Há quatro meses, o Brasil está paralisado economicamente, por conta da pandemia do novo Coronavírus. A Covid-19 trouxe consequências drásticas em todo o mundo, mas, no país, houve uma combinação ainda mais explosiva. Por aqui, o que se viu nestes últimos quatro meses foi uma fórmula perigosa: não se respeitou o isolamento social o suficiente para conter a curva do número de casos e mortes; e, ao mesmo tempo, o “lockdown parcial” (sim, pode acreditar: este termo chegou a ser usado por gestores públicos!) foi o suficiente para causar um colapso econômico no país. Muita gente teve que ir trabalhar, pontos de aglomeração, como ônibus e metrô, ficaram cheios… E, enquanto isso, as medidas de prevenção atingiram principalmente o comércio, fechando lojas de rua e shoppings, levaram a demanda à quase zero e geraram dificuldade na logística.
Os números são dramáticos em todos os sentidos. Se, por um lado, ultrapassamos os 2,6 milhões de casos e choramos as mortes de 91 mil brasileiros; por outro, especialistas apontam uma queda na atividade econômica da ordem de 6,48%. Agora, a principal questão a ser levantada é como se recuperar da recessão e quais as medidas necessárias para que o país possa sair desse turbilhão. Afinal, qual caminho é necessário percorrer?
E os dados mostram que, se a recuperação econômica do Brasil já era lenta no período anterior à pandemia, agora a travessia será ainda mais devagar e com percalços no trajeto. Corremos o sério risco de sermos um dos países que mais vão sofrer o impacto em todo o mundo. Estudo feito pelo pesquisador Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), aponta que o Brasil vai ficar em 171º lugar entre 192 países. Na América Latina, para se ter uma ideia, apenas a Venezuela terá um resultado pior do que o nosso. Em entrevista ao UOL, Balassiano destacou que a crise sanitária mesclada à crise política torna a situação sem paralelo. “O otimismo do começo do ano ficou para trás, e os principais agentes preveem uma queda forte para a economia nacional”, disse.
Os estudos para a chegada da vacina
Além do trágico cenário visto até agora, as perspectivas para a retomada também são bem ruins. Isso porque voltar ao mundo como conhecíamos anteriormente vai demorar bastante. Por mais que vários Estados e municípios estejam realizando uma abertura gradual e a tendência seja de queda do número de casos ou estabilidade na maior parte do país, tranquilidade e normalidade, mesmo, só poderão acontecer quando a vacina estiver disponível.
Este é um consenso em todo o mundo: a professora de Harvard e recém-nomeada economista-chefe do Banco Mundial, Carmen Reinhart, afirmou que “não teremos algo parecido com a normalização total a menos que tenhamos uma vacina e, muito importante, se ela estiver acessível à população global em larga escala”. A mesma tese foi corroborada por Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve – o Banco Central norte-americano. “Supondo que não haja uma segunda onda do Coronavírus, você verá a economia se recuperar de forma constante até o segundo semestre deste ano. Para que a economia se recupere completamente, as pessoas terão que estar totalmente confiantes e talvez tenham que aguardar a chegada de uma vacina”, disse.
E como estão os estudos para a tão sonhada imunização ao Brasil? Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou o avanço em um acordo de cooperação entre o país e o Reino Unido para a produção das vacinas contra a Covid-19 e a transferência tecnológica. O governo federal aceitou a proposta da embaixada britânica e do laboratório AstraZeneca, que garante a cooperação e o acesso do país à vacina, quando for disponibilizada. De acordo com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, essa iniciativa dá autonomia na produção para o Brasil. E a previsão permite criar uma expectativa positiva: a ideia é que as primeiras doses estejam disponibilizadas entre dezembro e janeiro de 2021.
O acordo funciona da seguinte forma: por conta da urgência da situação, o Brasil vai comprar as primeiras 30 milhões de doses mesmo se a eficácia não for comprovada. Em uma segunda etapa, comprovada a eficácia, essa compra será ampliada.
Outra parceria foi feita em São Paulo. Um acordo entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac Live Science prevê a produção e os testes da “CoronaVac”. De acordo com o Governo de São Paulo, o estudo está na fase final dos ensaios clínicos “e é um dos mais promissores em todo o mundo”. O acordo foi feito em junho. Desde então, já houve duas fases realizadas: a primeira, com 144 testes preliminares realizados na China; a segunda, também na China, com 600 voluntários. Agora, estão sendo testados 9 mil voluntários (profissionais de saúde que trabalharam no atendimento a pacientes com covid), com o fornecimento de doses até junho de 2021, caso a imunização se prove eficaz.
Caso a vacina seja aprovada, haverá um acordo de transferência de tecnologia para a produção em escala industrial e fornecimento gratuito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O Butantan receberá 60 milhões de doses e disponibilizará à população caso seja comprovada a eficácia. De acordo com o governo paulista, essa vacina utiliza a tecnologia de outros métodos bem sucedidos, como as do sarampo e da poliomielite, por exemplo.
Testagem em massa
Outro ponto importante para que os governos tenham uma visão mais completa sobre a real situação do Coronavírus, aumentando a segurança e alinhando estratégias de prevenção, é com relação à testagem em massa. Algumas medidas auxiliaram nesta direção.
Além disso, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabeleceu a obrigatoriedade para os planos de saúde cobrirem a realização de testes sorológicos para a detecção do novo Coronavírus para pacientes que tiverem apresentado sintomas de síndrome gripal aguda, como tosse, coriza, dor de garganta e sensação de febre, ou tenham sido diagnosticados com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), sem custos extras mediante pedido médico. A realização dos testes é fundamental para que a vida econômica seja retomada.
O governo de São Paulo criou protocolos para que o setor privado pudesse aderir ao incremento de testes do Coronavírus, medida que pretende orientar os gestores sobre a prevenção e o monitoramento das condições de saúde dos funcionários, colaboradores e fornecedores, além da segurança dos clientes.
Pacotes econômicos
No Brasil, os maiores municípios estão fazendo protocolos para abrir a economia de forma gradual. No Rio de Janeiro, o Governo do Estado deu recomendações, mas deixou as medidas à cargo das Prefeituras. A capital está na quarta fase de reabertura. Nesta etapa, a capacidade de lojas de shopping e estacionamentos passou de 1/3 para 2/3, bem como o comércio de rua, que agora pode abrir a partir de 9h nos sábados. Os pontos turísticos também podem funcionar com 1/3 da capacidade e distanciamento de 4 m² por pessoa. Universidades estão liberadas para atividades práticas de saúde, como medicina, fisioterapia e enfermagem. Ainda não há previsão, no entanto, para a volta às aulas e a presença de público em estádios de futebol.
Em São Paulo, a retomada começou em junho. O Estado foi dividido em 17 Departamentos Regionais de Saúde, categorizados em cinco níveis de abertura econômica. A autorização para a flexibilização das atividades acontece de acordo com a fase em que a área se encontra, tendo como regras a média da taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivas para pacientes com Coronavírus, número de novas internações e de mortes. Há autonomia para os municípios aumentarem ou diminuírem as restrições de acordo com os limites estabelecidos pelo Estado, desde que sejam apresentados pré-requisitos embasados em definições técnicas e científicas.
Passada a fase da reabertura, governos de todo o mundo estão preparando medidas para estimular a recuperação econômica. Entre as que estão sendo estudadas, figuram a redução do custo de contratações e o desenvolvimento de setores que demandam muita mão de obra, ações que podem gerar postos de trabalho de forma imediata, reduzindo a queda das demissões e dando fôlego para que o Brasil possa se recuperar. Mas é bom ficar de olho: isso precisa ser feito de forma transparente e pactuada com a sociedade.
💡 Dica do Imil!
É importante ter em mente: a pandemia do novo Coronavírus ainda não acabou! Por mais que diversas atividades estejam sendo normalizadas, siga as recomendações da Organização Mundial da Saúde: lave bem as mãos, utilize o álcool em gel, use máscara e mantenha o distanciamento social recomendado. Evitar aglomerações é fundamental neste momento. E esse cuidado vale também para quem é empreendedor: disponibilizando os materiais necessários para a proteção e mantendo as medidas restritivas, vamos evitar uma segunda onda da Covid-19.
Com relação aos gastos públicos, vale reforçar a dica que já demos nas outras edições: todas as Prefeituras e Governos estaduais possuem Portais da Transparência. Nele, estão disponibilizados as receitas e as despesas. Acessando a lista de empenhos, é possível conferir quanto e como cada município gastou. Faça a sua parte!