrir a economia nacional, quebrando monopólios e carteis setoriais de forma a estimular a entrada e o surgir de novos players que, com foco no lucro e no trabalho honesto, ajudem a criar uma institucionalidade mais ética, segura e admirável.” – Advogado, especialista em Direito do Estado e conselheiro do Instituto Millenium.
Luciano Timm: “Espero, no plano jurídico, que o governo federal mantenha e aprofunde a reforma trabalhista; implemente uma reforma tributária com objetivo de reduzir a carga tributária; que promova a reforma da previdência. No plano da segurança pública, espero que o governo federal coloque a Polícia Federal no combate ao crime organizado e para isso precisará investir também na construção de novos presídios (talvez mediante PPPs). Finalmente, espero que nossas instituições democráticas sejam preservadas, inclusive no que tange a critérios técnicos para nomeação de ministros de tribunais superiores e para membros das agências reguladoras. Desejo uma aposta nas privatizações como ferramenta para diminuição do Estado. O BNDES deve diminuir o seu tamanho e devemos deixar o mercado funcionar, sem “campeões”, sem interferências nas nomeações de administradores em empresas controladas pelo BNDES e pelos fundos de previdência (ou seja, um basta ao “capitalismo de laços”). No plano educacional, que seja revisto nosso modelo de maior investimento no sistema universitário, que acaba privilegiando os mais ricos. E que leis passem por um exame prévio de seu impacto econômico antes de sua aprovação. Precisamos caminhar rumo à desregulamentação e à desjudicialização. Finalmente, como professor de Análise Econômica do Direito, desejaria que fosse matéria obrigatória das Faculdades de Direito públicas no país, para ensinar nossos futuros advogados e juízes a fazer conta!” – Advogado, pós-doutor no Departamento de Direito, Economia e Negócios pela Universidade da Califórnia, em Berkeley.