Não é incomum encontrar estudantes que decidem, durante a graduação, passar um período fora do país. O paulista Felipe Trevisan foi um deles. Quando fazia engenharia naval da USP, viu-se descontente com o curso, pegou suas economias e foi para Austrália. Lá, trabalhou como caminhoneiro em uma transportadora. Depois da experiência no setor, voltou ao Brasil com algumas ideias e fundou a Vuxx, uma startup que usa inteligência artificial para conectar empresas a motoristas de veículos urbanos de carga. Em janeiro, a empresa recebeu um aporte de US$ 1 milhão para se expandir pelo Brasil. Até o final do ano, espera manter uma média de R$ 4 milhões de faturamento por mês.
Quem vê hoje o negócio fundado por Trevisan, de 33 anos, pode até pensar que sua trajetória foi fácil. Mas não é esse o caso. Em 2007, vivendo na Austrália, o jovem teve de carregar muita carga pelo país. Antes de ser promovido a caminhoneiro, foi “chapa”, ajudando motoristas pelas cidades australianas. Quando voltou para o Brasil, entrou em uma consultoria de logística e transporte. Lá, trabalhava com ciência de dados, inteligência artificial e modelos computacionais, aplicados a análises de portos e hidrovias.
Depois que se formou em engenharia naval, conseguiu um feito e tanto: passou em um mestrado no MIT, nos Estados Unidos. Mais uma vez fora do país, identificou-se com a cultura norte-americana, mais pragmática e voltada ao mercado. Ao retornar ao Brasil, juntou-se com alguns amigos e decidiu empreender pela primeira vez. Em 2011, fundou a Genoa DS, consultoria para empresas de logística da qual viria a sair em 2017.
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Alguns anos depois, deparou-se pela primeira vez com os motoristas de VUC (Veículos Urbanos de Carga), pequenos caminhões com permissão para transportar cargas dentro das cidades, e viu uma oportunidade de negócio. O divisor de águas foi quando esteve em um centro de distribuição de uma das maiores empresas do país. No seu interior, alta tecnologia, automatização e outros tantos elementos da indústria 4.0. Nas docas, caixas jogadas, caminhões parados, motoristas irritados e papéis voando. “Por dentro, ficção científica. Por fora, uma série de terror”, diz o empresário.
Nesse momento, ele percebeu que o setor poderia ganhar (e muito) com inovação. Depois de visitar mais de 50 empresas de logística, em 2016, ele decidiu criar sua própria, a Gadle (que se tornou Vuxx em 2019), um projeto que tinha como objetivo ser “a 99” das pequenas transportadoras. Em suma, o aplicativo permite que empresas de médio porte, como restaurantes e escritórios, contratem o veículo urbano de carga por meio de um aplicativo. “Antes dos apps de táxi, era difícil pedir um carro. Pense que o mercado de transportes era muito pior que isso”, diz Trevisan.
Com o software desenvolvido por Trevisan e sua equipe, contratantes têm acesso a informações como complexidade da entrega, roteirização, agendamento e tempo médio usado pelo motorista para a finalização do trabalho. Para solicitar um serviço, basta colocar as informações do pedido, como tipo e quantidade de mercadorias, e o sistema calculará com auxílio da IA o valor dos fretes e os motoristas mais próximos disponíveis.
Como no 99, os motoristas ganham por viagem. Antes de aceitar uma corrida, ele tem acesso à complexidade do serviço, podendo aceitar ou recusar o trabalho.Trevisan diz que uma das principais vantagens é que o app dá mais planejamento aos prestadores de serviço. Todos os dados são adicionados ao sistema remotamente, sem a necessidade de retorno às empresas contratantes. “Os motoristas agora fazem duas viagens por dia. Antes, era somente uma”, afirma Trevisan.
Hoje, são 700 motoristas ativos, com cerca de 6,3 mil cadastrados na lista de espera. Em média, a Vuxx faz 300 embarques por dia, com 140 clientes ativos, entre eles Grupo Saint Gobain, a Weber Quartzolit e a Telhanorte. A empresa fica com 8% de cada transação, o que resulta hoje num faturamento mensal de R$ 4 milhões. Ao todo, a empresa conta com 45 funcionários, sendo nove no time de tecnologia e inovação.
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O negócio chamou a atenção de investidores. Em janeiro deste ano, Guilherme Weege, CEO do Grupo Malwee, e Kai Schoppen, CEO da Infracommerce, aportaram US$ 1 milhão na startup. Como hoje a Vuxx opera na Grande São Paulo, o objetivo é que o investimento ajude a empresa a se expandir pelo país. Os primeiros testes aconteceram em cidades como Bauru e Ribeirão Preto, ainda em São Paulo, mas Trevisan não descarta a possibilidade de chegar a outras capitais do país nos próximos dois anos.
Fonte: “Época Negócios”