Na lista de presentes do Dia das Mães, os produtos de beleza são os itens mais tributados pelo fisco e também os que registraram o maior aumento na intenção de compra dos filhos para a data deste ano em relação ao Dia das Mães de 2018.
Isso é o que revela o cruzamento dos resultados de duas pesquisas feitas por consultorias diferentes para avaliar o consumo na data. O Dia das Mães é a segunda ocasião mais importante de vendas para o varejo. Pelo forte apelo ao consumo, é considerada pelos comerciantes o Natal do primeiro semestre.
Perfume vilão
O produto que lidera a lista dos presentes que mais têm imposto escondido no preço é o perfume importado. Quase 80% do valor desembolsado pelo item se refere a impostos (PIS, Cofins, ICMS, IPI e outros), revela o levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) a pedido da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). O quadro não é muito diferente para o perfume nacional, com uma carga tributária de 69,13%, seguido por cosmético (55,27%) e maquiagem (51,41%).
O curioso é que uma outra pesquisa, feita pela consultoria GFK com 225 internautas para a avaliar a intenção de compras do Dia das Mães, mostra que os cosméticos, neste ano, são os produtos que mais ampliaram a intenção de compras dos filhos. Em 2018, os produtos de beleza responderam por 15% das compras na data. Neste ano, a intenção compra desse item sobe para 27%, com um avanço de 12 pontos porcentuais.
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Como no Dia das Mães do ano passado, os artigos de vestuário lideram neste ano a intenção de compra, mostra a pesquisa da GFK. Mas, neste item, o avanço de um ano para outro foi bem menor, de quatro pontos porcentuais (de 37% para 41%).
Economia em marcha lenta
Para o economista da ACSP, Marcel Solimeo, os resultados das duas pesquisas são coerentes com o quadro atual, no qual a economia continua em marcha lenta, com mais de 13 milhões de desempregados e a renda dos ocupados com baixo crescimento.
“O que interessa para o consumidor é o preço final”, diz o economista. E, neste caso, os cosméticos normalmente são itens com preços menores comparados a outros produtos de maior valor. Por isso, a maior o avanço na intenção de compra pelo produto. O que o consumidor desconhece é a elevada carga tributária embutida no preço desses itens.
“O governo vai ficar feliz ao arrecadar mais, se as intenções de comprar mais cosméticos se confirmarem”, diz Ricardo Moura, diretor da consultoria GFK e responsável pela pesquisa de intenção de compras. Na sua avaliação, parte da maior preferência do consumidor por artigos de beleza é resultado do maior investimento de publicidade das empresas do setor.
Mas ele pondera que o bolso mais apertado do consumidor também contribui para isso, já que esse itens normalmente tem valor unitário menor do que os bens duráveis, como eletrodomésticos e celulares, por exemplo.
À vista e em lojas físicas
A enquete mostra que 74% dos consumidores pretendem pagar à vista – resultado semelhante ao do ano passado –, mais da metade na loja física (55%) e 63% planejam gastar até R$ 100. “Hoje a população está bem endividada e foge para a categoria de menor valor unitário”, diz Moura.
Solimeo concorda com ele. “Os consumidores dão preferência para o pagamento à vista e para as lojas físicas porque pretendem comprar presentes de menor valor”, diz o economista. Além disso, no caso dos perfumes, “ainda não encontraram uma maneira de sentir o cheiro pela internet”, brinca o economista da ACSP.
Para este ano, as projeções apontam para um Dia das Mães morno. A ACSP espera um avanço em torno de 2% sobre o faturamento registrado no ano passado. “O movimento do varejo está mais lento do que o esperado, o consumidor está mais endividado e falta uma injeção de dinheiro extra para o varejo deslanchar.” A ACSP revisou a projeção de crescimento de vendas para o ano. Em janeiro esperava uma alta entre 3% e 3,5% e agora projeta um avanço entre 2% e 2,5%.
Volta a 2014
Já a Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta crescimento de 3,8% nas vendas deste ano. Se a estimativa se confirmar, será o terceiro ano seguido de alta. Com isso, as vendas de R$ 9,7 bilhões projetadas para a data praticamente retomam o movimento financeiro registrado em 2014 (R$ 9,6 bilhões), antes de o País mergulhar na recessão.
+ Hélio Beltrão: A retomada da desburocratização
As razões para o crescimento de vendas esperado pela CNC se baseia no bom comportamento dos preços dos itens mais consumidos na dada e da fraqueza da economia que deve inibir os reajustes de preços, apesar da alta de 7% do dólar nos últimos 12 meses.
Assim como a pesquisa da consultoria GFK, a CNC indica que os produtos de perfumaria e cosméticos devem registrar no Dia das Mães deste ano o maior aumento de vendas (11%) em relação ao ano passado. É que os preços devem ajudar. Em 12 meses até abril, a cotação dos perfumes e dos artigos de maquiagem caiu 2% e 6,3%, respectivamente, de acordo do a prévia da inflação oficial, que é o IPCA-15.
Fonte: “Estadão”