O governo Jair Bolsonaro (PSL) não pode ser seriamente julgado com menos de um mês de existência. Até mesmo pelo fato de que todo governo que faz uma transição profunda começa meio confuso. Alguém se lembra do ministro Sérgio Motta, no início do governo FHC, distribuindo patadas e dizendo que era preciso acabar com a “masturbação sociológica”, ao se referir à atuação de outros ministérios? Ou que a primeira-dama, doutora Ruth Cardoso, que tinha restrições públicas à aliança do PSDB com o PFL? Lula também teve seus percalços. O superministro José Dirceu meteu os pés pelas mãos. Centralizou imenso poder na Casa Civil, não fez nada que prestasse e ainda se dedicou a sabotar dia após dia a gestão de Antonio Palocci na Fazenda.
Posto que são naturais esses primeiros tropeços e que o governo ainda não começou a funcionar de verdade, qual será a medida do sucesso inicial do presidente Jair Bolsonaro? Devemos observar três áreas críticas. A primeira refere-se à segurança pública. O governo deve começar a entregar ações e resultados. Esse é o tema crítico para o novo governo, que precisará quebrar a cabeça e abrir os cofres para interferir nas políticas executadas pelos estados na área.
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A segunda área crítica diz respeito ao desempenho da economia. Já estamos em um ciclo de crescimento herdado do governo Michel Temer, mas sua intensidade deve ser robustecida com novas ações de desburocratização e simplificação tributária. A equipe econômica deveria seguir o exemplo de Blairo Maggi como ministro da Agricultura, que, em apenas alguns meses de gestão, baixou cerca de 70 atos e normas desburocratizando o agronegócio.
O terceiro campo de sucesso não é temático. É processual. O governo deve saber se comunicar muito bem. De início, Bolsonaro leva vantagem sobre o governo anterior por ir muito bem nas redes sociais e contar com a simpatia da maioria das grandes redes de televisão. Mesmo assim, o governo enfrenta problemas e evidente má vontade de setores importantes da imprensa, que não aceitam a vitória de Bolsonaro.
Para intensificar a comunicação com a cidadania, o caminho — além das redes sociais — é o uso intenso do rádio, com mensagens regionalizadas sobre as ações do governo. Veículo popular e de alcance nacional por excelência, foi desprezado pelos políticos em passado recente. O sucesso virá com realizações e com uma boa comunicação nas redes sociais e nas ondas do rádio. Afinal, comunicar bem é tão importante quando governar.
Fonte: “IstoÉ”, 01/02/2019