A esquerda, para não variar, bateu bumbo contra a comemoração, pelos militares, da ‘Revolução de 64’. Em alguns estados, o MP tentou até obstar as celebrações, ainda que restritas aos quartéis. Não vou entrar no mérito da oportunidade de tais comemorações, mas apenas perguntar: como é que fica a liberdade de expressão?
Quer dizer que a Câmara Federal pode homenagear os 100 anos da Revolução (sanguinária) Bolchevique, a Câmara Municipal de São Paulo pode prestar homenagem ao (sanguinário) ditador cubano. Getúlio Vargas, o maior e mais retrógrado ditador que o país já teve, pode ser nome de cidade, de rua e ter estátuas espalhadas pelos quatro cantos do país. O mesmo país que comemora com um feriado nacional o golpe (militar) de estado que derrubou Pedro II e fundou a república… Mas Bolsonaro e os militares não podem render homenagens a seus ídolos? Tenham paciência!
Liberdade de culto, de ideologia e principalmente de expressão deve ser para todos, por mais esdrúxulos e extemporâneos que esses cultos, ideologias e expressões nos pareçam. Restringir a liberdade alheia apenas àquilo de que gostamos ou com que concordamos, não é liberdade. Liberdade de expressão é, acima de tudo, admitir que idéias e manifestações das quais discordamos possam se externadas.
Essa inconsistência intelectual, “que aprova o que me agrada e reprova o que não agrada”, é bastante comum no meio esquerdista, e daria para escrever um livro a respeito. Demonstra que o ideário progressista não está apoiado numa doutrina de idéias consistentes, mas basicamente em subjetividades e idiossincrasias.
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Carlos Alberto Sardenberg: O golpe de 64
Demétrio Magnoli: Battisti, a confissão
Para aqueles que ainda duvidam da incoerência dos ditos progressistas, seguem abaixo 20 exemplos clássicos, que listei há alguns anos – ressalvando que esta relação não é, de forma nenhuma, exaustiva (contribuições à lista são bem vindas):
1. Esquerdistas em geral acreditam piamente no chamado “consenso científico” a respeito do aquecimento global antropogênico e das mudanças climáticas, mas se recusam a levar em conta o mesmo “consenso” sobre a salubridade dos alimentos geneticamente modificados.
2. Esquerdistas em geral são a favor da liberdade de escolha da mulher em relação ao aborto, mas querem reduzir essa mesma liberdade quanto à escolha da forma de parto e, não raro, pregam que o governo interfira no mercado para reduzir o número de cesáreas.
3. Esquerdistas em geral são intransigentes defensores dos direitos da mulher e da igualdade de gênero nos países ocidentais, mas costumam fazer vista grossa ao que acontece com elas nos países islâmicos, onde muitas vezes são tratadas como escravas, privadas dos direitos individuais mais elementares.
4. Esquerdistas em geral, baseados na lei da demanda, acreditam que aumentos de preços, via impostos, reduzem o consumo de cigarros, gorduras e açúcares, mas acham que aumentos no salário mínimo não terão qualquer conseqüência no consumo da mão de obra pouco qualificada.
5. Esquerdistas em geral favorecem a liberação da maconha e de outras drogas, em nome da liberdade individual de escolha, mas estão engajados em verdadeiras “jihads” contra o cigarro, os refrigerantes e as gorduras trans. Ou seja, a liberdade de escolha para consumir substâncias nocivas depende da substância e não do discernimento do consumidor.
6. Esquerdistas em geral consideram que as mulheres estão sub-representadas em diversas áreas da sociedade, como no Congresso Nacional e nos altos cargos de direção empresarial, e não raro defendem a implantação de políticas afirmativas (cotas) para “solucionar” o “problema”, mas não ligam a mínima que o mesmo aconteça nas prisões e nas profissões de alto risco, por exemplo, onde o número de homens é também muito maior.
7. Esquerdistas em geral são defensores intransigentes da ecologia e da vida animal, a ponto de promoverem verdadeiros linchamentos públicos sempre que alguma empresa petrolífera é responsável por vazamentos de óleo, mas fecham os olhos ao intenso massacre de pássaros promovido, por exemplo, pelas hélices geradoras de energia eólica e pelas fazendas de energia solar, não por acaso as formas de energia de seus sonhos.
8. Esquerdistas em geral consideram que os menores de 18 anos – e maiores de 16 – estão aptos a votar, formar sociedades empresariais, ter vida sexual ativa e até mesmo dirigir automóveis, mas são ao mesmo tempo absolutamente imaturos para assumir eventuais responsabilidades por seus delitos.
9. Esquerdistas em geral concordam que a carga tributária brasileira é alta e acham que ela deveria baixar, mas não pensam duas vezes na hora de apoiar qualquer nova política pública que aumente os gastos do governo.
10. Esquerdistas em geral são ferozes opositores do famigerado “consumismo desenfreado” praticado nas sociedades capitalistas, entretanto são os primeiros a propor políticas de incentivo que visem ao aumento do consumo para debelar recessões.
11. Esquerdistas em geral costumam vituperar contra os altos salários dos executivos e dos jogadores de futebol, mas se calam diante dos altíssimos salários de seus artistas prediletos, os quais, muitas vezes, ganham tanto ou mais do que aqueles.
12. Esquerdistas em geral reclamam dos altos preços dos produtos e serviços cobrados pelos gananciosos empresários, ao mesmo tempo em que defendem, sistematicamente, o protecionismo mercantil, que reduz a concorrência e, consequentemente, ajuda a manter elevados os preços.
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13. Esquerdistas em geral reclamam da corrupção, mas insistem em aumentar o poder e o dinheiro nas mãos dos governos. Privatização? Nem pensar.
14. Esquerdistas em geral defendem, com justíssima razão, os direitos dos homossexuais, ao mesmo tempo em que veneram alguns de seus maiores algozes, como Che Guevara e Fidel Castro, dois símbolos da perseguição contra os gays.
15. Esquerdistas em geral acham que a liberdade de expressão deve ser restringida quando, por exemplo, ela agride a imagem do Profeta Maomé, mas não estão nem aí para as agressões contra símbolos cristãos ou judeus.
16. Esquerdistas em geral foram às ruas e levantaram bandeiras a favor do impeachment constitucional de Collor, assim como passaram anos pedindo o impeachment de FHC, mas acusam de golpistas os que defenderam o impeachment de Dilma.
17. Esquerdistas em geral discursam contra os grandes conglomerados empresariais das economias capitalistas, mas não se cansam de apoiar políticas públicas de apoio às grandes empresas, não raro fomentadoras de monopólios e oligopólios, como as praticadas, por exemplo, pelo BNDES.
18. Esquerdistas em geral são favoráveis à quebra de patentes farmacêuticas e, em muitos casos, até mesmo sua completa extinção, mas costumam defender como intocáveis os direitos autorais de seus escritores, compositores e artistas preferidos.
19. Esquerdistas em geral, em época de eleição, costumam elevar os eleitores à condição de sábios, principalmente quando estes votam neles, mas, quando no governo, tratam esses mesmos eleitores como totalmente incapazes de tomar as decisões mais comezinhas do dia-a-dia, devendo ser tutelados até mesmo a respeito do que comer, beber, ler ou assistir.
20. Esquerdistas em geral almejam viver numa sociedade sem distinção de classes ou raças, mas não raro são os primeiros a dividi-la de acordo com a classe social ou a cor da pele.