O governo pretende buscar R$ 300 milhões em emendas parlamentares para complementar o orçamento do Censo Demográfico 2020, que tem até agora apenas R$ 2 bilhões reservados para levar a pesquisa a campo, segundo apurou o Estadão/Broadcast. O volume de recursos é insuficiente para viabilizar a pesquisa, que é o maior levantamento estatístico do País e custará R$ 2,3 bilhões no ano que vem.
O Censo, que vai a todos os lares brasileiros em 2020, já foi enxugado pela falta de recursos – no formato original, ele foi orçado em R$ 3,435 bilhões, sendo R$ 3,027 bilhões necessários no ano que vem. Mesmo assim, a área econômica do governo enfrenta dificuldades para garantir todo o dinheiro necessário.
A maior trava é o teto de gastos, que vai crescer apenas 3,37% no ano que vem (variação da inflação em 12 meses até junho deste ano), enquanto despesas obrigatórias como benefícios previdenciários estão avançando num ritmo mais acelerado. Em entrevista ao Estadão/Broadcast neste mês, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, antecipou que os gastos com a Previdência vão crescer R$ 40 bilhões no Orçamento de 2020.
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Diante das dificuldades da equipe econômica, o relator da proposta orçamentária, deputado Domingos Neto (PSD-CE), afirmou que vai discutir com os parlamentares a possibilidade de destinar os R$ 300 milhões que faltam por meio de emendas. Ele disse já ter se reunido com a presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Susana Cordeiro Guerra, para tratar do assunto.
“Ainda não foi nada definido. Sabemos da importância e vamos discutir isso na comissão. É fundamental o sucesso do Censo no ano que vem”, afirmou Neto.
A estratégia de buscar recursos de emendas parlamentares para garantir a realização de pesquisas mais caras já foi usada pelo ex-presidente do IBGE Paulo Rabello de Castro. As emendas financiaram parte do Censo Agropecuário 2017, que já havia sido adiado sucessivas vezes pela falta de verba do governo federal.
Pesquisa mais enxuta
De acordo com uma fonte da área econômica, o valor de R$ 2,3 bilhões para o Orçamento do Censo 2020 já foi definido com o instituto diante da necessidade de deixar a pesquisa mais enxuta em um cenário de falta de recursos para produzir uma pesquisa tão abrangente. Desde agosto do ano passado a equipe econômica já apontava a necessidade de baratear o Censo, como revelou à época o Estadão/Broadcast.
O instituto fez cortes no questionário e espera assim uma economia com mão de obra, reduzindo o tempo gasto e aumentando o número de entrevistas feitas por cada recenseador. A contratação de profissionais temporários é o maior custo durante a realização do Censo.
No orçamento original, encaminhado pelo IBGE ao governo antes dos cortes no questionário e obtido pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação, era previsto um gasto de R$ 1,984 bilhão com contratação de funcionários temporários para a aplicação dos questionários.
Outros R$ 116,987 milhões seriam empregados na locação de veículos, além de R$ 164 milhões estimados para “ajuda locomoção”, segundo o orçamento original do IBGE. O documento previa ainda gasto de R$ 56,2 milhões em combustíveis, R$ 60,4 milhões com preparação e instalação de postos de coleta, R$ 26,3 milhões em despesas de água, luz e telefone dos postos de coleta e R$ 84 milhões em pacotes de internet e banda larga para a transmissão dos dados pelos recenseadores.
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O orçamento original ainda previa R$ 120 milhões para a campanha publicitária do Censo, realizada para conscientizar a população sobre a necessidade de receber os recenseadores em seus lares.
O IBGE ainda trabalha no detalhamento e na adequação dos custos ao novo Orçamento da pesquisa. A realização do Censo Experimental em Poços de Caldas (MG) será fundamental para apontar se a economia esperada com a redução do tempo de aplicação de questionários será eficaz em encaixar o custo da pesquisa no orçamento apontado pela equipe econômica. A simulação – que testará todos os elementos envolvidos na operação censitária – está prevista para ir a campo em setembro deste ano.
Fonte: “Estadão”