Quem acompanha o mercado de grãos sabe que a escassez de arroz já era prevista desde outubro do ano passado. Devido a problemas climáticos pelo mundo e à redução da área plantada no RS, os preços entraram em alta desde abril, pelo menos. A subida do dólar também ajudou, já que os produtores estão dando prioridade à exportação.
Aliás, por falar de taxa de câmbio, não é por acaso que o país obteve o maior superávit comercial para o mês de agosto em muitos anos. Em economia, a lei da escassez está sempre presente, gostemos dela ou não. Logo, todo produto exportado, seja ele arroz, soja ou qualquer outro, é um produto a menos que deixará de ser ofertado no mercado interno.
Com o tempo, a tendência é o aumento da área plantada e consequentemente da oferta. É assim que o mercado se ajusta; mas para isso é necessário que os preços sejam livres. São eles que fornecem incentivos aos produtores e consumidores.
Como escrevi alhures, “podemos dizer que, grosso modo, em economia, o preço é um conceito que pode ser traduzido como o ‘termômetro da escassez’: é o mecanismo que transmite aos agentes do mercado, tanto do lado da oferta quanto da demanda, informações sobre o nível de escassez de determinada mercadoria ou serviço.
Em um mercado sem intervenções, tabelamentos, estabelecimentos de pisos ou tetos, a variação do preço de um produto informa as condições de oferta e demanda do mesmo.
Mais ainda: preços possuem um papel fundamental em uma economia de mercado. O sistema de preços, quando deixado a funcionar livremente, é um engenhoso método de comunicação e coordenação.
Os preços livremente formados nos informam não apenas sobre a abundância ou escassez de cada bem ou serviço específico, como também coordenam como cada bem e serviço será usado em um dado processo de produção.
Para os consumidores, um aumento nos preços de um produto sugere que este se tornou mais escasso. Consequentemente, os consumidores irão reduzir o consumo deste produto em decorrência deste aumento do preço e procurar por substitutos mais baratos.
Para os produtores, os preços maiores deste produto informam que pode haver maiores oportunidades de lucro para entrar neste mercado específico. Estes novos concorrentes irão ou produzir mais deste produto, aumentando sua oferta, ou produzir bens alternativos para concorrer com o produto em questão.
Este é o processo de descoberta que define a essência do mercado – e é este processo, quando deixado a ocorrer livremente, que garante que os preços estejam sempre em níveis que tendam a equilibrar oferta e demanda.
Por isso, assim como quebrar o termômetro não resolverá a febre, impedir que um determinado preço flutue livremente só provocará excedentes ou escassez.”
Portanto, o que o governo pode fazer de pior, neste momento, é tentar influenciar os preços de quaisquer produtos por ventura escassos, ainda que seja com pedidos formais de colaboração aos comerciantes. Afinal, um “pedido” do presidente, ainda que não tenha o peso da lei, tem um peso muito grande.
Fonte: “Instituto Liberal”, 09/9/2020
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