Uma curiosidade brasileira: parlamentares ex-integrantes da polícia e do Exército gostam de manter sua patente profissional na Câmara e no Senado. Deputado Coronel Tadeu, Senador Major Olimpio, Delegado Waldir são muitos no atual Congresso. Os títulos dão votos, no imaginário nacional são autoridades em cargos que inspiram respeito e até um certo temor. Muitos vieram no tsunami de Bolsonaro e formam uma espécie de bancada fardada, só superada pelos 91 membros da bancada abençoada do Pastor Feliciano e do Pastor Eurico, a segunda maior do Congresso. Depois do agronegócio, é claro.
Os 160 deputados e 38 senadores de vários partidos — um terço do Congresso, indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro, assédio sexual, estelionato, ou réus por improbidade administrativa ou enriquecimento ilícito — formam a bancada ameaçada, unida contra a Lava-Jato.
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Nova política? Se isso é a nova, o que seria a velha? Ou é a confirmação do “axioma de Ulysses” (Guimarães): “o próximo Congresso será sempre pior do que o anterior”?
Já se diz que este governo não precisa de oposição, ele mesmo e suas facções são seus maiores inimigos. A velha oposição social-democrata e de esquerda está perplexa, sem projetos nem renovação, e tem como única atividade criticar Bolsonaro, desnecessária diante das cascas de banana que ele joga para ele mesmo escorregar.
+ Merval Pereira: Para bom entendedor
A bandidagem congressual adora usar o discurso da “criminalização da política” para contrapor à real politização do crime, mas só um idiota pode ser contra a política, porque a alternativa é a força. Qualquer governo precisa de boas indicações para seus milhares de cargos, e não vai pedi-las a adversários, né? Ou inimigos, como prefere Bolsonaro. Mas a boa novidade é abrir as indicações aos parlamentares da base, mas exigindo qualificação, ficha limpa e publicidade, inclusive com quem indica se responsabilizando pelo indicado. Isso é política, uma negociação legítima e democrática, bem diferente dos toma lá dá cá indecentes que Temer patrocinou.
Fonte: “O Globo”, 29/03/2019