A transformação digital chegou a apenas 30% das fábricas – mas seu potencial é imenso. O movimento de adotar diversas tecnologias em prol da produtividade pode criar um valor adicional de 3,7 trilhões de dólares até 2025 para o setor mundialmente, nos cálculos da consultoria McKinsey.
Essa movimento de indústria tradicional para a “indústria 4.0” está sendo acelerado por uma startup aqui no Brasil: a GoEPIK.
Com mais de 60 clientes na carteira, o empreendimento usa tecnologias como comandos de voz, inteligência artificial, internet das coisas (sensores instalados em equipamentos e conectados a um dispositivo inteligente), machine learning (aprendizado de máquina), QR Codes, realidade aumentada, realidade virtual e visão computacional (reconhecimento de padrões por meio de uma câmera) para transformar o setor.
No último ano, a GoEPIK quadruplicou de tamanho. Para 2020, projeta crescer sete vezes. A ambição foi aumentada após uma missão para a cidade de Xangai, na China. Pelo programa StartOut Brasil, a GoEPIK validou seu negócio no país e ensaia uma expansão para lá.
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Ideia de negócio: facilitar a Indústria 4.0
Formado em Sistemas de Informação, Wellington Moscon já havia empreendido antes da GoEPIK. Ele e a esposa, Priscila Santos, fundaram a startup de treinamentos imersivos Eruga Educação. O negócio fazia uso de tecnologias como gamificação, realidade aumentada e realidade virtual para ter capacitações mais envolventes.
A ideia atraiu o interesse da gigante automotiva Renault, que queria ver como aplicar a realidade aumentada na sua indústria. Da visita à fábrica nasceu uma nova ideia de negócio: levar tecnologias como inteligência artificial, internet das coisas, machine learning (aprendizado de máquina), realidade aumentada e realidade virtual para o chão de fábrica.
Priscila ficou como presidente da Eruga Educação e Moscon partiu para um novo empreendimento com os sócios e desenvolvedores Lucas Straub e Ramon Ferreira: a GoEPIK.
O primeiro passo foi entender mais sobre o fenômeno da Indústria 4.0, ou a transformação digital do setor. Em uma aceleração na Startup Farm, no final de 2016, os empreendedores conversaram com mais de 40 clientes de manufatura e validaram sua tese.
Eram empresas multinacionais, que produziam desde automóveis até bebidas e conviviam com muitos papéis e poucos sistemas que garantissem se as atividades estavam sendo cumpridas no chão de fábrica. “Vimos quanto as tecnologias poderiam melhorar e dar mais visibilidade às etapas de produção. Também verificamos se tais benefícios de fato fariam as empresas adquirirem a solução”, diz Moscon.
No começo de 2017, passaram para a aceleração da Oxigênio (feita então pela Porto Seguro e pela aceleradora americana Plug and Play) como forma de amadurecer o produto e finalmente lançar a GoEPIK. Além dos investimentos das acelerações, o primeiro financiamento ao negócio veio das primeiras empresas que fecharam projetos com a startup. Depois, a GoEPIK obteve um investimento semente de R$ 3 milhões do fundo Primatec.
A GoEPIK vê quais tecnologias podem ajudar a melhorar o dia a dia de certa indústria e realiza uma apresentação dos benefícios – por exemplo, mostra o benefício da internet das coisas para a manutenção de equipamentos.
Ou seja, a startup cria a demanda como forma de captar clientes. A experiência adquirida trabalhando ou vendendo para corporações na área de tecnologia ajudou os empreendedores no começo.
“Mostramos como inovações já estavam sendo aplicadas em outros segmentos. Depois que conquistamos os primeiros clientes, crescemos mais pelas indicações”, diz Moscon. “A mentalidade mudou muito e hoje existe uma procura ativa da indústria, até porque o conceito de Indústria 4.0 já está na mente dos gestores. Se eles não pararam para pensar nisso até agora, já perderam tempo.”
Como funciona a GoEPIK?
Cada projeto é composto por uma plataforma de Indústria 4.0, na qual são plugadas diversas tecnologias para aprendizado em tempo real de trabalho — ou learning in the flow of work. “A digitalização elimina os papéis e guia melhor o funcionário, fazendo ele aprender enquanto executa o processo”, afirma Moscon.
Na fabricante de bebidas Ambev, por exemplo, um operador recebe uma instrução em tempo real pelo smartphone ou pelo óculos de realidade virtual sobre como apertar uma válvula ou verificar a pressão de um equipamento. O empregado pode marcar seu passo a passo ou ver o procedimento por meio de realidade aumentada (pense em algo como os pokémons que surgem no jogo para celular Pokémon Go).
Com as checagens, garante-se que o funcionário cumprirá os passos corretamente e com mais agilidade. Em média, a GoEPIK promove uma redução de 45% no tempo gasto em processos no chão de fábrica. Antigamente, o funcionário passava por um treinamento presencial e encontrava desafios quando a linha de produção não se comportava como o indicado nos manuais.
A GoEPIK atende mais de 60 clientes. Além da Ambev, outros nomes são Heineken (bebidas), Mondelēz (alimentos), Natura (cosméticos), Renault (automóveis) e Saint-Gobain (construção). O modelo de monetização é o de cobrança de mensalidade do software como um serviço (na sigla original, SaaS). O valor de entrada é de R$ 1.190 por centro de custo.
Em 2019, a GoEPIK cresceu quatro vezes. Neste ano, espera crescer sete vezes. Para isso, desenvolverá mais plataformas prontas e inspiradas em soluções conhecidas – por exemplo, o cliente pode contratar o modelo “Uber Light” se quiser um sistema de logística parecido ao do aplicativo de mobilidade urbana. A startup também negocia a captação de um aporte série A.
StartOut Brasil: ida para a China
A GoEPIK foi uma das startups participantes da missão para a China do StartOut Brasil, programa de internacionalização promovido por ApexBrasil, Sebrae, Anprotec, Ministério da Economia e Ministério das Relações Exteriores.
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Ao todo, 15 startups participaram de competições de apresentações curtas (ou pitches) nas cidades chinesas de Xangai e Hangzhou.
No Pudong Software Park, a GoEPIK venceu o dia de apresentações (ou Demoday) em Xangai. “Decidimos participar da missão porque uma das nossas missões é sermos globais. Vínhamos estudando a internacionalização há um ano e achamos que era o momento de aceitar o desafio e ver se havia algo parecido na China”, diz Moscon.
Além da validação garantida pela vitória no Demoday, o cofundador também conta que a viagem permitiu entender os costumes chineses e preparar uma futura expansão para a China.
“Voltamos com muitas descobertas. Por exemplo, é preciso ter sua missão alinhada às estratégias do governo, como é o caso da inteligência artificial. Também é bom ter uma parte da equipe no país. Apenas um representante não serve para negociar e fechar acordos”, afirma Moscon.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”