Mariana Vasconcelos não pensa pequeno. Ela é fundadora da Agrosmart, empresa criada em 2014, na cidade de Campinas (SP), e considerada uma das pioneiras na adoção de tecnologia de ponta (internet das coisas, sensores, imagens de satélite) no campo.
Aos 27 anos, criou soluções que permitem o monitoramento das lavouras, garantindo economia no consumo de energia e água e aumentando a produtividade em até 20%.
Confira, abaixo, entrevista com a empreendedora:
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Como é crescer no Brasil do seu tempo?
Eu vi o Brasil evoluir muito em seu desenvolvimento econômico e em suas possibilidades. Quando eu era criança, não imaginava que eu poderia estudar fora, que eu poderia ter oportunidades como as que tenho hoje. Me sinto agradecida de viver em uma época de muito mais alternativas do que na de meus pais.
Cresci em uma casa de agricultores. Eu nunca viajei com meus pais no Natal, durante a minha infância. É muito difícil se afastar da lavoura, porque a natureza nunca escolhe dia para chover, para o solo ficar úmido… Eu fui acostumada a isso, a trabalhar sempre e, de certa forma, integrar o trabalho à vida.
Não são coisas separadas: a minha vida é o trabalho e o trabalho é a minha vida. Quando você ama aquilo que faz, não é um peso, não é mesmo? Eu nunca vi meu pai reclamar de trabalhar. Ele trabalha sempre, todos os dias. Acorda de madrugadinha e dorme tarde. Isso é parte do nosso dia e da nossa vida. Acho que isso foi algo importante para mim e para o meu irmão; para nós crescermos valorizando o trabalho.
Quando foi que você percebeu que teria de abrir o seu próprio caminho?
Acho que eu sempre fui assim. Sempre fui de iniciar coisas, de gerenciar projetos, de estar envolvida em tudo. Acho que sempre tive o apoio dos meus pais para isso.
Aos 16 anos, eu fui emancipada e comecei a tocar a padaria da minha família. Ao mesmo tempo, quando tive oportunidade de fazer um intercâmbio na Alemanha, eles disseram: “vai, experimenta outras coisas”.
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Pensei que iria para voltar, mas, depois que eu fui, nunca mais voltei. Vieram outras, outras e outras oportunidades e, por mais que eu estivesse próxima dos negócios da família, tive a visão de que eu poderia ter mais, de que poderia ter um negócio global…
Por que as pessoas achavam que você não conseguiria chegar até aqui?
Algumas pessoas de fora talvez pensassem que sou um pouco imatura, ou então que a vida não era tão fácil assim e que eu podia estar sendo muito sonhadora. Meu pai brincava dizendo que eu vivia em um mundo cor-de-rosa. Mas a ignorância é uma bênção.
A ingenuidade é ótima, porque você não dimensiona a dificuldade das coisas. Tenho uma análise de risco, mas sou otimista e não fico esperando para começar. Apenas começo. Se errar, continuo. Acho que isso permite chegar mais longe.
Quem são os seus mentores?
Tenho vários mentores no mercado, mas três me formaram desde que eu estava na graduação. Participei de um programa na faculdade no qual eles ligavam estudantes do último ano a profissionais já estabelecidos.
Eu ganhei um presente: um mentor chamado Eric, que havia se formado na mesma universidade que eu e trabalhava como head de qualidade na Airbus, na Alemanha. A organizadora do programa, que se chama Célia, também acabou virando minha mentora.
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Ela é que me ajuda a ser melhor, a me entender. Quando eu passei a precisar mais de habilidades executivas do que de empreendedoras, ela me introduziu outro mentor: o Roberto Funari [fundador da HEI!Ventures], que tem me ajudado com a tomada de decisões. Esses três realmente investem tempo comigo. No geral, todo mundo me ajuda. Eu pergunto muito, busco pessoas no mercado, com investidores, junto a meus próprios clientes…
Como você se recicla?
Participo de muitos ecossistemas. De empreendedorismo de impacto, sou do alumini [grupo de ex-alunos] da Singularity University, faço parte do grupo de pioneiros tecnológicos do Fórum Econômico Mundial e agora do Habitat do Bradesco…
Faço questão de estar presente na comunidade, de trocar experiências e acompanhar o que está acontecendo com o mundo. Isso traz não só aprendizado e reciclagem, mas também oportunidades comerciais. Acredito muito no conceito de ecossistema.
Como você prepara seus sucessores?
Eu falo muito sobre a minha visão, seja para o meu time, seja em eventos. Tento não só criar novas lideranças em pessoas alinhadas com essa visão dentro do meu time, mas também na comunidade. Quanto mais pessoas tentam mudar o mundo, mais a gente consegue.
Aonde você quer chegar?
Meu objetivo de curto prazo é ter a maior plataforma de agricultura digital da América Latina. Depois, ter uma presença global forte, sermos reconhecidos pelo nosso impacto. O clima está mudando, a água está escassa, a terra está escassa e a população do planeta vai aumentar quase 50% nos próximos 30 anos.
Precisamos alimentar mais e com impacto menor. As áreas com maior potencial de aumento de produção estão na África e na América Latina. Na nossa região, mais de 40% do aumento de produção virá do Brasil. Temos a chance de contribuir com o mundo todo. É esse desafio que eu quero ajudar a resolver.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”