Há dois anos, o braço brasileiro da empresa de negócios sociais Yunus virou assunto ao assessorar o lançamento da água AMA, da Ambev, um projeto que reverte 100% do lucro para iniciativas em regiões que sofrem com a seca de água. Ao convencer a empresa de Jorge Paulo Lemann a lançar um produto para a economia social, Rogério Oliveira, presidente e fundador do braço brasileiro da Yunus, trouxe atenção para os chamados “negócios sociais” no Brasil.
A Yunus nasceu, em 2011, de uma ideia do Nobel da Paz Muhammad Yunus, conhecido por suas iniciativas de microcrédito a pessoas mais pobres em Bangladesh. Em 2013, a iniciativa começou a operar no Brasil. Depois de impulsionar muito empreendedores pelo país, Oliveira anunciou, neste ano, a criação da divisão “Yunus Corporate”, que é específica para lidar com grandes empresas que, tal qual a Ambev, querem apostar nesse tipo de iniciativa — para muito além da filantropia pura e simples.
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Um dos principais objetivos da nova área é implementar iniciativas de negócios sociais dentro das próprias empresas “com fins lucrativos”, como aconteceu com a Ambev. Segundo Oliveira, a ideia é ajudar as corporações em projetos de inovação, mas todos com um foco social.
Anteriormente, o trabalho da Yunus era mais focado em financiar e incentivar negócios sociais, incluindo pequenos empreendedores. Essa atuação continua com outro setor da empresa, o Yunus Investments, que capta investimentos e oferece crédito para os empreendedores.
Segundo Oliveira, a criação de uma área com foco nas corporações veio devido à própria demanda das empresas.
O braço corporativo teve projetos pilotos nos últimos dois anos, e, além da Ambev, já assessorou iniciativas de clientes como Natura, Cielo, Johnson & Johnson, Caixa e Nestlé. A expectativa da Yunus é lançar três novos projetos até março.
A nova era do marketing
A busca de tantas empresas grandes por criar iniciativas sociais dentro de sua estrutura não é puramente por boa ação. Cada vez mais consumidores vêm se preocupando com a procedência e a imagem das marcas que consomem. E as empresas, por sua vez, correm atrás de um marketing positivo para agradar a essa clientela.
Oliveira, contudo, defende que o movimento passa por uma segunda fase, a “segunda geração do marketing de causa”. Antes, esse tipo de iniciativa era muito focado na construção da imagem, mas era criticado por ter pouco impacto real na sociedade. Agora, o foco é ter resultado primeiro, e só depois colher os louros do marketing da boa ação.
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“Uma campanha de comunicação que mostra algo de verdade é mais sólida”, diz Oliveira. “Do contrário, a marca anuncia um posicionamento que parece bom, mas em um, dois anos, muda tudo, às vezes a verba é suspensa. Me incomodam esses programas superficiais.”
Muitas vezes, as grandes empresas não farão elas próprias as iniciativas sociais, mas apoiarão ONGs e projetos que o fazem. Por isso, outro dos objetivos do novo braço da Yunus é também ajudar esses projetos apoiados pelas corporações.
“São ONGs que recebem doações dessas empresas, e a empresa está interessada em otimizar esse dinheiro. Por isso, as empresas nos convidam para desenharmos programas financeiramente mais sustentáveis e customizados para as ONGs que apoia”, explica Oliveira.
“A gente está vivendo um momento que é um sonho. Finalmente criar impacto social significa a mesma coisa que fazer o melhor para a empresa”, completa.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”