Diferenças ideológicas e disputas por influência política empobreceram o ambiente acadêmico brasileiro no início dos anos 1980, corrompendo o compromisso da busca desapaixonada pelo conhecimento científico.
Sempre houve preocupações legítimas quanto ao melhor enfoque para a análise dos problemas brasileiros. O estudo da história econômica? A precisão abstrata dos modelos matemáticos? A perspectiva da economia política, origem dos clássicos de Adam Smith e David Ricardo? Ou a perspectiva contemporânea da política econômica, por influência de Keynes? Os economistas de boa estirpe examinam os problemas sob todos esses ângulos e sabem, apesar de tudo, que serão sempre imprecisos pela própria complexidade dos fenômenos sociais.
Mas não era essa sofisticada questão metodológica que ameaçava o ensino de economia ao final do regime militar, e sim a simples politização do ambiente acadêmico brasileiro. E, em matéria de conhecimento científico, a politização é o caminho mais curto para a burrice.
Os economistas se dividiram em precárias “escolas alternativas”, sem grande profundidade teórica, constituindo basicamente grupos articulados em busca de visibilidade na mídia e influência política.
Por fornecer quadros aos ministérios da Fazenda e do Planejamento e ao Banco Central no regime militar, a Fundação Getulio Vargas era considerada um reduto da “direita”. A Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de Campinas fabricavam, por sua vez, os quadros da “esquerda” oposicionista.
E a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro parecia o melhor dos mundos: tinha a respeitabilidade acadêmica obtida nas melhores universidades americanas, matrizes do pensamento econômico ortodoxo, mas também a simpatia de uma imprensa de “esquerda”, que, ao apoiar a redemocratização, apoiaria também por “non sequitur” qualquer heterodoxia econômica.
Foi nesse conturbado ambiente acadêmico que conheci Dionísio Dias Carneiro, professor do Departamento de Economia da PUC-RJ e um dos pilares do gradual aperfeiçoamento daquela instituição em assuntos macroeconômicos e, mais particularmente, de política monetária. Dionísio tinha o compromisso com a busca da excelência acadêmica, e seu intelecto exalava a mesma mistura de vitalidade e alegria do deus grego que lhe inspirou o nome. Dionísio argumentava sorrindo, divertia-se com seus próprios pensamentos.
Fonte: Jornal “O Globo” – 16/08/10
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