A pouco mais de um mês da posse, o presidente eleito, Jair Bolsonaro , entrou na fase final de montagem do Ministério ao chegar a 12 dos 18 titulares anunciados. Com a confirmação de Gustavo Bebianno para a Secretaria-Geral da Presidência — uma das últimas vagas ministeriais no Palácio do Planalto — e de André Luiz Mendonça para a chefia da Advocacia-Geral da União (AGU), o primeiro escalão de Bolsonaro segue o roteiro indicado na campanha.
Até agora, são onze homens, uma mulher e nenhuma indicação partidária. Protagonistas na montagem de diferentes governos nas últimas décadas, os partidos e seus líderes foram mantidos à margem das conversas e dos planos do futuro governo, pelo menos momentaneamente.
A estratégia política, no entanto, já provoca reflexos. Além de a futura gestão não ter emplacado votações importantes ainda este ano, como a da reforma da Previdência, e do revés sofrido com a aprovação do aumento do Judiciário (um impacto de R$ 4 bilhões no orçamento), as cobranças por espaço começaram a aparecer. Um dos pontos de conflito é a força demonstrada pelo futuro ministro da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) — um político tradicional, mas cuja indicação pertence à cota pessoal do presidente eleito e não passou pelo comando do DEM.
Leia mais:
Helio Gurovitz: Bolsonaro e o abismo fiscal
Alexandre Schwartsman: Irresponsabilidade revelada
Joel P. da Fonseca: Aprendendo com os ingleses
Durante uma reunião, na quarta-feira, com a futura bancada do PSL na Câmara, Bolsonaro ouviu reclamações, especialmente sobre o espaço dado a Onyx nas escolhas. O partido é, hoje, a segunda maior bancada da Casa e poderá ultrapassar o PT até a posse. O parlamentar atuou para emplacar dois aliados em pastas importantes, ambos deputados pelo DEM do Mato Grosso do Sul: Luiz Henrique Mandetta na Saúde, e Tereza Cristina na Agricultura. Nos dois casos, as bancadas ligadas aos setores endossaram as indicações — Mandetta é médico, enquanto Tereza Cristina é a presidente da Frente Parlamentar Agropecuária.
Na quarta-feira, Onyx minimizou o fato de três dos ministros já escolhidos serem do DEM, legenda que não apoiou Bolsonaro na campanha:
— Não tem essa conotação que alguns setores querem dar de que há uma articulação para privilegiar o DEM. Foi apenas uma coincidência.
Segundo a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), a bancada do partido fez cobranças diante da dificuldade de interlocução com o governo eleito. A principal insatisfação decorre da falta de espaço dentro da futura gestão.
— Nossa bancada quer ser ouvida. Vamos ajudar o governo e queremos que seja uma via de mão dupla. Alguns parlamentares apresentaram descontentamento: “Ah, por que nós não estamos sendo ouvidos pelo governo?”. Pedi calma, porque o governo vai ouvir todo mundo — contou Joice.
Ao ver o próprio partido exigir espaço, Bolsonaro prometeu apoio aos parlamentares da sigla, mas disse que quer evitar o “toma lá, dá cá” no relacionamento com o Legislativo. Ele repetiu o discurso, frequente na campanha, de que o “Brasil não terá uma segunda chance para mudar”.
+ José E. Faria: O Brasil pós-eleição
— O caminho é pelo fim do toma lá, dá cá. Precisamos buscar o equilíbrio para que o presidente tenha governabilidade pautada pela forma mais republicana de relacionamento — disse o deputado reeleito Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG).
As adversidades enfrentadas até agora são creditadas pelo gabinete de Bolsonaro a uma reação da banda fisiológica do Congresso derrotada nas urnas. Mas, a cada dia tornam-se mais visíveis as pressões e as disputas de poder dentro da própria equipe do presidente eleito e de setores políticos aliados.
Ciente das dificuldades de evitar o fisiologismo dos partidos, Bolsonaro estabeleceu uma estratégia para blindar-se de conversas indigestas ao escalar Onyx para dialogar com líderes partidários. Seguindo a promessa de campanha, o presidente eleito quer estruturar sua governabilidade a partir da popularidade conquistada nas urnas e na “legitimidade” de suas propostas. Mas pretende também trocar a influência dos principais líderes partidários pelo diálogo direto com parlamentares, pelo o apoio específico de frentes setoriais do Parlamento e pelo empenho das bancadas regionais, lideradas pelos governadores.
Na quarta-feira, foram escolhidos os comandantes do Exército (general Edson Leal Pujol), Marinha (almirante Ilques Barbosa Júnior) e Aeronáutica (tenente-coronel brigadeiro do ar Antônio Carlos Moretti Bermudez).
Fonte: “O Globo”