John Locke (1632-1704) é frequentemente apontado como o primeiro autor liberal e Edmund Burke (1729-1797) como o fundador do conservadorismo moderno. As palavras “liberal” e “conservador”, no entanto, não aparecem em seus escritos. Em Burke, é verdade, consta o termo “conservação”, como na famosa passagem onde ele afirma que “Um Estado sem os meios de alguma mudança está sem os meios de sua conservação”. No contexto, porém, a palavra não designa uma atitude ou concepção política, como nos dias de hoje. De onde, então, vieram os dois termos?
Os primeiros empregos da palavra “liberal” em sentido político-econômico datam de meados do século XVIII. Em A Riqueza das Nações, por exemplo, está presente a expressão “sistema liberal (liberal system) de livre exportação e livre importação”. O termo se afirma, contudo, somente com a atuação marcante dos políticos espanhóis do início do século seguinte, conhecidos como Libérales, cujo esforço contribuiu para a promulgação da Constituição de 1812 (Constituição de Cádiz, ou la Pepa), garantidora dos direitos individuais, a noção nuclear do liberalismo. Seu artigo 4º, por exemplo, estabelecia que “A Nação está obrigada a conservar e proteger por leis sábias e justas a liberdade civil, a propriedade e os demais direitos legítimos de todos os indivíduos que a compõem”.
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O termo “conservador”, por sua vez, parece ter surgido pela pena de François-René de Chateaubriand, cujo periódico Le Conservateur, iniciado em 1818, exerceu forte influência durante a Restauração da monarquia francesa, fazendo com que a palavra, usada para designar os opositores das mudanças revolucionárias, ganhasse espaço no discurso político da época e se difundisse por outros países. Em língua inglesa, o termo aparece na edição de janeiro de 1830 da Quarterly Review, em um texto intitulado Internal Policy (de autoria de John Wilson Croker), no qual se afirma que o Partido Tory, composto pela “parte mais inteligente e respeitável da população deste país”, “poderia ser com mais propriedade chamado de Partido Conservador”. E, dois anos mais tarde, também na Edinburgh Review, em artigo que destaca o uso frequente da palavra “conservador” como um “novo jargão” político. A força da nova palavra foi tão grande que, em 1834, quando o Partido Tory, apoiador da monarquia e do sistema aristocrático inglês, foi refundado na Inglaterra, ele passou a ser chamado, e o é até hoje, de “Partido Conservador”.