Um grande esforço está em curso, entre pesquisadores de boa parte do mundo, em busca de vacinas e de uma melhor compreensão do comportamento do novo coronavírus.
Laboratórios de inúmeros centros na Europa, na Ásia e no continente americano têm se associado, procurando avançar nas investigações, algumas delas já em curso desde o advento do H5N1, para construir uma solução para a Covid-19.
Na verdade, parece ser nas crises que a humanidade mais aprende. Aparentemente, em situações de estabilidade, não somos instados a sair da zona de conforto e ousamos menos.
As crises nos instabilizam, trazem sofrimento, mas desafiam o cérebro humano a criar saídas. E, cada vez mais, o processo criativo se dá em condições de colaboração, com equipes inteiras debruçadas sobre as causas dos problemas vividos e no conjunto de soluções que, combinadas, constituem a resposta à crise.
Ao ler sobre os cientistas que, no início do século 20, procuraram descobrir os patógenos, as vacinas e os tratamentos para a gripe de 1918, ocorreu-me que a história contará o esforços e os resultados deste grande empreendimento humano que vivemos hoje, na busca de métodos de prevenção e de cura da Covid-19.
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Registrarão o nome de pesquisadores que lograram obter avanços, mas provavelmente deixarão no anonimato aqueles que, embora tenham investigado muito em seus laboratórios, contribuíram apenas com a identificação de hipóteses a serem descartadas.
A ciência é assim, aprende-se tanto com os acertos quanto com os erros. A pesquisa que permitiu o descarte de uma hipótese é extremamente útil e evita novos esforços infrutíferos. Nesse contexto, faz muito sentido ensinar história da ciência para crianças e jovens. Não é suficiente trabalhar com os alunos os conceitos científicos ou até mesmo a aplicação desses conceitos em problemas da realidade.
A história registra a maravilhosa e terrível aventura do ser humano na face da Terra, com suas crueldades, mas também descobertas, construções e conquistas. Ensinar a disciplina como mera sucessão de eventos ou de condições econômicas, sem identificar os principais atores, empobrece a percepção de quem aprende.
Isso também se passa com a ciência: o que sabemos hoje resultou do esforço de pessoas como nós, que pesquisaram muito e trouxeram contribuições para a nossa compreensão dos fenômenos naturais e de sua interação com as sociedades.
Relatar a vida e os dilemas dos cientistas certamente irá inspirar os estudantes, ajudá-los a entender o seu tempo e a desenvolver uma mente investigativa, que é a base de todas as ciências.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 3/7/2020