Ontem publiquei um artigo no qual, em síntese, defendi os seguintes argumentos:
1.Os militares, não obstante serem um dos pilares de sustentação do governo Bolsonaro, não entenderam o fenômeno do Bolsonarismo, do Olavismo e do comportamento políticos nas mídias sociais;
2. O vínculo do presidente Bolsonaro com essa base eleitoral conservadora (não confundir base conservadora com base Olavista; o movimento conservador é muito mais amplo que o Olavismo e o Bolsonarismo) é o alicerce de sustentação social e político desse governo e não deve ser rompido;
3. O Olavismo possui alto poder de influência nas mídias sociais sobre o Bolsonarismo e o movimento conservador e, devido a isso, seria recomendável buscar um acordo de paz entre militares e Olavistas;
4. O Olavismo carece de organicidade e de maturidade política e consistência para evoluir da simples crítica e guerra política nas mídias sociais à proposta de políticas públicas concretas, notadamente na Educação, considerando sua presença do MEC;
5. O General Mourão, embora esteja correto em buscar melhorar sua apresentação na mídia, erra em suas declarações “esquerdistas”, já que não conquista apoio da esquerda e perde o apoio da direita.
O curso dos acontecimentos de ontem para hoje me força a escrever esse artigo para rever minha posição em relação ao item “3” acima referido.
A maneira como o professor Olavo de Carvalho e seus seguidores se conduziram nessa disputa dentro do Ministério da Educação tornou um acordo com os militares impossível. Até este momento Olavo de Carvalho vinha se dedicando a tecer críticas ácidas aos militares, com mais intensidade ao General Mourão. Exageradas no tom, injustas talvez, mas críticas políticas. No episódio do MEC, Olavo e os Olavistas ultrapassaram esse limite. Vamos aos fatos. E, para isso, baseio-me em informações da imprensa, que sempre podem me induzir a imprecisões.
A “batalha do MEC” começa com um dos discípulos do professor Olavo acusando publicamente a existência de um expurgo de Olavistas no ministério, supostamente promovido pelo Coronel Aviador Ricardo Wagner Roquetti, o qual estaria manipulado o ministro Vélez Rodrigues. Ato contínuo Olavo de Carvalho convoca todos os seus discípulos a desembarcarem do governo, notícia que ganha ampla repercussão na mídia.
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Segue-se a isso a acusação de que o coronel estaria promovendo o expurgo com a intenção de sufocar a Lava Jato da Educação, acusação essa que novamente ganha manchetes em todo o país e provoca a exoneração do coronel Roquetti.
Creio que o professor Olavo e seus eventuais seguidores que publicaram essa acusação de grande repercussão na mídia enfrentarão problemas com a Justiça pelos simples fato de que a investigação da Lava Jato do MEC passou à alçada do Ministério da Justiça e do Ministério Público e, ainda que quisesse, o coronel Roquetti nada poderia fazer para impedir seu curso. Mas, a essa altura, o dano de enormes proporções à imagem do militar já estava propagado nas mídias sociais e na imprensa nacional.
Anunciada a exoneração de Roquetti, Olavo de Carvalho vem a público em sua página do Facebook e anuncia que nenhum de seus discípulos, exceto um que havia pedido demissão do MEC por motivos pessoais, exatamente o acusador de Roquetti, havia sido exonerado ou havia seguido sua convocação de desembarque do governo. Ou seja, o próprio Olavo, admite publicamente que a alegada exoneração em massa de Olavistas do MEC promovida por Roquetti inexistia.
A está altura a rede olavista entrou em guerra aberta contra Roquetti nas mídias sociais e uma terceira acusação foi assacada contra ele: PETISTA!
E, qual a origem de tal acusação? Uma informação publicada no site do Ministério da Defesa, segundo a qual o militar, teria sido designado pelo comando da Aeronáutica para participar de um programa internacional da UNASUL de desenvolvimento conjunto de uma aeronave.
Qual é o pecado nisso? NENHUM.
A América Latina viveu seu inverno vermelho. A UNASUL não é a mesma coisa que o FORO DE SÃO PAULO. A UNASUL foi um pacto diplomático entre estados nacionais. Sob iniciativa de governos bolivarianos? Sim, sob governos bolivarianos eleitos. Infelizmente.
Constitucionalmente, presidentes eleitos são Comandantes em Chefe das Forças Armadas. Gostassem ou não do Lula e da Dilma, os militares recebiam ordens deles e tinham que obedecer sob pena de insubordinação. Ponto!
Isto quer dizer que, se em 2013, o coronel Ricardo Wagner Roquetti recebeu ordens dos seus comandantes para participar de um programa conjunto da UNASUL para desenvolvimento de uma aeronave desse pacto diplomático firmado entre estados, porque o Presidente da República Federativa do Brasil à época assim ordenou ao Comandante das Forças Armadas Brasileiras, o coronel Roquetti era obrigado a obedecer, não por ser petista, mas por ser militar. Caso contrário ele seria preso por insubordinação e expulso na Aeronáutica.
Mas, a essa altura um novo dano já se espalhava pelas redes sociais à imagem do militar, dessa vez de forma difusa e de autoria e origem mais difícil de rastrear do que aquelas anteriores.
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Dada essa situação incontornável, o coronel Roquetti foi exonerado do cargo. Ato contínuo, no mesmo Diário Oficial em que exonera o coronel o ministro demite mais cinco discípulos de Olavo. Segundo a imprensa, sob acusação de conspiração contra Vélez.
Insatisfeito com a derrota, Olavo passa a madruga atacado Vélez e os militares de forma cada vez mais ofensiva e virulenta, de maneira que, aparentemente, ou derruba o ministro, ou inviabiliza de vez a permanência de todos os seus seguidores do MEC. Como observador externo, boto minhas fichas na segunda hipótese. Por que?
Porque Olavo “ultrapassou o Rubicão”. A expressão se refere a um episódio da história romana no qual Júlio César atravessou o rio Rubicão, em 49 a.C., em perseguição a Pompeu, violando a lei e tornando inevitável o conflito armado. A frase “atravessar o Rubicão” passou a ser usada, então, para referir-se a qualquer pessoa que tome uma decisão arriscada de maneira irrevogável, sem volta. O professor parece agir de forma irrefletida e imaginar ter um poder maior do que realmente têm.
Há um princípio que vale para qualquer exército de qualquer lugar do mundo: militares não deixam seus feridos para trás.
Se os argumentos aqui listados estão corretos, o coronel aviador Ricardo Wagner Roquetti teve sua imagem pública ferida em nível nacional pelas mídias sociais e pela imprensa. Ao assim agirem, o professor Olavo e seus seguidores não atingiram apenas o coronel, mas todas as Forças Armadas em seus brios.
Some-se a isso a elevação do tom dos ataques do professor aos militares a quem atribui a derrota sofrida na batalha do MEC e chegamos à conclusão que me motivou a escrever esse artigo: a paz entre militares e Olavo de Carvalho tornou-se impossível. A guerra aberta está declarada.
Quem levará a pior?
Fonte: “EMA”, 12/03/2019