O presidente Jair Bolsonaro (PSL) justificou sua determinação de mandar suspender o reajuste do preço do diesel com uma contradição. Disse que não repetiria as políticas de controle de preço de governos anteriores (referia-se por certo à administração de Dilma Rousseff), mas queria ver a justificativa para o reajuste de 5,7% no preço do diesel Ora, se a Petrobras tem autonomia para estabelecer sua política de preços e se ele não vai intervir no processo, não faz o menor sentido exigir que a empresa justifique o reajuste do diesel.
Pior do que isso, o presidente cometeu dois erros típicos de pessoas que não conhecem o funcionamento do sistema de preços de commodities. Bolsonaro afirmou que exigirá explicações para um reajuste superior à inflação. Sugeriu em seguida que os custos domésticos deveriam ser considerados nessa questão.
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O diesel, como subproduto do petróleo, é uma commodity comercializada nos mercados mundiais. Seus preços mudam, por isso, de acordo com duas variáveis, isto é, o preço internacional do produto e a taxa de câmbio entre o real e o dólar. Isso porque a Petrobrás adquire o petróleo por sua cotação em dólares norte-americanos e o vende com base na moeda nacional, o real. Logo, a variação doméstica do preço do diesel não pode ser comparada com a inflação no país. Pode ficar acima ou abaixo dos índices nacionais de preços.
O segundo erro é imaginar que se deve levar em conta o custo de extração de petróleo no Brasil e não os preços internacionais do produto. As commodities têm seu preço determinado pelos mercados mundiais. Por exemplo, o preço doméstico da soja, do milho, do trigo e de outras commodities não é formado por seus respectivos custos domésticos, mas por suas cotações internacionais.
É preocupante assistir ao presidente da República decidir sobre questões complexas sem consultar previamente as áreas técnicas do governo. Não à toa, Bolsonaro assustou os mercados e criou incertezas sobre os rumos da política econômica liberal defendida por seu ministro da Economia e com a qual ter-se-ia comprometido.
Fonte: “Veja”, 13/04/2019